Não me mande rir baixo


Por: Alex Valério

Tem dias que a gente parece apenas estar vivo. A vida parece seguir seu ritmo normal: seu coração bombeia o sangue que irá passear pelo seu corpo e você se mantém de pé por conta disso e das milhões sinapses que seu cérebro faz para te manter de pé. Algumas vezes parece que nada faz muito sentido, então nós seguimos em frente, sem saber muito bem para onde e nem o porquê, nós apenas vamos indo.

A vida não deveria ser algo complicado ou difícil de acontecer. Poderia ser simples e leve. Algo como aquelas paisagens de praia que nós vemos como plano de fundo de celulares e computadores. Às vezes nos julgamos livres, mas a realidade é que somos reféns de um sistema injusto, capitalista e cruel. Lutamos pelo direito de ir e vir, mas não brigamos pela liberdade de ser aquilo que gostaríamos de ser, nós simplesmente aceitamos aquilo que nos disseram que era certo. Infelizmente nos restaram poucos prazeres nesta vida. Sim, poucos! Considerando que nós temos de trabalhar incansavelmente para “ser alguém com chances de futuro”, quase não sobra espaço para outras coisas. Muitas universidades e empresas se assemelham a campos de concentração, porém praticam o tipo de tortura que é permitida pela constituição.

A internet nos aproxima de tudo, nos deixa próximo de todos, mas ainda assim nos sentimos vazios, estamos sempre em busca de algo que não sabemos o que é e, assustadoramente, estamos adoecendo cada vez mais. Dia destes, me pediram para rir mais baixo. O pedido foi tão chocante aos meus ouvidos que eu estou perplexo até agora. O mais espantador não foi isso, mas o quanto as pessoas vem me pedindo isso há tanto tempo. Nunca assim, tão diretamente, mas tenho tantos amigos que tapam a minha boca ou que ficam envergonhados quando outras pessoas começam a nos encarar, por conta do volume da minha risada. É como se o mundo, de algum jeito, viesse me pedindo há algum tempo: não ria assim, você chama atenção demais e isso não é bom.

Rir é um dos poucos prazeres simples e honestos que me restaram. É algo que simplesmente acontece e que, na maior parte das vezes, faz eu não me importar com o que os outros vão pensar. Fico triste ao constatar que muitas vezes me esforcei para me tornar uma pessoa mais séria, lamento todas as minhas tentativas de educar o meu riso, de segurar o barulho de porco que sai das minhas narinas quando algo é muito engraçado.

Não me orgulho da quantidade de vezes em que tapei a boca para abafar o som da minha gargalhada. Eu quero rir, quero falar, quero viver. Quero arrancar as mordaças que me calam a boca, tirar as vendas que me tapam os olhos. Quero poder olhar para mim livremente. Quero poder gostar de mim e aceitar todas as minhas partes que são diferentes das partes das outras pessoas. Ser diferente não me faz pior ou melhor que alguém. Quero aprender a aceitar que posso gostar de mim. E, se eu posso, talvez outras pessoas também poderão gostar de mim. Quero ser eu, sem deixar de considerar os outros, mas sem me deixar controlar por estes outros. Vou fazer um trato com a minha loucura: o do não-trato!

Não me mande não rir baixo, me mande ser feliz.

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Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Alex Valério é Especialista em Terapia Comportamental pela Universidade de São Paulo (USP). Psicólogo pela Universidade Nove de Julho. É redator no Portal Comporte-se, colunista no Psicologia Acessível e, também, escreve para o próprio blog. Realiza atendimento clínico para adolescentes, adultos e casais. Está localizado na Avenida Paulista, em São Paulo. Possui interesse em poesia, literatura, crônica, cinema, música e tecnologia. 
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A vida pode até ser leve, mas você precisará se livrar daquilo que é pesado demais para carregar


Por: Alex Valério

Uma parte do sofrimento que você vive é fruto da sua própria maneira de viver. Ao longo da vida você deve ter se decepcionado algumas vezes, se magoado, experimentado alguns momentos de felicidade, de paz e de amizade. Possivelmente, em alguma fase da infância/adolescência você deve ter sofrido gozações dos colegas e, talvez, parte destas coisas que te disseram, lhe acompanhe até os dias atuais.

Vamos imaginar que nós carregamos nas costas uma espécie de caçamba imaginária (tipo aquelas de caminhão). Cada acontecimento da sua vida até hoje, foi sendo jogado ali atrás e só você pode decidir o que fazer com estas coisas. Por exemplo, você pode curti-las por um tempo e depois se desfazer delas; pode armazena-las cuidadosamente, garantindo que esteja ali toda vez que desejar; pode esconder algumas das coisas nos cantos ou embaixo de outras coisas, para que ninguém possa ver (nem mesmo você). E por aí vai… As possibilidades do que fazer com aquilo que você carrega são infinitas. Mas, agora, faça uma breve reflexão: como anda sua caçamba? Coisas de mais? Coisas de menos?

Normalmente nós carregamos muitas coisas. Cada um de nós lida com a própria bagunça de um jeito diferente. Há aquela galera mais desapegada, que consegue se desprender com facilidade de muitas coisas, mas também, há aqueles que são apegados demais, que não retiram nada do lugar e que, às vezes, optam por esconder algumas coisas no cantinho, para que ninguém mais veja. Clarice Lispector já dizia que até cortar os nossos próprios defeitos pode ser perigoso, pois nós não sabemos qual deles sustenta aquilo que somos. Isso só nos mostra que, de algum jeito, nós sabemos que é arriscado retirar as coisas do seu devido lugar e, diante disso, tentamos preservar aquilo que temos. É natural que haja dificuldades, nós passamos uma vida organizando o “nosso mundinho”; qualquer mudança nos coloca a mercê de pôr tudo a perder (a vulnerabilidade é algo assustador).

Mesmo quando as coisas não estão boas, nós insistimos em manter tudo como está. De alguma maneira, é uma espécie de passar por algo “ruim”, mas que é conhecido e, portanto, suportável. Às vezes nós optamos por aceitar que não temos sorte e que as coisas apenas são como são. Tudo isso carrega um grau de comodidade e que, apesar de desconfortável, é seguro. Às vezes criamos tantos problemas e inventamos tantas desculpas para justificar algo para nós mesmos, que acabamos tornando as coisas cada vez mais megalomaníacas e complicadas. Viver não é fácil, mas você também não precisa agir como se estivesse desvendando um cubo mágico. Arrisque. Tire algumas coisas do lugar, livre-se de outras. Aliás, essa última parte é tão importante, que vou até repetir: LIVRE-SE DE TUDO AQUILO QUE NÃO TE SERVE MAIS.

