Feridas na alma: Falando sobre Relacionamento Abusivo


Por: Maicy Rodrigues Araújo

“Mulher que bebe é muito feio”, “Não adianta se fazer de santa que eu sei que não és”, “Por que você tá dançando assim? Estás te expondo ao ridículo!”, “Não pinta o cabelo dessa cor, não corta curto, homem gosta de cabelo comprido”, “Tatuagem? Credo! Não faz!”, “Você tem que me entender, eu só fiz isso por estar passando por um momento difícil”, “A culpa é sua, você me fez agir assim”, “Eu faço isso porque te amo”, “Não te quero falando com fulano e beltrana”, “Você está passando muito tempo com sua família”, “Mulher direita não fica saindo por aí sozinha”, “Ficas ridícula quando faz isso”, “Você me provocou”!

Intermináveis socos na alma, pontapés no coração. Feridas invisíveis aos olhos dos outros, que procuram por sinais de violência física para caracterizar um relacionamento abusivo. Perto de TANTA humilhação, silêncios hostis, diminuição de autoestima, falas carregadas de preconceito e chantagem emocional… De verdade, fico me perguntando se tudo isso não dói bem mais que um tapa na cara.

A violência a que somos submetidas em um relacionamento abusivo geralmente começa de maneira sutil. São comentários “inofensivos” (segundo o agressor) e “brincadeiras”, que ferem emocional ou fisicamente. A tortura é lenta e quando você se dá conta, está em um jogo psicológico e adivinha? A culpada é sempre você. Tudo que acontece tem um único motivo e é você. O desejo de controle do agressor sobre a vítima cresce à medida que vamos concordando e aceitando o que é imposto por ele.

Começamos então a duvidar do que realmente somos e fazemos. “Será mesmo que eu estava falando tanta besteira ontem?”, “Será que essa saia é vulgar e eu deveria andar mais coberta?”, “Acho que realmente, eu posso ter feito papel de boba”, “Melhor eu ficar calada pra não passar vergonha”…nesse momento, começa a pior perda do mundo. A perda de nós mesmas.

O meu ponto de referência passa a ser o outro. O meu eu fica engolido e massacrado de vergonha, críticas e medo. Um medo enorme de perder a única pessoa que ainda se interessa por um ser tão ruim como eu. Afinal, eu sou detestável, mas o outro está me dando uma chance. Nossa, ele deve me amar muito! E quando você acha que pode questionar alguma atitude dele, “você é dramática”, “você inventa coisas onde não tem”!

E aí eu me afasto de tudo que eu acredito, das coisas que eu gosto, das pessoas que eu amo. Deixo de fazer tanta coisa e abdico de outras. Tudo em nome do amor. Tudo porque ele quer meu bem. “E ele é tão bom para mim. Ele nunca me encostou a mão. Mas por que será que eu vivo me sentindo um lixo?”
As pessoas de fora acham tudo tão absurdo, “como ela não percebe que ele a manipula?” “Essa aí gosta de sofrer mesmo”, “nossa, que mulher burra”. E o pior, muitas vezes – e em sua maioria – esses dizeres vem de mulheres.

Se você se identificou com alguma coisa que eu escrevi aqui, é o momento de olhar pra sua relação com mais cuidado e se questionar o que está acontecendo. Pode ser que você esteja vivendo um relacionamento abusivo. Uma das partes mais difíceis, muitas vezes, é assumir isso. Acontece e pode acontecer com qualquer uma de nós. Da mais madura e esclarecida até a mais jovem e sem muita instrução.

Não se culpe, não se cobre. A culpa não é e nunca será sua. E se você conhece alguém que esteja passando por isso, esse alguém precisa da sua compreensão e do seu apoio, não do seu julgamento.

Questione o que te mantém nesse relacionamento. Esse é um momento importante de procurar a psicoterapia e trabalhar o autoconhecimento, resgatar suas potencialidades, se fortalecer e descobrir que sim, uma relação pode ser saudável.

Só não esqueça que para isso, ambos tem que querer a mudança. E infelizmente, nem sempre isso é possível.

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Colunista:

Maicy Rodrigues Araújo
CRP 10/03113

Maicy Rodrigues Araújo é Psicóloga, formada pela UNAMA (Universidade da Amazônia). É especialista em Desenvolvimento Infantil pela UEPA (Universidade do Estado do Pará), possui MBA em Gestão de Pessoas pela FACI (Faculdade Ideal) e cursou o Programa de Educação Continuada em Psicopedagogia (ABED). É Aprimoranda em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Gestáltica pelo GEGT (Grupo de Estudos Gestálticos).
Atualmente, trabalha como Psicóloga Clínica e Orientadora Profissional em consultório particular e na modalidade online.
Escreve e administra o instagram @_tododiapsicologia_, com a idéia de levar Psicologia de fácil acesso ao dia a dia das pessoas. Idealizadora do programa OPT (Orientação Profissional para todos), dando palestras gratuitas em diversas escolas no estado do Pará sobre a escolha consciente da profissão.
É de Belém/Pará.

Contato:
(91) 98839-7900 
maicyrodrigues@gmail.com

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Sapatos vermelhos


Por: Maria Emília Bottini

Dia desses preparava o almoço com a televisão ligada. Ouvia, de forma distraída, ao noticiário diário, pois atualmente as más notícias predominam, mas não ouvir, não significa que não existam. Uma imagem chamou-me a atenção: eram pares de sapatos espalhados pelo chão da calçada e alguns eram vermelhos, minha cor favorita, então resolvi dar atenção ao que viria a seguir.

Era uma homenagem às mulheres que sofreram algum tipo de violência. Pares de sapatos foram espalhados no Parque da Redenção, na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Os pares de sapatos estavam representando bem mais que a vaidade feminina, faziam menção à intensa quantidade de mulheres vítimas da violência no estado, que não é diferente de outras capitais desse país varonil.

Uma das entrevistadas afirmou: “se você parar para pensar são as mulheres que nunca mais vão pegar seus sapatos”. Achei essa frase comovente e tocante. Ela pesou em mim. Nunca mais vão pegar seus sapatos porque foram mortas ou não puderam resgatar seus pertences. Também sou mulher e já atendi muitas mulheres vítimas de violência doméstica com várias consequências para sua prole. Uma dor que não é amenizada sem muito falar, muito chorar a dor de ser mulher em uma cultura machista e, por vez perversa, que mata a autoestima das mulheres que permanecem vivas.

De fato, as mulheres que morrem vítimas de violência, não podem mais fazer o ato simples de calçar seus sapatos e caminhar, seguir em frente porque sua história foi interrompida, em quase 80% dos casos, por alguém que ela conhecia e lhe era próximo e que muitas vezes jurou-lhe amor, decidiu colocar fim à sua existência.

Esse ato foi inspirado no Movimento Sapatos Vermelhos, o qual espalhou pares de sapatos ao redor do mundo, pedindo a investigação dos assassinatos brutais de mulheres ocorridos no México, na década de 90.