Dentre as muitas coisas que carregamos conosco, parte delas, talvez, não se aplique mais aos dias de hoje. Não quero dizer com isso que você deva esquecer, – até porque essa nem sempre é uma possibilidade possível – mas que você deve fazer uma leitura atual da sua vida, olhando para a realidade. Você pode ser o que deseja, seja lá que coisa for essa.
Precisamos nos movimentar, para que as coisas possam acontecer e seguir na direção daquilo que queremos. Nenhum sonho irá se concretizar sem que você se arrisque, sem que você saia da sua zona de conforto. Se algo não der certo, acredite que isso faz parte do processo natural da vida. Lembre-se: você não aprendeu a andar na primeira vez que ficou de pé. Faça uma avaliação das coisas que você carrega consigo. Encha-se de coragem e livre-se daquilo que não precisa fazer parte de você. Libere espaço para que seja possível andar “mais leve” e, também, para permitir que outras tantas coisas possam ser adicionadas.

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Alex Valério
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Alex Valério é Especialista em Terapia Comportamental pela Universidade de São Paulo (USP). Psicólogo pela Universidade Nove de Julho. É redator no Portal Comporte-se, colunista no Psicologia Acessível e, também, escreve para o próprio blog. Realiza atendimento clínico para adolescentes, adultos e casais. Está localizado na Avenida Paulista, em São Paulo. Possui interesse em poesia, literatura, crônica, cinema, música e tecnologia. 
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Paradoxos complexos demais para serem lidos rapidamente


Os dias são tão confusos e complexos que, de algum jeito, às vezes é difícil dar conta de tudo o que temos – ou deveríamos ter – de fazer (deveríamos?). Socialmente somos cobrados por sentir amor próprio, mas estamos inseridos numa sociedade que, cada vez mais, nos lança em abismos existenciais e dificulta muito a nossa forma de viver.
É impressionante como a globalização foi capaz de nos permitir acessar informações de maneira rápida e instantânea e como isso superficializou um pouco as coisas que, antigamente, eram possíveis por conta da simplicidade com que aconteciam. É claro que os dias atuais são repletos de progressos, mas ao mesmo tempo, também é vazio e superficial.

Há quem diga que o celular é o novo cigarro desta geração. Alguns contam que o Instagram é a rede social que mais contribui com a depressão. Algumas pesquisas apontam que as interações no Facebook, apesar de simularem a vida real, empobrecem as habilidades sociais, prejudicando as relações que acontecem face a face. Se o avanço tecnológico é benéfico para nossas vidas, por que é que ele tem contribuído com o nosso adoecimento?

Somos incentivados a ser o que somos, mas ao mesmo tempo, quando agimos dizendo ou fazendo aquilo que gostaríamos, as pessoas nos repreendem, deixam de falar conosco ou dizem que o nosso comportamento não é socialmente aceito.
A música nos ensinou que “é impossível ser feliz sozinho” e passamos a buscar enlouquecidamente alguém que nos complete. Mas porque não acreditamos na possibilidade de não precisar de outra pessoa para estar completo e feliz?
Na atual geração, apps de relacionamento, como o Tinder por exemplo, são utilizados por aqueles que querem encontrar alguém para partilhar parte dos dias, mas ao mesmo tempo, a realidade é que a cama é normalmente o que acaba sendo compartilhado, por uma noite – às vezes nem isso –, é claro.
Na época em que o amor romântico é supervalorizado e todo mundo espera encontrar o “mozão”, por que é tão difícil encontrar alguém, se há tanta gente querendo ser o alguém de alguém?
Tentamos com todas as nossas forças viver sem sofrimento, mas o esforço que fazemos para não sentir algo é tremendamente angustiante e muito sofrido. Portanto, se é assim, tentar não sofrer seria apenas mais uma forma de sofrimento?
Ser feliz o tempo todo é irreal. Sentimos medo, raiva, tristeza, inveja, angústia e uma porção de tantos outros sentimentos. Tudo aquilo que sentimos é completamente compreensível quando consideramos que somos humanos. Aliás, se somos humanos, qual a razão de viver como uma máquina que não questiona, não pensa, não sente e que segue agindo da maneira como esperam que ela aja?

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Aquele sobre o que queremos e o final de ano


Por: Alex Valério

Esse final de semana peguei um Uber e o motorista era um senhorzinho muito simpático. Não demorou para que ele começasse a puxar papo comigo e, conversa vai, conversa vem, ele perguntou o que eu esperava para esse ano. Sem hesitar, eu respondi algo honesto, mas pouco pessoal: “Espero que as coisas melhorem, de maneira geral, aqui para o nosso País! 2017 foi um ano difícil, não é?” Depois, seguimos falando um pouco sobre a crise, a corrupção e coisas desse tipo.

Curiosamente, fiquei pensando um pouco na impessoalidade da minha resposta e no quanto é comum agirmos assim. Acostumamos a preservar aquilo que queremos, por que dificilmente as outras pessoas compreenderão a importância daquilo que é nosso. É natural, claro, que façamos isso com desconhecidos, mas não é só com eles que fazemos, também acontece com os nossos conhecidos.

Você, por exemplo, já deixou de dizer para alguém alguma coisa que queria muito, com receio do que a outra pessoa vai pensar ou por achar bobo demais aquilo que você tem a dizer? Aposto que todos já fizemos isso e, infelizmente, aposto que há quem aja assim numa frequência maior do que gostaria. O perigoso disso é que deixamos nossa pessoalidade de lado, visando garantir a manutenção de uma boa impressão social, mas o que não sabemos é que dar voz ao que queremos, em várias situações, é tudo o que nos falta para seguir em frente. Nessa de tornar tudo impessoal, pode ser que nem mesmo a gente saiba o que realmente quer. Numa dessas, corremos o risco de viver por viver, não chegando a canto algum.

Você já pensou sobre o que realmente espera para este ano? Além das coisas que são óbvias, genéricas e almejadas por todos, você quer o que? Pensou também nas possibilidades de conquistar o que quer? Está disposto a sair da sua zona de conforto e enfrentar a possibilidade da frustração para tentar conseguir isso aí?

Os tempos não têm sido dos mais animadores. Estamos cada vez mais distantes uns dos outros, interagimos mais com o touch screen, do que com a pele, os olhos e a voz das pessoas que conhecemos. Insistimos em seguir a vida garantindo que nada mude, para evitar que as coisas saiam do lugar e mudanças tenham que acontecer. Nossa geração não tem sido preparada para mudar e se adaptar. Não temos nem sido preparados para nos frustrar, prova disso é que basta algo dar errado e pronto, parece que as coisas só não dão certo para nós e, aparentemente, ficamos pensando que nunca darão.

Há uma outra coisa que me incomoda, mas que inevitavelmente me vejo praticando constantemente: estamos o tempo todo querendo nos proteger e, para garantir isso, optamos por agredir aos outros (já ouviu a expressão “atacar para se defender”? é mais ou menos o que fazemos.). E, para piorar, várias das brigas que travamos não se referem a algo pessoal, mas é só aquela necessidade de “não ficar por baixo”, já que, socialmente falando, pega mal quando demonstramos o que sentimos, pois isso tem sido sinônimo de fraqueza.

Por fim, então, meu desejo para este próximo ano, é que a gente possa amar. A começar pelo amor próprio, que seja permitido gostar de si mesmo (porque isso não é egoísmo e, menos ainda, se fazer de coitado), que possamos dar amor (é aquele ditado clichê “é dando que se recebe”) e que as frustrações e os sofrimentos não signifiquem que o mundo acabou, mas só que algo não deu certo. Olhe para o que você quer, se aproprie daquilo, tornando-o seu; permita-se saber aquilo que você realmente deseja. Experimente!

Bom ano a nós!

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Especializando em Terapia Comportamental pela 
Universidade de São Paulo. 
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram 
pesquisa básica em análise do comportamento 
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso), 
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa 
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos. 
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
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alex@minutoterapia.com
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Viver é experimentar muitas coisas, inclusive, o sofrer


Por: Alex Valério

Há dores que, apesar de não terem origem orgânica, doem um bocado e causam muitos desconfortos (inclusive físicos). Não aprendemos a lidar com frustrações e, ao menor sinal de que algo irá nos abalar, preferimos evitar esse acontecimento e nos privamos de uma série de coisas, a fim de garantir a nossa preservação. O esforço que fazemos com intuito de evitar o sofrimento é, por si só, um sofrimento e tanto. Paradoxalmente, isso que tanto tememos, além de inevitável é, também, necessário.

A dor é algo inerente à nossa condição de existir. Negá-la não nos ajuda a deixar de senti-la. O mais eficaz é transformar a dor em ação, ou seja, precisamos encontrar uma maneira de lidar com aquilo que machuca e que fere. É importante experimentar alguns dos nossos medos, pois nem sempre o que tememos é tão terrível quanto aquilo que imaginamos. Nossa imaginação é traiçoeira e tem a habilidade de potencializar nossas angústias, sendo capaz de nos fazer perder aquilo que talvez pudéssemos ganhar (em outras palavras, o inimigo somos nós).

Refletir sobre aquilo que machuca é importante para garantir alguma qualidade de vida, mas querer garantias de que a vida será segura e imaculada não seria possível nem se vivêssemos numa bolha. Estamos agindo para garantir a manutenção do que temos, inclusive quando o que temos não nos agrada, mas que ainda assim, é mais seguro do que correr o risco de desconstruir aquilo que somos, pois já nos habituamos com a dor que dói hoje e sabemos que a conseguimos suporta-la (diferente daquela que desconhecemos).

Encarar aquilo que tememos é muito difícil. Correr o risco de falhar pode nos imobilizar (o que infelizmente nos mantém no mesmo lugar). Às vezes não temos forças para juntar os pedacinhos de nós que se espatifaram diante de uma decepção e passamos a não querer passar por isso outras vezes, temendo ter de juntar tudo o que se estilhaçou e que, apenas nós entendemos, pois somos os únicos que sabemos o que foi necessário fazer, para juntar tudo novamente.

Hora ou outra, acabamos conseguindo encontrar todas as partes que se espatifaram e passamos a colá-las, pouco a pouco, até que estejamos prontos para nos erguer e – talvez – a fazer novas tentativas. A vida é muito incerta e isso é algo assustador. Um passo em falso pode resultar num pé torcido ou, na pior das hipóteses, num pé quebrado. Mas, veja que até nesta situação, após um período de dores e desconfortos, recupera-se a possibilidade de andar e seguir adiante (Ah, o tempo!).

O tempo costuma ser nosso melhor aliado, mas infelizmente não o valorizamos. Os efeitos colaterais de estar inserido numa cultura imediatista é este: queremos tudo para ontem. Aceite aquilo que te faz sofrer. Aceite-se como você é, incluindo aquilo que você mesmo desaprova.

Aceitar-se é, pouco a pouco, um dos passos necessários para aprender a gostar de si.

Quando quase toda nossa história é marcada por dores, frustrações e coerção fica difícil acreditar que as coisas podem dar certo e que a felicidade é uma possibilidade. Felicidade é um estado momentâneo, rápido e breve, não é uma condição permanente. O universo está cheio de momentos felizes e, muitas vezes, isso não acontece para você, porque você ainda não conseguiu arriscar fazer o que está fazendo, de um jeito diferente. Às vezes se reinventar no meio do caminho é essencial para que seja possível seguir adiante.

O fato de algo não dar certo não significa que é o fim de tudo e que você não nasceu para ser feliz. Poucas pessoas alcançam seus sonhos sem se expor e se frustrar. Não dar certo pode significar, simplesmente, que não foi dessa vez, mas que pode ser numa próxima. Lembre-se das vezes em que você viveu algo diferente e que, ao passar por isso, percebeu que não foi tão difícil quanto imaginou. Transforme a sua dor em ação, reconheça-a.

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Sobre como as comédias românticas estragaram as nossas vidas


Por: Alex Valério

Hoje vamos refletir sobre como as comédias românticas acabam com as nossas vidas e como elas prestam um desserviço à nossa saúde mental. Provavelmente as próximas gerações também serão vítimas dessa romantização da vida, das pessoas, do sexo e, principalmente, das relações.

Você já deve ter assistido algum clássico Hollywoodiano que falava sobre amor e sobre como as pessoas que se apaixonam são felizes ao viver essa “magia” (atenção: muitas aspas nesse lance de magia). No geral, a trama dos filmes envolve um início de relacionamento surpreendente, mas que por uma série de adversidades acaba afastando o casal principal, mas, no fim das contas, tudo se acerta e o “felizes para sempre” acontece. Quando não é assim, um dos personagens morre e “desgraça nosso coração”. Geralmente aquele que fica vivo, fica vivendo para mostrar o quanto quem se foi é inesquecível e insuperável (por que é que a gente gosta desses clichês?).

Depois de assistir a filmes como estes, uma perguntinha quase instantânea nos invade: “Por que é que isso não acontece comigo?” Pois é, por quê? Não se preocupem, o tio aqui vai contar para vocês o porquê: é porque nós somos pessoas reais, com vidas reais. Se nós fôssemos atores, seria fácil encenar uma ficção e comover telespectadores de todo o mundo. A vida não é como nos mostram nas telinhas do cinema. Isso que nós temos aqui fora é muito mais difícil, porque isso aqui é de verdade.

Existe uma pressão social que determina que devemos nos relacionar com alguém, dividir a vida, compartilhar os momentos e sentimentos. Isso começa tão cedo e se enraíza em nós de uma maneira assustadora. Você já deve ter presenciado pais que ficam sabendo da gravidez de um casal de quem são amigos dizer que a depender do sexo da criança, ela será a “namoradinha (o)” do filho deles. Alôôôô, o bebê mal saiu de dentro do útero e você já tá arrumando um par para ele. Por quê?

Boa parte dos problemas psicológicos que encaramos, depois de adultos, são resultados dessa ditadura do amor. É triste pensar que nós crescemos aprendendo que não somos completos e que a completude só é possível quando encontramos o “amor da vida” (amor da vida, gente?). Quando adultos, parece que o tempo se torna uma corrida que nos obriga a conquistar aquilo que falta em nós.