No Rio Grande do Sul, os dados anunciados pela Secretaria Estadual de Segurança alertam que as agressões corporais aumentaram 14,3% e estupros 6,9% no período de janeiro a setembro desse ano. Somos seres violentos, mas somos especialmente mais violentos com as mulheres.

Alguns depoimentos foram dados sem aparecer os rostos, pois são obrigadas pelo medo a se esconder, se proteger. Ao exporem seus rostos na televisão podem ser encontradas e mortas por seus agressores. Suas falas são da dor que a violência traz por vezes aniquilando possibilidades, tornando-as impotentes diante dos maus tratos cotidianos e a longo prazo. Como podemos observar a seguir: “Eu perdi minha liberdade, minha vida e sofri muitas agressões também, físicas e psicológicas principalmente. E estava me sentindo sem rumo, sem autoestima nenhuma e sem vontade de viver principalmente”.

“Hoje sou um caso vivo, “podia” não estar aqui hoje. Eu tenho 82 queixas contra ele. Tenho tentativa de assassinato e ele continua solto”.

Nesses dois relatos pode-se avaliar que a violência deixa suas marcas profundas e difíceis de serem tratadas, a prejudicar relacionamentos futuros e educa muitos filhos na violência, muitas vezes repetindo histórias e violentando esposas, filhos, sociedade. Isso é tudo o que aprenderam em suas vidas, em suas infâncias violentadas. Alguns conseguem romper o ciclo de violência quando se dão conta de suas dificuldades; outros seguem em infindáveis repetições pela vida a fora. Triste realidade a condenar mulheres por serem mulheres, numa sociedade que ainda as concebe como alguém que deve obediência aos seus pares.

O desejo é de poder seguir em frente, como nos aponta outra entrevistada: “Eu quero voltar a viver, eu quero voltar a estudar, quero voltar a trabalhar, eu quero colocar os meus filhos de novo na escola. Porque eles não podem, eles estão trancados dentro de casa. A gente fica trancada dentro de casa enquanto eles estão na rua”.

Caminhar com sapatos de todas as cores ou mesmo descalças e sentir a terra firme sob seus pés e não estar sob a terra, imóveis, sem movimento algum é o desejo de muitas mulheres. Para muitas só fica no desejo, pois foram impedidas de seguir caminhando.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Maria Emília Bottini
CRP nº: 07/08544

Formada pela Universidade de Passo Fundo (RS);
Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF);
Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB);
Autora do livro “No cinema e na vida: a difícil arte de aprender a morrer”;
Assina a coluna “Trocando Ideias” do blog da Clínica Ser Saúde Mental de Brasília.
Contatos:
emilia.bottini@gmail.com.
Página do livro:
Facebook.com/Nocinemaenavidaadificilartedeaprenderamorrer
Clínica Ser Saúde Mental – Coluna Trocando Ideias:
http://sersaudemental.com.br/blog/

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Vamos combater a violência!


Por: Joscelaine Lima

“No dia que for possível à mulher amar em sua força e não em sua fraqueza, não para fugir de si mesma, mas para se encontrar, não para se renunciar, mas para se afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal”. Simone de Beauvoir

A data 25 de novembro foi declarada como Dia internacional de combate à violência contra as mulheres, neste dia são realizados diversos eventos que visam lutar contra esta violência, fortalecer as mulheres para prevenir a violência doméstica, orientar e conscientizar a sociedade quanto ao mal que a agressividade pode causar a todos os envolvidos.

Quando paramos para refletir sobre esta data, pode surgir o questionamento do por que ela existe, visto que existem tantas datas bonitas a serem comemoradas, como Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados, dos Pais etc. Mas existem estas datas de lutas/combates e grande parte da população não conhece, ou não entende o significado e o motivo da sua existência.

Bom, se existe o Dia do Combate à Violência Contra a Mulher e outras datas como esta, é por que existe razão para sua existência, é por que foi necessário criar um dia para levar a conhecimento da população a necessidade de se refletir sobre a violência e buscar formas de combatê-la.

Neste viés, devemos refletir também sobre a criação de algumas leis, como a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, a inclusão de artigos/parágrafos em outras leis, tendo como exemplo a atualização da Lei 8080/90 que versa sobre o SUS – Sistema Único de Saúde, que incluiu em seu Capítulo II Artigo 7º o inciso XIV que traz como princípio o atendimento específico e especializado para vítimas de violência doméstica em geral, garantindo acompanhamento psicológico, cirurgias plásticas reparadoras, entre outros.

Ao nos depararmos com a criação destas leis podemos ver um avanço, e realmente existe um grande passo à frente nas legislações, entretanto, elas nos mostram a triste realidade de que são necessárias! De que existem mulheres e outras pessoas precisando de amparo e ajuda neste sentido, pois foram agredidas, machucadas, destruídas tanto física quanto emocionalmente e se tornou preciso criar leis e dias de lutas/combates para que a sociedade se dê conta do quanto está errada, do quanto tem criado dor e sofrimento.

A violência contra mulher é histórica, os estupros, os abusos de todas as formas, a subserviência, a religiosidade machista e opressiva, tudo isto, durante muito tempo em nossa cultura e ainda hoje em algumas culturas distantes, assim como em algumas mentes defasadas em nosso país (infelizmente) conserva-se a crença de que a mulher é um ser inferior, alguém que deve servir aos homens de todas as formas possíveis, um objeto de prazer e servidão.

Houve tempos em que as leis desfavoreciam muito as mulheres, favorecendo a desvalorização e a violência. A mulher não tinha direito a votar e ser votada, a mulher não podia opinar nos negócios, não era bem vista se não se dedicava apenas aos cuidados da casa, marido e filhos. Não podia decidir se queria ter filhos ou não, não podia reclamar da forma como o marido a tratava, etc.

Até pouco tempo atrás a mulher poderia ser morta pelo esposo caso cometesse adultério, sendo que sua morte não era considerada um crime grave, já que foi cometido “em legítima defesa da honra”. Também poderia ser “castigada” ou morta por motivos fúteis e dificilmente o agressor era considerado culpado e condenado a pagar pelo que fez.

Após tantos anos sendo desvalorizadas, consideradas seres inferiores e humilhadas, muitas lutas começaram a acontecer, aos poucos a mulher foi conquistando espaços, mostrando sua competência e alcançando posições antes dominadas pelos homens. Então, algumas leis foram modificadas e a violência contra a mulher foi paulatinamente sendo considerada de fato crime.

Entretanto, continua infiltrado em algumas culturas e indivíduos a crença de que a mulher é inferior ao homem e não deve sair deste lugar de servidão e anuência, o que tem mantido alguns costumes do passado. Logo, foram estabelecidas Leis e datas como as citadas acima, na busca de conscientizar toda sociedade quanto à gravidade da violência contra a mulher, seja ela física, moral, psicológica, patrimonial e, principalmente levar ao conhecimento das mulheres o que se caracteriza violência, a qual não devem se submeter pois, esta pode ser agravada, tirando-lhe a dignidade, a alegria, a vida…

Portanto, devemos nos conscientizar e entrar neste combate, nós mulheres, nos dar o respeito, não permitir que outros nos desrespeitem, indiferente da relação que for, não aceitar rótulos, não concordar com o machismo, não julgar outras mulheres, mas buscar auxiliar, orientando sobre seu valor e direitos.