Tem outra história que ouço há muito tempo e, por sorte, com esta eu nunca concordei e sempre estranhei (ainda bem!). De onde é que saiu essa regra de que a gente só ama uma vez? De que só o primeiro amor é o que fica? Esse é mais um exemplo dessa romantização absurda das relações. Nós somos capazes de amar várias e infinitas vezes. O fato de uma relação ser diferente da outra não quer dizer nada, quer dizer apenas que nós mudamos e, também, que a pessoa atual é outra e não a mesma com quem você se relacionou antes (o que por si só já implica nas diferenças).

Ultimamente nós estamos criando tantas regras, exigências e técnicas, que está mesmo complexo demais gostar de alguém. Gostar poderia ser leve, mas também pode ser pesado. Gostar pode ser do jeito que você quiser, mas espera-se que, pelo menos, seja algo que lhe faça bem, que te faça sentir melhor na presença e, também, na ausência (eu diria que PRINCIPALMENTE na ausência, por que a gente não vive com o outro o tempo todo). Não se obrigue a estar com alguém para não ficar só, para não deixar “escapar o amor”. O amor não é escapável, ele é recriado e reinventado sempre que a gente se permite. Se não deu certo com alguém, o mundo tem mais de milhões de pessoas, há muitas chances e muitas possibilidades. E lembre-se, você pode sentir o amor do seu jeito, não há regras. Antes de amar outra pessoa, comece se amando, se aceitando, se desejando. Aprenda a se sentir inteiro. Inteire-se!

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Os acontecimentos de um Estado, que de laico, não tem nada


Por: Alex Valério

Como adepto aos direitos humanos, à liberdade e, principalmente, ao amor, manifesto publicamente meu repúdio a toda e qualquer forma de preconceito.

Ultimamente, aqui no Brasil, quando a gente acha que não pode piorar, piora! O retrocesso da semana se deu, quando um juiz assinou uma liminar que passa a permitir que psicólogos ofereçam terapias de reorientação sexual. O assunto movimentou as redes sociais e produziu debates infindáveis. Muitas pessoas tem alegado que não há problemas na decisão do juiz, uma vez que, não se fala em cura-gay ou reversão sexual.

Para um leitor atento, eu diria que a inexistência de tais termos é algo bastante questionável. De acordo com o texto existente da liminar, agora o psicólogo pode oferecer “(re)orientação sexual” (sic). Ora, o que seria isso se não eufemismo? Qual é a diferença entre reorientação e reversão? Nós reorientamos aquilo que está incorreto ou o que é inadequado. Trocando em miúdos, no fim, acaba sendo o mesmo que cura-gay.

Este não é o único ponto que deve ser levado em conta, é preciso considerar as autoras da ação. O pedido para aprovação destes tipos de terapia, não é algo atual, pelo contrário, é um tema que se arrasta ao longo de anos e é conduzido por um grupo de psicólogas evangélicas pentecostais. Sabendo disso, gostaria que você que está lendo este texto, respondesse com sinceridade: você acredita mesmo que elas estão preocupadas com o bem-estar das pessoas? Precisamos concordar que, o viés religioso é indiscutível.

Nos últimos anos, a comunidade LGBT vem conquistando – a passos lentos – algum espaço na sociedade. É evidente que alguns avanços ocorreram. Entretanto, é fácil dizer isso daqui de onde estou, na principal metrópole do país. Certamente, se eu estivesse em alguma parte do Norte ou do Nordeste, meu discurso seria um pouco diferente. Agora, imagina o impacto desta decisão judicial em regiões mais conservadoras (sabe aquela história de não olhar só para o próprio umbigo? então…)

Agora que psicólogos podem oferecer os serviços de reversão, ser gay volta a assumir a posição de “inadequação”. Se há a possibilidade de reorientar, é porque se trata de algum trauma/doença/transtorno. A liminar é um regresso nas conquistas LGBT. Além disso, ela contribui para estigmatização e, portanto, vai gerar mais sofrimento às pessoas. Ser gay, ainda que nos dias de hoje pareça estar mais fácil, ainda não é simples. Hoje em dia, se você não for de classe média, hétero, cis gênero e branco, há grandes chances de fazer parte de alguma minoria e, portanto, com algum esforço, talvez possa entender a seriedade deste assunto.

Outro aspecto bastante preocupante desta discussão são as técnicas utilizadas por tais terapias. Foram realizados alguns estudos com intuito de verificar maneiras de reverter a orientação sexual das pessoas. Os resultados não são nada promissores, pelo contrário, são horrendos. No geral, os participantes não só se mantém atraídos por pessoas do mesmo sexo como, em muitos casos, desenvolvem sérios transtornos mentais, como depressão, ansiedade, entre outros.

A todos os que disseram não ter visto nada demais na liminar, peço que pensem no uso inadequado e no sofrimento que poderá ser causado a muitas pessoas. Imaginem pais conservadores que, no menor sinal de homossexualidade, submeterão o filho, menor de idade, a técnicas como estas.

O que precisa de cura é a nossa sociedade, é o preconceito dos que dela fazem parte. A liminar não legitima o sofrimento das pessoas que não aceitam a própria orientação sexual, ela valida a homofobia e a estigmatização de uma classe que já está para lá de estigmatizada.

Antes de repetir o modelo que aprendemos, vamos questioná-lo, criticá-lo e fazer melhor. Romper o ciclo vicioso do ódio e do preconceito é o primeiro passo para a mudança efetiva do mundo que tanto criticamos.

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“Amar” também pode ser sinal de abuso


Por: Alex Valério

“Quantas vezes sussurrei ‘Como vim parar aqui? Como virei essa mulher?’”¹

Essa é a pergunta que inicia a reflexão dessa semana. Pensei em escrever sobre relacionamentos, mas não queria redigir um texto meloso, enaltecendo a beleza do amor e, menos ainda, um texto frustrado, com palavras de um “solteirão” amargurado. Nós vamos falar de uma espécie de relação que tem se destacado e que, acreditem, causa uma série de efeitos colaterais em quem a vivencia.

Para começar, precisamos deixar uma coisa clara: uma relação abusiva não é caracterizada unicamente por agressões físicas, elas também podem ser emocionais, verbais e/ou sexuais. Outro aspecto que também merece ser esclarecido: o abuso não ocorre apenas do homem contra a mulher – as pesquisas apontam que esse é o tipo mais comum –, mas eles também podem ocorrer de mulheres contra homens, mulheres contra mulheres, homens contra homens e algumas outras tantas combinações que são possíveis para os dias de hoje.

Pessoas que são submetidas a relacionamentos como estes, tendem a sentir que precisam cuidar do parceiro, já que deixa-lo seria o mesmo que abandoná-lo. Também não é incomum a constante esperança que sussurra ao ouvido “ele(a) vai mudar, é só questão de tempo”. Normalmente achamos que quando a outra pessoa perceber o “tamanho” do nosso sentimento, terá condições de ser diferente. O triste é que as coisas não acontecem dessa maneira. Pouco a pouco, aquele que é abusado, vai se sentindo mais diminuído, culpado, controlado e – ouso dizer – vai perdendo a consciência de quem é e se deixa desconstruir, coexistindo na existência do outro.

Quando, numa relação, você começa a perceber que tem se anulado em detrimento do outro e que seu parceiro sempre te responsabiliza pelos problemas da relação, epa! Talvez seja hora de pensarmos um pouco sobre isso. Não é fácil se perceber numa relação abusiva, acabamos tão mergulhados na intensidade do relacionamento e dispostos a atender plenamente as necessidades do outro, que acabamos negligenciando algo muito importante: NÓS.

Há muitas formas de abuso e, de novo, é difícil percebê-lo e, ao perceber, é difícil se livrar dele. O abusador parece se tornar essencial e fundamental para que a vida continue fazendo sentido. O abusado sente vergonha, medo e acaba se isolando, sabe que se comentar o que passa com outras pessoas, acabará sofrendo com a avaliação negativa delas (sim, o mundo é cruel!). É desesperador! Algumas pessoas, nesta condição, sentem vontade de sair correndo sem nem olhar para trás, mas é como se a sola dos pés estivesse colada e fosse impossível dar qualquer passo em direção a saída.

Não é saudável se relacionar com alguém que te faz de piada na frente dos amigos, que discorda constantemente das suas opiniões e desconsidera suas ideias, sugestões e necessidades. Se você está com alguém que te faz sentir mal consigo e que quer controlar a maneira como você se comporta, sendo necessário que você peça permissão para sair só, isso não é amor, é abuso.

Peça ajuda!

¹ Por fim, mais do que escrever a respeito, recomendo a leitura do texto que me inspirou este assunto. Espero que o discurso alcance vocês, como me alcançou: “Eu costumava achar que era louca”, disponível no site Pragmatismo político.

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Também publicado em: Minuto Terapia

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Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela 
Universidade de São Paulo. 
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram 
pesquisa básica em análise do comportamento 
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso), 
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa 
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos. 
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
Facebook.com/ominutoterapia

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O culto aos corpos definidos exclui os indefinidos


Por: Alex Valério

Constantemente tenho a impressão de que estamos nos deixando padronizar, isto é, temos nos esforçado insistentemente para nos adequar ao modelo de pessoa tido como adequado e desejado socialmente. Vejam só as academias: estão repletas de pessoas que se submetem a horas de treino, na tentativa de perder peso, definir o corpo e, por fim, ficar mais bonitas (vamos admitir, a maior parte dos usuários de academias não estão lá porque gostam, os que adoram estar lá são a minoria).

Temos vivido uma supervalorização da nossa forma física. Gordos querem ficar magros, já aqueles que são magros, querem ter massa. É quase universal o desejo de ter “gominhos”. Esse texto não fará sentido para muitos dos meus leitores, não vou falar sobre aceitação, vou apenas dizer que é difícil viver neste mundo, quando você faz parte de um grupo desfavorecido e que está nas margens do “tipo padrão de ser”. Só os negros são capazes de compreender com precisão o racismo, assim como, apenas os gays compreendem na pele a homofobia, as mulheres o machismo e, assim é com tantas outras minorias desfavorecidas. Ao dizer isso, não estou dizendo que aqueles que não estão no grupo não podem apoiar as causas, podem, aliás, devem. O que quero mesmo que entendam é: Você pode até imaginar como é, mas para compreender, é necessário viver na pele.

Os que convivem comigo, sabem que vivo numa guerra com a balança. Estou há oito meses mantendo uma alimentação mais restritiva, retirei boa parte dos meus quitutes prediletos, diminui a comida em mais da metade e mandei embora cerca de 20 quilos, que, para minha médica – e para mim também – ainda não foram suficientes. A mudança na alimentação me trouxe uma série de melhorias físicas, mas seria hipocrisia dizer que fiz isso apenas por saúde.

Tenho dois ou três colegas que fazem o mesmo que eu, só que do avesso (risos). Isso mesmo, eles querem engordar, já que se incomodam com a magreza e, pasmem, são julgados por ser como são. Esses dias eu pensava no quanto está ficando difícil viver no mundo que construímos. Se você é magro, te criticam por estar quase “raquítico”, já se tem alguns quilinhos a mais, o problema está no fato de ser gordo.

Nosso peso se tornou, de fato, um peso e tanto a ser carregado. No geral, isso é triste para todo mundo, mas, principalmente, para quem é discriminado por ser como é. Outro dia, conheci uma pessoa que, inicialmente havia se interessado por mim, mas que perdeu o interesse ao olhar minhas fotos com mais atenção. Disse que não me faria perder tempo, recomendou que eu utilizasse parte dele – do tempo que me seria poupado – para fazer uma dieta (sim, aconteceu, foi terrível e a minha cara ficou no chão de tão chocado que fiquei).

Agora, vamos mudar a ótica: Quantas mulheres magérrimas são ofendidas constantemente por não possuírem curvas? Essa veneração pelo corpo acabou nos despindo de aspectos que são importantes para as relações humanas. Aliás, empatia costumava ser algo que demonstrávamos ao outro, quando foi que isso se perdeu?

A televisão exibe todos os dias, em suas novelas, atores tatuados, malhados e definidos. Diariamente temos aprendido que a vida acontece apenas para estas pessoas, as outras são esquecidas, passam despercebidas. Recentemente uma cantora pop brasileira contratou bailarinas acima do peso. Querem saber se eu apoio a atitude? Sim, admiro e achei o máximo. Agora, vocês acham que, quando vejo essas mulheres dançando, sinto certa estranheza? Sim, infelizmente. Infelizmente nossa cultura tem nos condicionado a ignorar todas as pessoas que fogem do padrão. Esquecemos que existem gordos, deficientes, albinos, negros e uma infinidade de outras características que são excludentes.

Felizmente atitudes como a dessa cantora, nos ajudam a recuperar a esperança e, principalmente, a abandonar qualquer estranheza que possa ter nisso. Até por que, não deveria ser nada estranho. Está na hora de aceitarmos e respeitarmos as diferenças, não acham?

Gostaria de acreditar que vivemos no mundo em que aquilo que importa é o que somos e não a aparência que temos. Tenho percebido um cenário cada vez mais cruel e devastador. Conforta-me saber que, constantemente, a vida vem e me surpreende, revela que ainda há esperanças e que a maioria não é o mesmo que todo mundo. Há exceções. E, falando nisso, eu quero ser como elas: quero ser exceção, não quero ser padrãozinho.

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Nem tudo o que parece é


Por: Alex Valério

Sorrir, nem sempre significa ser o que parece. O sorriso pode ter muitos significados e, portanto, muitas funções. Em alguns casos, é só resultado da contração dos músculos labiais (para entender isso, pense na quantidade de vezes em que você esboçou um sorriso sem querer sorrir). Em nossas vidas, há muita coisa que aparenta ter uma forma, mas é aquela velha história de julgar o livro pela capa, sabem?

Estima-se que há 7 bilhões de pessoas no mundo. É tanta gente que eu não consigo imaginar o quanto isso representa em quantidade. Com tantos outros humanos por aí, como podemos nos sentir tão solitários? Há vazios que se revelam como um buraco negro no âmago do nosso ser. Há solidões que não entendemos, só sabemos que ela existe e nos acompanha por onde andamos.