Por fim, como cidadãos temos o dever de proteger a humanidade. Existe o ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, porém, ele está mais do que ultrapassado! Vamos exercitar a empatia, nos colocar no lugar do outro e analisar como gostaríamos de ser tratados, tanto os homens (ou pessoa de qualquer gênero) que cometem violência, mesmo que julguem estar correta, quanto a pessoa que percebe violência na casa dos vizinhos, que sabe de alguém que lhe relatou, que se suspeita por apresentar marcas no corpo, enfim, todos temos o dever de denunciar. Violência contra mulher é crime e você pode salvar uma vida deixando sua “discrição” de lado e cultivando a Humanidade!

Referências:

BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Europeia do Livro, 1967.

BRASIL.Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm&gt;. Acesso em: 20 nov. 2017.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Joscelaine Lima
CRP: 12/14672

Psicóloga clínica, formada pela Universidade 
do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) em 2015.
Atende em São Miguel do Oeste-SC.
Contatos:
Facebook.com/JoscelainePsicologia
Whatsapp: (49) 992028970

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A Violência Contra a Mulher tem que parar!


Por: Amanda Santos de Oliveira 

Cada vez mais nos deparamos com novas notícias de mulheres sendo vítimas de abuso físico, sexual ou moral. Se pensarmos bem, o número de notícias é assustador. Porém não porque esse tipo de violência nunca existiu, mas podemos ter noção de como ocasiões anteriores foram subnotificadas e negligenciadas. Um dos primeiros avanços é este: as mulheres têm, em seu tempo, perdido o medo de denunciar. Então é preciso comemorar essa pequena vitória.

No entanto, sabemos que muitas delas ainda não deram este primeiro passo. Faz parte de nosso papel, entender o porquê e incentivar aquelas que vivem qualquer tipo de violência a entenderam sua situação como agressão e não apenas, fruto da normalidade.

Para isso, discutiremos aqui quais são as principais consequências sofridas por vítimas de violência, sejam elas físicas ou psicológicas, em curto, médio ou longo prazo. Que tal falarmos não só do que tem acontecido por aí, mas como essas mulheres vivem seus dias neste contexto?

Contextos de Violência – Consequências em curto prazo e médio prazo

Segundo Schraiber e D’Oliveira (1999)¹, a violência contra a mulher se refere a sofrimentos e agressões dirigidos especificamente às mulheres pelo simples fato de serem mulheres. Isso porque existem situações experimentadas pelo gênero (assédio sexual, moral, violência doméstica, etc.) que refletem uma diferença de estatuto social da condição feminina fazendo parecer que tais situações de violência experimentadas pelas mulheres são experiências usuais de vida.

Algumas das violências sofridas, além de causar os danos já esperados, podem causar danos ainda maiores. Segundo os autores, a violência conjugal tem sido associada com o aumento de diversos problemas de saúde como queixas ginecológicas, depressão, suicídio, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis (DST), queixas gastrointestinais, queixas vagas, dentre outras. Ainda, conforme Schraiber e D’Oliveira (1999) mulheres que sofrem violência física e sexual parecem utilizar mais os serviços de saúde. No entanto, os profissionais de saúde não identificam a violência em prontuário como parte do atendimento.

Além dos casos citados acima, nota-se uma prevalência ainda maior de casos de violência física e sexual em mulheres gestantes. Portanto, a gravidez pode se constituir ainda um risco aumentado para violência.

As estatísticas dos serviços de saúde mostram, segundo os autores, 2,8% de casos de violência doméstica são identificados pelos médicos em uma consulta em serviço de emergência, enquanto o estudo mais detalhado de todo o prontuário mostrou que 9,6% destas mulheres tinham sido agredidas fisicamente e 15,4% delas tinham histórias de lesões prováveis ou sugestivas de violência doméstica. Ainda em São Paulo, um estudo em um serviço de atenção primária mostrou que 57% das mulheres atendidas relataram algum episódio de violência física na vida. Apenas 10% dos casos estavam registrados em prontuário.

Contextos de Violência – Consequências em longo prazo

Além de todas as violências citadas acima, existe ainda a “violência estrutural”. Conforme Schraiber e D’Oliveira (1999), tal violência, campo de estudo da Saúde Pública, chama a atenção para essa violência imperceptível. Tal contexto, já embutido na sociedade, é determinado pela apropriação desigual de bens e informações e é menos visível do que episódios mais agudos como no caso da violência física ou sexual explícita.

Ainda, outra consequência em longo prazo tem sido a nomeação “vítima” permanecer muito associada a mulher historicamente. Para os autores, esta é uma construção social do feminino que concebe a ideia de mulheres como dependentes. Do ponto de vista histórico, a partir daí se dá a construção de uma cultura de “proteção” à mulher que não se confunde com cuidado. A proteção neste aspecto, segundo Schraiber e D’Oliveira (1999), se traduz em uma cultura de sujeitos dependentes, infantilizados como sujeitos sociais que precisam de eterna vigilância e educação rigorosa. Em um passado (não tão distante) isso significava claramente a existência de punições físicas e sanções morais, para o aprendizado das adequadas condutas sociais.

Como é possível notar, em longo prazo isso significa deturpar completamente o conceito de gênero. Entendendo as mulheres como fracas, vítimas que precisam ser ensinadas e em alguns momentos, punidas, sem ao menos existir um questionamento ético a respeito. Sabemos que tais concepções têm sido repensadas, com o esforço do feminismo, a fim de tirar a mulher deste lugar. No entanto, muitas de nós ainda nos percebemos nele.

Sofro violência, o que fazer?

Viver sem violência é um direito. Não é preciso apenas entender isso, mas colocar em prática. A primeira coisa que você precisa saber é que você não precisa (e não irá) passar por isso sozinha. Além de amigos e familiares que podem te ajudar, você tem ainda, meios legais de denunciar e de se resguardar.

Segundo a Agência Pátria Galvão², nos casos de violência doméstica, por exemplo, seja ela física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual a mulher tem direito a acolhida e escuta de profissionais da rede de atendimento a mulheres, medidas protetivas de urgência que podem consistir na proibição de aproximação do agressor, atendimento de saúde e psicossocial especializado e continuado, se necessário e muitas outras medidas. Em casos de violência sexual, existe o direito de diagnóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas demais áreas afetadas, profilaxia de gravidez e contra DSTs, coleta de material para realização do exame de HIV, dentre outras medidas.

Lembre-se: é preciso denunciar! Segundo a Agência Pátria Galvão, a partir do registro de boletim de ocorrência, a autoridade policial tem algumas obrigações, como instaurar o inquérito policial, tomar de imediato, as medidas necessárias para iniciar o inquérito contra o agressor, identifica-lo e intimá-lo a depor, dentre outras providências.