A propósito, há solidões e solitários. Há quem tenha tudo e sinta como se não tivesse nada, existe o inverso disso e, há também, quem não tem nada nem ninguém (não se trata da solidão amorosa, mas da completa e total ausência de outras pessoas). Não tem receita mágica para lidar com o fato de ser sozinho. O melhor caminho, talvez, seja buscar as respostas do seu isolamento. Tente identificar, através de sua história de vida, em que momento você foi conduzido para essa condição atual (como fazer isso? Terapia sempre ajuda!).

É difícil compreender o que nos faz sentir tão só. Às vezes, passamos horas ou até mesmo dias, sem pensar a respeito. Há momentos em que nos rodeamos por pessoas, nos atolamos no trabalho ou imaginamos ter encontrado alguém especial. Mesmo não percebendo, ficamos felizes por encontrar alguma coisa que preencha um pouco do vazio constante que sentimos. Mas, como tudo na vida, esses momentos podem ser temporários e breves; e quando o são, parece que é apenas uma confirmação do fracasso que somos, não é mesmo? (isso não significa que tem de ser assim para sempre!)

Normalmente, quando somos acometidos por nossa costumeira solidão, temos a impressão de que, independente do que façamos, sempre estaremos condenados a ela. Há uma linha tênue entre: não ter ninguém e se afastar – ou ser afastado – de outras pessoas (qual é a sua?).

Cada um de nós tem uma história e um motivo para se comportar da forma como hoje se comporta. Cada história carrega suas particularidades e especificidades. Um bom começo é tentar respeitar a si mesmo e o sentimento que te afeta. Passamos tempo demais nos questionando ou nos condenando e isso não ajuda, pelo contrário, isso só agrava nossa própria condição.

Faça as pazes consigo. Respeite-se. Reconheça que você tem algum valor (e, apesar de bem piegas, essa pode ser a parte mais difícil). Amar-se, apesar de ser pregado por aí e divulgado aos quatro cantos, não é algo fácil, ainda mais considerando o mundo em que vivemos hoje, pelo contrário, tem sido bastante fácil deixar de gostar de si próprio.

Tente estabelecer laços. Queira ou não: nenhum homem é uma ilha. Quando passamos tempo demais sendo nossa única companhia, nos tornamos um pouco intolerante ao outro. Logo, quando alguém nos desagrada, ainda que com algo pequeno, costumamos nos afastar, antes que uma decepção maior aconteça e a ferida aberta se torne ainda mais grave (aliás, toda vez que isso acontece, você sente que isso confirma a predestinação a ser sozinho, não é?).

Há sorrisos que escondem medos, tristezas, anseios e tantas outras sensações desconfortáveis. A dor que sentimos é verdadeira, mas não é eterna. Seja flexível com quem você é. Aceite suas limitações, reconheça suas inabilidades e tente romper com as verdades que só são verdades para você. Não ter uma família, não ter amigos ou não ter um amor, não significa que essa será sua sina. É possível recomeçar e reconstruir. Reinvente-se!

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Xiii… Hora de estudar, ferrou! “Gente grande” também tem dificuldades


Por: Alex Valério

A temida hora de estudos não é um problema apenas para crianças e adolescentes. É muito comum aparecerem no consultório adultos que enfrentam dificuldades para compreender e se dedicar às atividades acadêmicas. O comportamento de estudar é, para muitas pessoas, uma tarefa pouco prazerosa e da qual as pessoas querem se livrar rapidamente.

Estabelecer uma rotina de estudos não é uma tarefa simples, requer uma série de comportamentos complexos, como: ler, escrever, grifar, separar material, revisar o que foi feito, entre outros. Logo, é uma atividade que exige esforço e tempo. E, convenhamos, o mundo em que vivemos oferece uma infinidade de atividades mais prazerosas do que passar um período do dia com a cara nos livros, não é mesmo?

O problema dessa série de outras possibilidades é que, normalmente, as priorizamos e vamos adiando atividades que precisaremos realizar, seja aquele trabalho para o final do semestre ou os exercícios de matemática para segunda-feira. Acontece que o chamado “mau do brasileiro”, ou seja, o comportamento de adiar constantemente a realização de tarefas, deixando para executá-las próximo do prazo final, causa uma série de consequências, sendo muito comum o sentimento de fracasso ou de decepção com o resultado entregue. A sensação de culpa por não ter concluído a atividade ao longo do tempo, também costuma ser algo comum e que aflige as pessoas.

Infelizmente as escolas não ensinam os alunos a estudar, algo que é primordial para o bom desempenho do estudante. Sim, ensinar a estudar! Por mais estranho que pareça, esse é um comportamento que, como qualquer outro, precisa ser ensinado. Quando chegamos à escola temos nossa primeira experiência com os estudos, sem nunca antes ter experimentado, por exemplo, o que é estudar para provas, ou ainda, em ter de ler um texto e interpretá-lo para, posteriormente, discuti-lo. As escolas parecem esperar que, os hábitos de estudo, sejam algo intrínseco do ser humano. Alguns atribuem essa responsabilidade aos pais, mas se os pais também não foram ensinados, quem é que vai fazer?

Na graduação não é muito diferente disso. As universidades partem do pressuposto de que, as pessoas aprenderam no ensino básico como se estuda. Ainda que isso tivesse acontecido, desconsidera-se que, neste novo contexto, passa a ser exigida uma capacidade mais elaborada e, nem sempre, os alunos são preparados para isso. Há uma série de pessoas que, diante da necessidade de estudar, não sabem como começar ou o que priorizar.

Muitos estudantes desistem e se sentem incapazes de prosseguir com as atividades escolares. Diante desse cenário cada vez mais frequente, resolvi escrever algumas técnicas que, no consultório, tem gerado resultados satisfatórios. É claro que não funcionará para todas as pessoas, mas você pode refletir e testar uma coisa ou outra, adaptar ao seu modo/rotina.

O primeiro passo está relacionado com a Organização. Antes de iniciar, verifique se pegou todos os itens que você irá precisar (lápis, caneta, textos, livros, entre outros). Garantir que está com tudo o que será necessário, é importante para que você não tenha que interromper seus estudos, ao descobrir que esqueceu algo, ou seja, evita que você tenha que sair para buscar algo que ficou para trás.

O segundo cuidado se refere ao local em que a atividade será realizada. Antes de falar sobre isso, gostaria que você pensasse no seu atual local de estudo e em como ele é. Há alguma televisão, rádio ou computador por perto? (Se o computador for um dos seus materiais de estudo, cuidado!) Quando você decide estudar, seu celular fica onde? Você consegue ouvir barulho de carros ou de utensílios domésticos? Já adianto que esses distratores podem prejudicar seu rendimento na tarefa escolar.

Defina um local para os estudos. Parece bobagem, mas isso é importante. Não precisa ser um escritório, caso a sua casa não seja grande. A mesa da cozinha também serve. Só é importante que seja silencioso e tenha espaço para você colocar seu material. Algumas pesquisas mostram que, ao eleger um local para estudar, cria-se uma rotina mais produtiva. Mas há um cuidado importante: caso perceba que, em algum momento da atividade, está começando a se distrair com outras coisas ou ficando cansado, guarde o material e suspenda os estudos, retirando-se daquele local. Eduque-se para que, sempre que estiver lá com o objetivo de estudar, isso seja feito.

O terceiro aspecto é: planeje! Se você possui diversas atividades para realizar, use um calendário ou uma agenda. É importante programar as tarefas, de modo que você possa pensar em quais são as suas prioridades de estudo. Para eleger as prioridades, leve em consideração a complexidade – isto é, quão trabalhosa a atividade será – e, também, o prazo que você terá para concluí-la. Evite deixar para última hora. Grande parte dos sentimentos de frustração são resultados de atividades que foram realizadas “às pressas”.

Outro erro comum está no desejo de querer realizar a atividade de uma vez. Quando decidimos por essa estratégia, temos de investir mais tempo e, por conta disso, a tarefa acaba sendo mais cansativa. Não queira terminar tudo de uma vez só, fracione! Por exemplo, se você tem uma pesquisa, inicie buscando bibliografia e separando os textos, depois leia os resumos para selecionar quais estão dentro do que você espera para seu trabalho. Inicie as leituras, faça grifos e resumos daquilo que está lendo. Quando tiver que escrever, você terá menos dificuldades. Acredite!

O período dedicado aos estudos não precisa ser um mártir. Você pode fracionar o trabalho, fazendo-o gradativamente ao longo de um período. Além disso, você pode programar atividades prazerosas após períodos de estudos, como se fosse uma espécie de recompensa pelo seu bom desempenho. Sabe aquela série do Netflix ou aquela partida de videogame? Então, é possível coadunar a agendar de maneira que você consiga concluir as demandas escolares e, também, garantir um pouco de prazer e diversão. Afinal de contas, divertir-se é importante.

Durante os estudos, estratégias como grifar, fazer anotações e tantas outras são válidas. Não há um formato melhor, você precisará testar e ver qual deles combina mais com seu estilo. Um método que tem dado resultados bem positivos para leitura de textos, são os grifos e resumos. Acredito que todo mundo já sentiu sono no meio da leitura de um artigo/texto, ou então, a sensação de “não tô entendendo bulhufas” disso que o autor quis dizer.

Ao iniciar a leitura de um texto, veja-o inteiro e avalie se há figuras ou subtítulos. Caso tenha, dê uma boa analisada. Eles já lhe darão informações importantes do assunto que será tratado no texto. Feito isso, inicie a leitura e, no primeiro parágrafo, tente descobrir qual é a ideia central daquilo que está sendo apresentado (o primeiro é sempre um dos mais importantes, normalmente ele apresentará a ideia central do texto). Ao encontrar, grife o trecho. Mas, cuidado! Não se empolgue com o marca texto nas mãos. Não saia grifando tudo. Seja seletivo e destaque apenas o que for, de fato, importante (no começo é bem difícil, mas se esforce, depois passará a ser mais natural)! Feito isso, siga dessa forma a cada parágrafo.

Para cada grifo, tente fazer pequenas anotações. Estas podem ser a sua compreensão do trecho destacado, ou então, o motivo que fez com que você grifasse aquela parte do texto. Importante fazer isso nas figuras existentes, se possível, relacione o texto com aquilo que está sendo mostrado por ela.

Como tudo na vida, no começo é necessário insistir e não desistir. Apesar de ser um pouco trabalhoso, muitas pessoas alcançam bons resultados ao longo do tempo. Inclusive, se for necessário ler novamente um texto em que você fez isso, para provas, por exemplo, você verá que será mais fácil para recordar aquilo que já foi estudado. Normalmente os grifos e as anotações são suficientes.

Por fim, mas não menos importante: estabeleça uma rotina. Nem que seja 1 “horinha” do seu final de semana. Tente programar um horário e vá para o local destinado aos estudos. Evite começar com períodos muito longos. Faça com que os dois primeiros dias sejam de 20 à 30 minutos. Vá aumentando gradativamente, sinta e respeite seu ritmo. Ao concluir, reconheça seu esforço e aceite se sentir bem por ter conseguido. Inclusive, após terminar, se dê de presente uns minutos de ócio ou de diversão.

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A série “Os 13 Porquês”: indicada ou contraindicada? Uma análise breve de algumas das mensagens transmitidas


Por: Alex Valério

Nas últimas semanas um dos assuntos mais abordados foi a nova série do Netflix: “Os 13 porquês”. Trata-se da história de uma adolescente que cometeu suicídio e que, antes disso, gravou 13 fitas, listando as razões que a fizeram tomar esta decisão. O mais intrigante e envolvente é que cada uma das fitas se destina a uma pessoa que, de alguma maneira, a magoou, contribuindo para que ela se sentisse cada vez pior e, no fim, resolvesse findar com a própria vida.

No geral, a repercussão a respeito da série tem sido gigantesca. Tenho lido diversos textos, alguns escritores se posicionam a favor, já que a depressão é uma doença perigosa e silenciosa. Outros realizam críticas mais severas, apontando-a como inapropriada e perigosa. Este texto não irá tomar partido nem de um lado, nem de outro. Logo, não vou recomendá-la ou condená-la, mas gostaria que pudéssemos expandir um pouco nossos horizontes e refletir criticamente a respeito de alguns aspectos relevantes que são abordados em “Os 13 porquês”. Posso adiantar que, do meu ponto de vista, é inegável que há alguns aspectos problemáticos, mas ao mesmo tempo, também consigo listar alguns que podem ser plausíveis de discussão. Espero, minimamente, alcançar educadores, pais e tantos outros profissionais que lidam com pessoas.

Vamos começar falando sobre a adolescência. Digamos que este é um período um tanto quanto “complicado”. Diversos autores que estudam Psicologia do Desenvolvimento definem esta fase como conflituosa. Normalmente é marcada por diversas cobranças, como: pais cobram boas notas; ambiente escolar exige que você tenha amigos; os amigos esperam que você se relacione “intimamente” com outras pessoas ou que experimente algumas coisas; os adultos esperam que você se comporte educadamente; a mídia espera que você seja bonito (a) e que se vista de determinada maneira, ou ainda, que tenha certo corte de cabelo. E, além de tudo isso, os hormônios estão a mil. O corpo está mudando, se transformando e tudo fica bastante intenso.

Uma das primeiras reflexões que gostaria de listar é justamente o fato de que a série nos faz pensar a respeito das dificuldades pertinentes a esta fase e, também, a importância da participação dos pais, principalmente no que se refere ao monitoramento dos filhos – sabemos que eles não gostam/aceitam, ainda assim, nessa relação a autoridade deve ser dos cuidadores. Normalmente, neste período da vida dos jovens, é comum que os adultos não consigam ter um bom relacionamento com adolescentes. Ouço muitos pais dizerem que os filhos perderam o respeito, que passaram a responder e a contrariar tudo o que dizem.