Não sabe como denunciar? A rede de atendimento à mulher vítima de violência pode ser acessada pelo Ligue 180. Segundo o “Dossiê Violência contra as Mulheres” o serviço de ligação gratuita atua desde 2005 e é hoje o principal acesso à rede de enfrentamento à violência contra a mulher do país. Ainda, casos de violações dos direitos humanos das mulheres também podem ser atendidos pelo Disque 100.

Referências:

[1] SCHRAIBER, L. B., D’OLIVEIRA, A. F. L. P. Violence against women: interfaces with Health care, Interface Comunicação, Saúde, Educação, v.3 , n.5, 1999. Disponível em: http://saude.sp.gov.br/resources/ses/agenda/i-encontro-tematico-de-humanizacao/violencia_contra_mulheres_-_interfaces_com_a_saude.pdf. Acesso em: 06/09/2017

[2] Agência Pátria Galvão. Dossiê Violência Contra as Mulheres. Direitos, responsabilidades e serviços para enfrentar os serviços. Disponível em: < http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/acoes-direitos-e-servicos-para-enfrentar-a-violencia/&gt;. Disponível em: 06/09/2017.

Imagem capa: Pinterest

Colunista:

Amanda Santos de Oliveira 
CRP 04/43829

Psicóloga Graduada pela PUC Minas, atuante na área clínica em Belo Horizonte, oferecendo psicoterapia individual para adultos
Contatos:
psi.amandaoliveira@gmail.com
Facebook: facebook.com\psi.amandaoliveira
Instagram: @psicologabh

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Cinzas da Dor


Por: Maria Emília Bottini

Trabalhei por muito tempo com vítimas de violência sexual e doméstica. Cruzaram meu caminho muitas meninas e mulheres sucumbidas, amassadas pela tragédia de serem violentadas em seu corpo, em sua alma feminina.

Lembro com certa frequência de uma menina de cinco anos que atendi no interior de Rio Grande do Sul, que no atendimento relatava: “tia ele fez judiaria comigo”. A violência neste caso foi do tio de quinze anos, que ao praticar a violência o fazia junto com seu irmão de seis anos. Ambos ficaram em minhas memórias e nunca dela se afastaram.

Cruzei dia desses com uma bela mulher com quem convivi por um breve tempo, diria até que este tempo foi atemporal. Sempre que nos encontrávamos nossas conversas eram regadas da arte de fiar o tempo. Em nosso último encontro afirmou que em minha atitude secreta de ouvi-la a havia ajudado muito. Nunca sabemos o quanto ajudamos quando resolvermos ouvir alguém. Não sabemos o por quê somos escolhidos para sermos depositários das memórias da dor. Isso não se dá por acaso na minha concepção, algo me foi deixado naqueles encontros.

Em um desses encontros contou-me da violência sexual sofrida na infância por um membro de sua família, precisamente por seu irmão. Filha de uma prole enorme, algumas barreiras foram rompidas e algo dentro dela se quebrou ao sentir, em tenra idade, que família pode ser algo muito perigoso.

A menina cresceu e fez escolhas por caminhos nem sempre curtos e fáceis, mas sim longos e difíceis, acreditando no sono eterno como solução para seu sofrimento emocional, mas dele foi acordada pelo tratamento psicológico.

A sua narrativa só confirma as estatísticas sobre as violências enfrentadas por crianças do Brasil em que seus violentadores estão próximos, muitas vezes dentro da própria casa, o que dificulta denúncias pelo medo e ameaças feitas pelos abusadores.

Relatou-me uma vivência em sua terapia individual em que sua psicóloga lhe entrega um saco de argila para trabalhar a violência sofrida. No início apenas observa a argila e por ela é observada. Não sabia o que fazer com ela. Silenciosamente pensa, e aos poucos suas mãos magras se juntam ao barro, à terra, ao movimento de mexer e se deixar levar para o encontro do que a faz sofrer e deseja desprender-se de viver.

Mãos, barro e pensamentos guardados num templo de dor, de raiva, de tristeza aos poucos são transformados e tomam formas. Diante do movimento do amassar, fazer e desfazer, diante de si surge um homem, que o deixa de lado. Suas mãos seguem a mexer o barro conduzido pelo inconsciente. O barro transforma-se em um automóvel grande, mais se parece com um trator. Em movimentos rápidos o trator passa várias vezes por cima do homem-irmão. Matando-o, destruindo-o, voltando à condição de barro, de terra.

O homem é seu irmão, mas o trator é ela dessa vez empoderada, com forças renovadas pela mulher que se tornou agora e consegue enfrentar o homem-irmão. Ela é vencedora nesta luta, porque agora é dona de seu corpo. Aos sete anos, a menina dentro dela, não conseguiu defender-se.

Ao finalizar a ação-destruição refere que se sentiu bem, simbolicamente matando o violentador de sua meninice, desmancha de alguma forma o que está dentro de si colocando diante dos olhos, amassando o passado que ainda dói. Confesso que ouvindo a história senti certo encanto pelo entendimento construído pela mulher adulta resgatando sua força, sua potência, sua feminilidade. Demarcando um novo tempo em seu existir como mulher.

Após essa atividade sua psicóloga solicita que junte os objetos e produza algo novo. As mãos a mexer e remexer o barro, já não são mais trator e homem-irmão, tornam-se outra coisa, hora é uma casa que se desfaz, hora borboleta com asas longas, mas em definitivo um jarro é talhado. Um jarro grande e bonito. Jarros são geralmente usados para colocar água que simboliza a origem da vida, a fecundidade, a fertilidade, a transformação, a purificação, a força, a limpeza. Esse objeto tem um espaço vazio, representa o novo criado para colocar novas experiências e novas formas de interpretar e resignificar o vivido.

Meses se passam após aquela sessão e decide escrever. Suas palavras brotam entre lágrimas. Leva para a sessão de terapia sua escrita da dor; ao ler chora compulsivamente suas recordações de menina que cresceu com medo de homens.

Sua psicóloga questiona o que deseja fazer com o texto, afirma que deseja rasgar e assim o faz. A psicóloga apanha na estante o jarro que recebe os pedaços rasgados e após depositar os papéis, pergunta se poderia atear fogo. Silenciosamente vê a combustão acontecendo consumindo o papel, a violência, a dor, em alguns minutos tudo isso é transformado em cinzas.

Simbolicamente o fogo queima mais que os papéis com escrita da violência sofrida, queima a memória do vivido.

Lembrei-me da Fênix da mitologia grega, pássaro que quando morria, entrava em autocombustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas, podendo se transformar em uma ave de fogo. Outra característica da Fênix é sua força que a faz transportar em voo cargas muito pesadas, há lendas nas quais chega a carregar elefantes.

Naquela despedida ganhei mais que um abraço e um até breve, recebi a história da Mulher-fênix renascida das suas cinzas da dor para alçar novos voos rumo e horizontes.