Pois é, de fato costuma ser mesmo assim. Há alguns estudos, na Psicologia, que revelam que o adolescente tende a se afastar dos mais velhos, sendo comum que passem a se relacionar em grupos, buscando se juntar a pessoas que possuem algum interesse em comum, de modo que seja possível identificar-se com elas. Na série, é possível ver o quanto a garota suicida buscou estabelecer laços de amizade com diferentes pessoas. Na tentativa de se identificar e se ligar a alguém, ela frequentou lugares que não gostaria e tentou se relacionar com pessoas que não simpatizava.

Acredito que todos os que assistiram a série concordariam que, ao longo da trama, a personagem transmite alguns sinais de que algo não está bem. Na vida real estes sinais também costumam aparecer. Já presenciei isso na clínica e tenho colegas que atendem que também já passaram por isso. Normalmente, pessoas que decidem findar com a própria vida acabam deixando transparecer alguns sinais, geralmente é a forma que encontram para pedir socorro.

As pessoas que lidam com crianças e adolescentes – pais, cuidadores, educadores etc – precisam estar atentos a comportamentos que levantem suspeitas. Como já dito, é comum que adolescentes se distanciem dos adultos e passem algum tempo sozinhos. Entretanto, o isolamento completo pode indicar um sinal de que algo não caminha bem. Se isso está acontecendo, interprete como um primeiro sinal de alerta. Não se trata, necessariamente, de alguém que irá cometer suicídio ou que está sofrendo de depressão, mas pode ser um indicativo de que algo pode não estar bem.

Outro aspecto que é abordado em “Os 13 Porquês” é bullying. Aliás, é muito comum ouvir comentários de pessoas que julgam que há algum exagero nessa história de bullying. Já ouvi muitas pessoas falarem que o mundo ficou chato, que já não se pode mais brincar. Entendam, apesar da “chatice” que alguns julgam, para pessoas que sofreram – ou ainda sofrem – com brincadeiras maldosas, não há nada de chato. Só quem já foi motivo de riso, por ser diferente – muitas vezes fisicamente – da maior parte das pessoas, sabe o quanto é bom ter um mundo “um pouco mais chato”. Mas, sem criar polêmica, espero que todos sejam capazes de concordar que, esse tipo de conduta, pode gerar prejuízos significativos à todos os que vivenciam situações como essas.

Cabe, aqui, um exercício de empatia. Para você, uma brincadeira pode ser algo normal e não ter sentido pejorativo, mas se coloque no lugar daquela pessoa e considere o quanto pode não ser legal falarem do seu peso, da sua orientação sexual ou das suas atividades sexuais.

Observar e intervir diante de situações em que o bullying está sendo cometido é complexo, entretanto, é algo que requer a nossa atenção e, inclusive, também exige alguma capacidade de empatia. A discussão a respeito disso tem se tornado cada vez mais ampla, ainda assim, infelizmente ainda há algumas pessoas que julgam como exageros desnecessários. Triste é quando esse tipo de pensamento é compartilhado por colegas que se relacionam diretamente com a educação. Aos profissionais que atuam no contexto escolar, é importante estarem atentos e prontos para intervir.

Por enquanto explicitei apenas as reflexões importantes que “Os 13 Porquês” nos deixou. Vamos, agora, abordar alguns possíveis problemas que possam ser decorrentes da série. Antes de tudo, particularmente falando, não me pareceu, em nenhum momento, que a série tinha como pauta central a depressão ou o bullying. Na minha opinião, o foco principal está em algo chamado de vingança. Claro, gira em torno do suicídio e, ao falar sobre vingança, não estou diminuindo ou negando o sofrimento que a personagem sentiu ao passar por tantos episódios de frustração. Entretanto, há muita mágoa. O desejo de deixar uma fita para alguém, alegando que esta pessoa foi um dos motivos pelo qual houve uma morte, me parece perverso.

Confesso que fico preocupado com o aspecto “romantizado” que deram ao suicídio. E, olhando por este ângulo, concordo quando alguns autores têm dito que a série possa ser uma espécie de “gatilho”, já que o suicídio parece ser uma alternativa convidativa para acabar com um sofrimento gigantesco que se tem carregado nos ombros. Apesar disso, em alguns momentos, a personagem suicida discorre sobre o quanto gostaria de ter ouvido algumas coisas e, também, do quanto gostaria de ter sido ajudada. Em algum grau, isso até pode motivar pessoas que experimentam sentimentos semelhantes. Mas é claro que, ao mesmo tempo em que isso pode acontecer, outras pessoas podem se prender no fato de que todas as tentativas da personagem se frustram e, nesse sentido, podem passar a acreditar que não há nada capaz de causar alguma mudança do sofrimento atual.

A despeito de toda discussão, é válido frisar que as pessoas são diferentes, possuem uma história de vida diferente. É possível que para alguns o suicídio se apresente como uma solução (eis aqui o problema do gatilho). Para outros, porém, pode ser uma forma de ver que a ajuda é possível e que a morte em si, pode causar consequências a outras pessoas, gerando sofrimento em quem não merece sofrer. Não há garantias de exclusividades dos prejuízos e, tampouco, dos ganhos – embora eu concorde que, só o fato de que algo indica um risco para um sentido, algum alerta precisa ser feito. De qualquer forma é relativo. Tudo pode ser e, ao mesmo tempo, pode não ser.

Ouvi comentários de amigos, colegas, pessoas no metrô etc. No geral, muitas pessoas ficaram impressionadas com o quanto as pequenas coisas para uns, podem ser grandes para outros. Além disso, mais de uma vez ouvi comentários em que confessavam que, algumas vezes, falhas são cometidas sem que seja percebido.

Eu diria que “Os 13 porquês” tentou abordar diversos aspectos problemáticos em nossa sociedade, porém, ao tentar falar sobre tudo, algumas mensagens ficam superficiais e, com isso, não chegam a alcançar todos os espectadores. Algo que penso ser imprescindível abordarmos é que, tratando-se de uma série realizada pela indústria do cinema, há influências do sistema político que domina o mundo: o capitalismo.

Os tele-espectadores mais críticos perceberam facilmente o mistério constante que se criou a respeito da fita do Clay (um dos personagens da série). Espero que todos concordem que não há motivos para o garoto estar ali. Alguns dirão que ele não ajudou a garota suicida, que se omitiu. Aos que acharem isso, sejam empáticos, por favor. Era o jeito do rapaz, ele não deixou de fazer porque quis, mas não fez por não conseguir. Mas, voltemos ao capitalismo. Há um suspense demasiado a respeito das personagens a quem cada episódio se refere e, principalmente no caso do Clay, em vários momentos citam a fita dele como se fosse uma das mais graves, o que não se confirma.

Por fim, todos esses aspectos foram apresentados para que pudéssemos pensar considerando uma série de possibilidades e, também, pontos de vistas que, em alguns momentos, se contrapõem. Uma vez que a série está aí e dividindo opiniões, vamos tentar discutir a partir de algo que pode ser válido para nossa prática. Aos leitores que assistiram e ficaram muito impressionados, não pensem que a intenção dos criadores é unicamente alertar o mundo sobre os riscos da depressão, do bullying etc, eles (também) querem vender.

Este texto também foi publicado em: Educa2.

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