Imagem capa: Pinterest

Colunista:

Maria Emília Bottini
CRP nº: 07/08544

Psicóloga da Clínica Ser Saúde Mental e Rehab Wellness Center.
Formada pela Universidade de Passo Fundo (RS).
Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB).
Autora do livro “No cinema e na vida: a difícil arte de aprender a morrer”.
Atende em Brasília (DF).
Contatos:
emilia.bottini@gmail.com.
Página do meu livro:
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Clínica Ser Saúde Mental – Coluna Trocando Ideias:
http://sersaudemental.com.br/blog/

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Dormindo com o inimigo? 12 indícios para avaliar o seu relacionamento


Por: Maria Fernanda Medina Guido

Entre janeiro a outubro de 2015 foram registradas 63.090 denúncias de violência contra a mulher, o que corresponde a um relato a cada 7 minutos. Dentre estas denúncias, 19.182 (30,40% do total) são classificadas como denúncia de violência psicológica. Um número assustador, mas que infelizmente é muito maior, pois muitas vezes a mulher leva muito tempo para entender que está vivendo um relacionamento abusivo ou percebe, mas nada consegue fazer. Pensando nisso, entendendo o quanto pode ser tênue a linha entre um relacionamento saudável e o tóxico, segue sinais que podem indicar se o seu relacionamento é abusivo:

Importante! Estes indícios servem para homens e mulheres em qualquer que seja o tipo de relacionamento, afinal de contas não são só homens que cometem abusos e só mulheres que sofrem os mesmos:

1 – Você foi obrigada a se afastar de amigos ou familiares: vocês podem até acordar que agora que iniciaram um relacionamento não seria legal você conversar com seu ex namorado 3x ao dia, mas isso desde que o que foi combinado esteja confortável, valha para ambos e seja em casos pontuais. Se você tiver que abandonar grande parte das pessoas que fazem parte da sua vida desde sempre para viver esse amor, sinal de alerta!

2 – Você teve que excluir pessoas de suas redes sociais: mesmo princípio do 1. exemplo. As redes sociais são suas. Havendo o devido respeito (mútuo obviamente) quem deve escolher quem faz parte delas ou não deverá ser sempre você.

3 – Você já foi monitorada a distância, tendo que dar muitas explicações e detalhes sobre onde estava e com quem: faz parte da maioria dos relacionamentos dar satisfações sobre o que está sendo feito na ausência do outro. Uma coisa é você contar com quem foi a tal lugar e comentar um ou outro assunto que esteve em pauta. A outra é você ter que fazer um relatório completo e minucioso sobre tudo e todos de hora em hora e muitas vezes enquanto você ainda está no local.

4 – Você já foi proibida de fazer alguma coisa: um programa com amigas, uma viagem ou tirar a habilitação de motorista por exemplo: tudo deve ser conversado. Muitas pessoas podem não se sentir confortáveis vendo o outro organizar uma viagem onde não está sendo incluído, por exemplo. Mas a não ser que haja algum acordo prévio sobre isso e que ambos respeitam e concordam, a palavra “proibir” não deve fazer parte de nenhum relacionamento. Agora, se você é impedida de fazer qualquer coisa sozinha ou que possa representar um passo rumo a sua independência vale a pena redobrar a atenção.

5 – Você já foi julgada por seu namorado/marido/rolo/etc pelas roupas ou maquiagem que estava usando sendo obrigada a tirá-las para que vocês pudessem finalmente sair: Ok, vivemos numa sociedade onde infelizmente somos julgados pela aparência. Porém, isso não dá o direito a ninguém determinar que tipo de roupa você deve vestir. A decisão de escolher o que vestir deve ser sempre sua.

6 – Você já foi ou vai a muitos lugares onde não quer ir: fazer concessões faz parte de relacionamentos. Mas em relacionamentos saudáveis costuma haver equilíbrio. Se há a sensação de que praticamente o tempo inteiro você faz programas que não concorda ou não gosta e o contrário nunca acontece, cuidado.

7 – Você está errada em absolutamente todas as discussões ocorridas, mesmo que a princípio quem tenha pisado na bola tenha sido o outro: uma das características de um relacionamento abusivo é que por passar por tantas situações onde a pessoa precisa se deixar de lado e passar por cima de suas vontades, ela vai se tornando cada vez mais insegura, sua autoestima vai sofrendo abalos e por conta disso ela passa a se questionar mais que o normal, como se a opinião do outro devesse valer mais do que a sua sobre tudo. Por esse motivo geralmente o manipulador consegue contornar a situação em discussões mudando o foco da conversa e pondo a culpa por tal situação em você mesma.

8 – Você já foi ameaçada direta ou indiretamente: dizer que se mata caso você termine o relacionamento porque não vive sem você ou que te mata se souber que você o traiu, não deve ser entendido como romântico ou fofo em hipótese alguma, são ameaças, não juras de amor.

9 – Você percebe que o outro não fica feliz quando você conquista algo: amor deve envolver torcida, empatia, parceria. Assim como costumamos ficar felizes por um amigo ou familiar quando o mesmo conquista algo, isso deve acontecer num relacionamento amoroso. Se ele não consegue se alegrar quando você conseguiu algo e ele não, atenção.

10 – Você já se sentiu diminuída por ele, seja por sua aparência, inteligência ou habilidades: há espaço para todos no mundo. Ninguém precisa diminuir ninguém para se sobressair. Viver ao lado de alguém que te critica demais ou te desvaloriza continuamente fará um grande estrago em sua autoestima. Uma coisa é a crítica construtiva, onde o outro quer nos ver progredir, outra coisa é a crítica gratuita, que só serve para nos magoar e nos deixar mais inseguros.

11 – Você já foi obrigada a ter relações sexuais quando não estava com vontade porque o outro deixou claro que isto fazia parte das suas obrigações: ninguém é obrigado a nada. Se você não está a fim, ponto final. Se ele não consegue aceitar um não, existem ótimos profissionais para ajudá-lo a entender que nem sempre as pessoas agirão de acordo com o que ele deseja.

12 – Você se sente manipulada o tempo inteiro: não é normal se sentir num enredo de novela mexicana o tempo inteiro. Relacionamentos devem trazer paz, conforto, alegrias. Se o seu relacionamento te traz angústias, servidão, medo e insegurança a maior parte do tempo, talvez valha a pena pensar um pouco sobre tudo isso.

Se tiver se identificado com o texto mas ainda estiver em dúvida se está realmente vivendo num relacionamento abusivo, pense na pessoa que você era antes de conhecê-lo e na pessoa que você é agora. Você está mais feliz? Você mudou? Se sim, foi para melhor? Se você já ouviu de mais de uma pessoa que fazia parte da sua vida antes deste relacionamento que você mudou e não foi para melhor e que essa relação é uma furada, pense bem. Você pode até considerar que é implicância da sua amiga com o pobre coitado, mas se essa for a opinião de mais de 5 pessoas, corra. Elas muito provavelmente estão certas. E tenho certeza, você merece mais que isso.

Dados: Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM – PR) e Ligue 180.

Imagem: Pinterest

Colunista:

Maria Fernanda Medina Guido
Psicóloga – CRP 06/96825

Psicóloga formada pela Universidade Metodista de Piracicaba em 2006, especializada em Gestão de Pessoas pelo IBMEC, com mais de 10 anos de experiência em Recursos Humanos, atendendo individualmente adultos na abordagem Gestalt Terapia nas mais diversas queixas, desde 2012 em clínica particular e convênios.
Contatos:
http://www.mfernandapsicologa.com.br
(11) 97452-5200
e-mail: contato@mfernandapsicologa.com.br
Facebook.com/psicologamfernanda

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Quais são os aspectos psicológicos que a violência doméstica causa?


Por: Renan Gomes Lara 

Ao entendimento, a história feminina é ainda desconhecida pela sociedade, pois existem as desigualdades entre o sexo masculino e feminino. Observa-se no tema da violência doméstica que a construção dos papéis diferenciados atribui normalmente à mulher o lugar de inferioridade, sendo assim, passa a ser submissa a vontade do homem e quando age de forma oposta, nesse contexto, é agredida.

Disposto a essa dinâmica de conhecimento, compreendemos que a violência doméstica é um fenômeno muito complexo, pois diversas são as causas para a permanência neste ciclo de dor e sofrimento, assim os danos são significativos à estrutura emocional da mulher, além de constituir uma violação aos seus direitos como cidadã.

Os estudos dos autores supracitados identificaram as principais consequências psicológicas que afetam a saúde psíquica das mulheres vítima de violência doméstica e suas relações no âmbito familiar correlacionando com a psicologia. Nestes aspectos foram encontrados os sintomas mais comuns que são insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos autodestrutivos como: o uso de álcool, drogas, ou mesmo tentativas de suicídio.

Nessa concepção compreende-se que a violência atinge todas as classes sociais, idades, culturas, etnias, religiões e está presente na sociedade machista de uma forma geral. Traz diversas sequelas psicossociais como: medo, isolamento, tristeza, baixa autoestima, ansiedade, vergonha, pois sempre será cobrada por seus atos.

Esse fenômeno crescente divulgado nos meios de comunicação ainda causa grande desconforto, pois a sociedade de forma geral é leiga e não consegue formar uma opinião concreta a essa temática, assim parte para o julgamento e culpabiliza a mulher por suas atitudes, fazendo com que a mesma perca a sua autonomia em relação a sua própria vida conjugal.

Cabe ao psicólogo se pautar nessa temática da violência doméstica, contribuindo em toda a sua vertente para o resgate dessa mulher com técnicas de escuta qualificada, acolhimento, procurando olhar de maneira holística esse ser humano fragilizado que tanto busca um atendimento em momento de total desamparo.

Neste sentido a psicologia também busca compreender essa problemática e as diferentes formas de manifestação de tal fenômeno a fim de proporcionar uma assistência adequada a essas vítimas, fortalecendo a autonomia, a autoestima, seu poder de decisão, desejos e vontades que ficaram anulados durante todo o período em que permaneceram nesta relação marcada pela violência e assim possibilitando o surgimento de novas alternativas para lidar com esta questão.

Referência

SANTOS, Maria Antonia dos. Aspectos psicológicos causados em mulheres vítimas de violência doméstica./ Maria Antonia dos Santos./ Renan Gomes Lara – Campo Grande: Faculdade UNIGRAN Capital, 2016.

Imagem: Pinterest

Renan Gomes Lara

Estagiário de Psicologia na Prefeitura de Campo Grande – MS
Atua na promoção da saúde com escuta qualificada, acolhimento e presta informações aos usuário do Sistema Único de Saúde – SUS na Unidade de pronto atendimento – UPA.
Estudante de Psicologia na Faculdade Unigran Capital em Campo Grande – MS
Atuou na Caravana da Saúde na cidade de Campo Grande
Participa do Projeto Posso Ajudar
Contatos:
Whatsapp: (67) 99269-9508
E-mail: reenamportales@gmail.com

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Dia Internacional da Luta Contra a Violência à Mulher – Como posso ajudar?


Por: Amanda Santos de Oliveira

Hoje é o dia que, especialmente, nos atentamos a essa causa. Obviamente, a luta contra a violência à mulher deve ter nossa atenção todos os dias. Mas, o dia 25 de novembro foi uma data escolhida pelo mundo inteiro para atenção a esta temática. Então, tire um momento do seu dia para entender a importância dessa luta e porque todos devem se envolver no combate a tal violência.

Contexto Histórico

Segundo o portal Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz[1], a data de 25 de novembro foi estabelecida no primeiro encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe realizado em Bogotá. O estabelecimento deste marco se deu em homenagem às irmãs Mirabal: Pátria, Minerva e Maria Teresa. Tais mulheres foram brutalmente assassinadas pelo ditador Trujilo em 25 de novembro de 1990 na República Dominicana.

Minerva e Maria Teresa foram presas várias vezes entre 1949 e 1960. Minerva era conhecida como Mariposa no exercício de sua militância política clandestina. Segundo apresenta o portal, ao regressar de Puerto Plata, onde os maridos das três irmãs estavam presos, as mulheres foram detidas na estrada e assassinadas por agentes do governo militar. Tal acontecimento gerou grande rechaço nacional e acelerou a queda do ditador no comando.

Tipos de Violência

Apesar deste acontecimento já ter ficado para a história, os casos de violência contra a mulher ainda são assustadores. Mas, primeiro, se torna necessário entender o que e quais são os tipos de violência praticados contra mulheres. Nesse sentido, o Portal Brasil[2] em sua seção de cidadania e justiça, apresenta alguns comportamentos violentos que mais se relacionam aos casos de violência:

  • Humilhar, xingar e diminuir a autoestima;
  • Tirar a liberdade de crença;
  • Fazer a mulher achar que está ficando louca;
  • Controlar e oprimir;
  • Expor a vida íntima;
  • Atirar objetos, sacudir e apertar os braços;
  • Forçar atos sexuais desconfortáveis;
  • Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obriga-la a abortar;
  • Controlar o dinheiro ou reter documentos;
  • Quebrar seus objetos.

Tais atos são muito característicos da violência doméstica e como é possível notar, nem sempre a agressão está relacionada a atos físicos. Este tipo de comportamento e muitos outros acontecem todos os dias e podem estar ocorrendo agora com familiares ou pessoas próximas a você. Todo comportamento violento deve ser combatido e não existem justificativas para tais.

Estatísticas da Violência

Segundo Ana Lis Soares em reportagem para o site Terra[3], mulheres são alvo de diversos tipos de violência, desde o assédio verbal até a morte. Segundo a ONU, sete em cada dez mulheres no mundo já foram ou serão violentadas em algum momento da vida. Entre os casos de feminicídio (termo usado para designar toda violência contra a mulher que leva ou pode levar à morte), 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por parceiros íntimos. Segundo relatos da polícia e registros da OMS, tais casos têm crescido nos últimos anos entre mulheres grávidas.

Ainda, segundo reportagem do site Terra, a ONU estima que, no mínimo, 5 mil mulheres são mortas por “crime de honra” no mundo por ano. Os chamados “crimes de honra” são assassinatos de mulheres ou meninas a mando da própria família, por suspeita de caso de transgressão sexual (quebra de regras ou tabus) ou de alguns comportamentos considerados intoleráveis como adultério, relações sexuais, gravidez fora do casamento e até em casos de vítimas de estupro.

Além desses casos, existem outros tipos violência presentes em algumas partes do mundo, relacionadas a estruturas culturais ou religiosas. Alguns exemplos são assassinatos por dote (25 mil mortes por ano), casos de casamento forçado (100 milhões de vítimas durante a próxima década), mutilação genital feminina (mais de 135 milhões de vítimas), dentre outras configurações.

No Brasil, segundo o jornal Estadão[4], nos dez primeiros meses de 2015 foram registradas 63.090 denúncias de violência contra a mulher, o que corresponde a um relato a cada sete minutos no país. Entre estes registros, quase metade corresponde a denúncias de violência física e 58,55% foram relatos de violência contra mulheres negras. Além disso, o Ligue 180, registrou 9.182 denúncias de violência psicológica (30,40%), 4.627 de violência moral (7,33%), 3.064 de violência sexual (4,86%) e 3.071 de cárcere privado (1,76%). Mais de 80% dos casos ocorreram em situações de ambiente doméstico e familiar.

Como lutar?

Como demonstrado acima, a realidade da violência de gênero ainda está muito presente. Mas, como, em nossa casa, com nossos familiares e amigos podemos combater a violência? Primeiro, esteja atento(a) à sinais: marcas no corpo de amigas ou familiares, relatos de brigas que fugiram ao controle, relatos de casos de violência psicológica, etc. Muitas dessas vítimas ainda não denunciam e os motivos podem ser muitos. Portanto, ajude na conscientização daqueles que estão próximos a você para prevenir tais situações.

Mas, como chegamos a este ponto? Infelizmente, a sociedade, apesar de modernizada em alguns aspectos, ainda mostra-se extremamente machista e preconceituosa em relação às mulheres. Esteja atento(a) também a este tipo de comportamento que pode aparecer em comentários sexistas, ações de subjugação de mulheres ou brincadeiras machistas que parecem inofensivas. A violência não começa no ato em si, mas se inicia com um pensamento, um preconceito e/ou uma intolerância. A prevenção se torna muito mais fácil quando aprendemos a controlar e combater os comportamentos que nos parecem pequenos e inofensivos, mas que podem ser o início de algo muito maior.

Referências:

[1] Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz.  25 de novembro –  Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. Disponível em: <http://www.centrodireitoshumanos.org.br/25-de-novembro-dia-internacional-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/&gt;. Acesso em 20 de nov. de 2016.

[2] Portal Brasil. Violência contra a mulher não é só física; conheça outros 10 tipos de abuso. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/12/violencia-contra-mulher-nao-e-so-fisica-conheca-10-outros-tipos-de-abuso&gt;. Acesso em 20 de nov. de 2016.

[3] SOARES, Ana Lis. Violência Contra a Mulher. Notícias Terra. Disponível em: < https://noticias.terra.com.br/mundo/violencia-contra-mulher/&gt;. Acesso em 20 de nov. 2016.

[4] O Estado de S. Paulo. Brasil tem 1 denúncia de violência contra mulher a cada 7 minutos. Disponível em: < http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-1-denuncia-de-violencia-contra-a-mulher-a-cada-7-minutos,10000019981&gt;. Acesso em 20 de nov. de 2016.

Imagem: Pinterest

» 25 de Novembro: Dia Internacional da Luta Contra a Violência à Mulher

Colunista:

Amanda Santos de Oliveira
CRP 04/43829

Psicóloga Graduada pela PUC Minas, atuante na área clínica em Belo Horizonte, oferecendo psicoterapia individual para adultos
Contatos:
psi.amandaoliveira@gmail.com
Facebook: facebook.com\psi.amandaoliveira
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Violência contra a mulher: a luta continua


Por: Juliana Lima Faustino 

Temos vivido um tempo de muitos avanços no que diz respeito à conquista dos direitos das mulheres. A luta pela equidade de gênero tem mostrado seu resultado e, cada vez mais, as mulheres têm conquistado seus direitos em diferentes âmbitos da sociedade. A aprovação da Lei Maria da Penha, que acabou de completar dez anos, por exemplo, foi um importante avanço na defesa da mulher contra as diferentes formas de violência sofrida por ela.

Mas, a despeito dessas conquistas, ainda há muito que ser feito no que diz respeito ao combate à violência contra a mulher. Todos os dias, mulheres de todas as idades, cores e classes sociais, sofrem violência física, sexual e psicológica. A sociedade machista em que vivemos ainda responsabiliza as mulheres pela violência sofrida, pelas roupas que usam, os lugares que frequentam ou pelo tipo de trabalho que realizam. Este tipo de discriminação é muito comum e torna a violência contra a mulher um fato banal na sociedade.

Dentre as várias formas de violência sofrida pela mulher, a violência doméstica ainda é o tipo de violência mais comum, na maioria dos casos essas mulheres sofrem agressões físicas, sexuais e psicológicas do próprio parceiro que, a principio, começam com xingamentos, humilhações, chantagens, comportamentos agressivos esses que, muitas vezes, são conseqüência de ciúmes, abuso de álcool ou drogas e que só pioram com o passar do tempo.

Todos os dias mulheres são marcadas não só fisicamente, como psicológica e emocionalmente. Algumas mulheres sofrem durante anos humilhações e agressões verbais que diminuem a autoestima, levando-as a experimentarem a insegurança, isolamento, depressão e muitas outras conseqüências que prejudicam a qualidade de vida. Nessas circunstâncias, essas mulheres, ainda sofrem chantagens de seus parceiros que as intimidam com ameaças caso elas denunciem a violência, são mulheres que sofrem caladas, sem perspectiva alguma de mudança.

É preciso entender também que a violência contra a mulher causa estragos em toda a família e também na sociedade. Filhos crescem em lares com pais, padrastos ou tios violentos e acabam reproduzindo esse comportamento na escola, nas ruas e entre amigos e familiares. Por fim, essa criança torna-se um adulto violento com o mesmo comportamento que aprendeu durante a infância.

O combate à violência contra a mulher encontra ainda muitas barreiras. Muitas mulheres não possuem informações, não sabem que sofrem violência e nem mesmo sabem onde buscar ajuda. Além da falta de informação, muitas mulheres ainda passam por dificuldades ao procurar serviços de saúde, delegacias de polícia, Instituto Médico-Legal ou serviços de apoio jurídico que, em geral, banalizam o problema e diminuem o sofrimento da vítima.

Para que haja mudanças nos índices de violência contra a mulher é preciso combater a forma naturalizada como é ela vista, este tipo de violência é um problema social, de todos nós e, principalmente, do Estado que deve garantir assistência, prevenção e punição para esses casos. Além disso, é preciso investir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Uma questão que demanda educação, trabalho e tempo.

» 25 de Novembro: Dia Internacional da Luta Contra a Violência à Mulher

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Colunista:

Juliana Lima Faustino
CRP 05/43780

Psicóloga clínica (PUC-Rio 2008), terapeuta cognitivo-comportamental (Cepaf-RJ 2011), Psicóloga na ONG Pra Melhor. Experiência clínica no tratamento de transtornos de ansiedade, estresse, depressão, relacionamentos e transtornos alimentares.
Contatos:
Cel: (21) 98108-1978
E-mail: julianafaustinopsi@gmail.com
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Blog: Cuidando das Emoções: www.psijulianafaustino.wordpress.com
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A culpa não é sua!


Por: Amanda Santos de Oliveira

Diversas vezes no consultório me deparo com mulheres que acreditam serem culpadas por tudo que acontece com elas. Naturalmente, muitas carregam responsabilidades que não são delas, seja no trabalho, em casa, com os filhos, familiares e os demais círculos que ela possa transitar.

Mas esses casos, não são os mais preocupantes a meu ver. O que mais me espanta é que hoje, em um mundo cercado de informações de todos os lados, ainda é possível encontrar mulheres que se culpam por terem sido abusadas fisicamente ou emocionalmente, em todos os graus de comprometimento que tais abusos acarretam.

Estatísticas Atuais

Os números relacionados a casos de estupro e assédio sexual ainda são assustadores. Segundo a BBC[1], em 2014 um caso de estupro é notificado a cada 11 minutos. Ainda, conforme pesquisa feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a partir de dados do Sinan de 2011 (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no mínimo 527 mil pessoas são estupradas por ano no Brasil. Pra se ter uma ideia, esse número lotaria aproximadamente 6,6 estádios do Maracanã. Lembrando que tais dados se referem apenas aos estupros notificados que conforme os dados da revista Época[2] são apenas 35%.

            Além disso, quantas pessoas ainda acreditam que a vítima é a culpada. A BBC nos mostra que, segundo dados da Ipea de 2013, 26% acreditam que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” e ainda 58,5% concordam total ou parcialmente com a afirmação “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveriam menos estupros”.

Vítimas que se acham culpadas – “Cultura do Estupro”

            O mais assustador de tudo é que muitas vezes, nossa sociedade leva a fazer com que as vítimas se sintam culpadas. Atualmente temos nos deparado com o que alguns sociólogos chamam de “cultura do estupro”. Tal termo, conforme explicitado pelo Politize![3] tem sido usado desde a década de 70,  época que foi chamada de segunda onda feminista. Este conceito aponta comportamentos sutis ou explícitos que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher.

Essa cultura foi disseminada por diversas ideologias. Tais delas, segundo o Politize! podem ser vistas, por exemplo, na ideia de interpretar o “não” de uma mulher como um jogo de sedução, em que ela realmente não quer dizer o que está dizendo. Ainda, naquela ideia de que o caráter ou a intenção de uma mulher podem ser avaliados a partir de sua aparência ou sua roupa. Além disso, no famoso “fiu-fiu” nas ruas, em que os homens se sentem no direito e liberdade de abordar as mulheres em qualquer espaço ou contexto.

            Nesse mundo, em que tantas pessoas pensam que as mulheres são realmente culpadas, como uma vítima se atreverá a pensar diferente?

Violência Ampliada

            Tais apontamentos ainda não trazem as reais dimensões dos casos de assédios sejam eles físicos ou psicológicos. Casos que podem ser notados constantemente em nosso dia a dia. Um fator ainda mais preocupante é que muitos de nós não identificamos certos comportamentos como abusivos.

            Existem muitas mulheres hoje presas em relacionamentos tóxicos em que seu parceiro dita seu modo de vestir, seu corte de cabelo, a cor do seu esmalte e tantas outras coisas. Ainda, muitos parceiros não hesitam em controlar dietas e apontar “defeitos” em sua aparência. Isso porque, em nossa cultura, ainda temos exemplares de “beleza ideal” em todos os meios de comunicação que massacram a grande maioria das mulheres.  Assim, muitas mulheres vão vivendo como marionetes de seus parceiros, comportando-se como acham que mais irá agradá-lo.

            Tudo isso é violência. Você pode vestir o que quiser, andar como quiser, usar cabelo curto ou longo, independente da “preferência nacional”. Você pode usar biquíni ou maiô, sem se preocupar com o que os outros pensam e sem se sentir um pedaço de carne na vitrine. Você pode comer um chocolate, você pode usar saia, mesmo que não seja verão.

Responsabilidades a quem se deve

            Faça sempre essa pergunta a você mesmo: isso é mesmo minha responsabilidade? Nos casos de violência, pense que a resposta é clara: Não! Você não tem responsabilidade pelas atrocidades de outras pessoas e não tem culpa de ter sido violentada. Você é vítima!

            Mas, ainda, amplie essa ideia. Pense nas responsabilidades que tem trazido para si e se realmente elas são suas. Pense no seu papel no trabalho, em casa, na comunidade e nos demais contextos que você vive. Atrair para si responsabilidades que não são suas, podem te fazer sentir bem por algum momento, por trazer aquela falsa sensação de que “só serei uma boa pessoa para alguém se fizer o máximo que puder para ela”, mas no fim, isso só está te sobrecarregando e te esmagando com expectativas que na verdade, nem são suas.

Referências citadas:

[1] Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36401054. Acesso em: 08/10/2016.
[2] Disponível em: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/05/apenas-35-dos-casos-de-estupro-no-brasil-sao-notificados.html. Acesso em: 08/10/2016.
[3] Disponível em: http://www.politize.com.br/cultura-do-estupro-como-assim/. Acesso em: 08/10/2016

Imagem: Pinterest

Amanda Santos de Oliveira
CRP 04/43829

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“Por que tantas mulheres não conseguem sair de relacionamentos abusivos?”


Por: Ane Caroline Janiro

“3 em cada 5 mulheres jovens, entre 16 e 24 anos, já sofreram violência em relacionamentos amorosos.” – Data Popular – Instituto Patrícia Galvão, 2014

“54% das pessoas conhecem uma mulher que já foi agredida, e 56% conhecem um homem que já praticou agressão contra uma mulher.” – Data Popular – Instituto Patrícia Galvão, 2014

“Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo.” – IPEA, 2011

Esses são alguns dados que evidenciam a realidade da violência contra a mulher no mundo, um ciclo que precisa ser quebrado e deve começar pela conscientização de que sim, a mulher sofre inúmeros abusos e isso precisa ser discutido.

O vídeo abaixo pertence à campanha “Mete a Colher”, que busca conectar mulheres que passaram por um relacionamento abusivo, mulheres que precisam sair deste tipo de relação e mulheres que querem ajudar.

Enquanto não nos convencermos de que a violência sofrida por uma mulher é problema de todas e de toda a sociedade (não só da vítima), muito pouco poderá ser feito para acabar com essa realidade. É preciso “meter a colher” sim!

Assista abaixo ao vídeo que fala sobre o ciclo do relacionamento abusivo:

 

O objetivo da campanha então é formar uma rede em que as mulheres se sintam acolhidas e não julgadas, especialmente em situações de violência, onde normalmente já se encontram fragilizadas.

Conheça mais sobre a Campanha Mete a Colher:


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Sobre a autora deste blog:

Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556

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