Setembro Amarelo: uma campanha pela Vida


Por: Joscelaine Lima

Novamente estamos em setembro e muito se fala acerca do suicídio, a campanha Setembro Amarelo tem crescido bastante e atingido muitas áreas da sociedade, não apenas na Saúde mental, mas em tudo que está relacionando à saúde, desenvolvimento, qualidade de vida, etc., sendo divulgado através das redes sociais e abordado em muitos eventos.

Esta visibilidade da campanha é muito positiva, leva a população de maneira geral a perceber a realidade do suicídio em nossa sociedade atual, reconhecer o trabalho feito pelos psicólogos e demais profissionais da saúde mental, bem como prestar mais atenção às pessoas ao seu redor. Contudo, devemos ter o cuidado para que não seja apenas uma campanha, para que em outubro tudo não seja esquecido, os sinais e sintomas já não sejam percebidos e valorizados, tornando supérfluo todo o conhecimento adquirido em setembro.

Devemos de fato nos conscientizar sobre a gravidade e realidade do suicídio, sobre o que leva uma pessoa a cometê-lo, não olhando de forma preconceituosa e moralista, mas de forma consciente, valorizando a vida, o ser humano e todos os seus aspectos.

Muitas vezes olhamos de forma preconceituosa e moralista pra quem tenta ou comete suicídio, taxando a pessoa de ingrata e sem fé, não nos dando conta que ninguém deseja acabar com a própria vida, o que se tenta acabar é com o sofrimento. É fácil julgar quando não se está na própria pele da pessoa que comete ou tenta suicídio, é mais fácil culpar a pessoa do que oferecer apoio, acolhida, um ombro e um ouvido amigo. Ou, é mais fácil ignorar e fingir que nada aconteceu, racionalizando sobre questões do campo emocional.

Suicídio é um tabu sobre o qual precisamos conversar. Falar sobre o assunto é libertador. É libertador para a pessoa que pensa em suicídio poder contar a alguém que lhe acolhe, que aceita seus sentimentos, que mostra estar ao seu lado e realmente se importar, realmente querer que a pessoa viva e que seja feliz.

Calar pode ser muito perigoso, a pessoa pode desistir de tudo com mais facilidade. Por isto devemos estar sempre prontos para acolher, emprestar o ouvido e realmente ouvir o que outro tem a dizer, sem críticas, julgamentos e moralismos, mas com atenção, solidariedade e respeito pela singularidade do outro, desta forma podemos evitar graves sofrimentos.

Que estejamos sempre disponíveis, não apenas no setembro amarelo, mas, de janeiro a janeiro, valorizando a vida, os sentimentos e emoções nossas e de nossos entes queridos, valorizando a saúde mental e assim ajudando alguém a encontrar novos sentidos à vida, motivando-o a viver plenamente!

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Joscelaine Lima
CRP: 12/14672

Psicóloga em Centro de Referência de Assistência Social – CRAS em 
São Miguel do Oeste-SC e Psicóloga Clínica 
Contatos: 
Facebook.com/JoscelainePsicologia
Whatsapp: (49) 992028970

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Suicídio na Adolescência, estatísticas que assustam!


Por: Ana Rafaela Bispo da Costa

Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio, uma campanha linda, mas que muitas pessoas ainda tem medo de falar sobre o tema.

Esse mês estou falando sobre o Suicídio na Adolescência.

Para vocês terem uma ideia, o suicídio entre os adolescentes de 10 a 14 anos aumentou 65% nos últimos anos. E entre os de 15 a 19 anos aumentou 45%. Números alarmantes que foram até maiores que o aumento da população em geral, 40%.

Os estudos apontam que as principais causas desse aumento são a nova configuração da adolescência, que, além das questões sexuais, de bullying e transformações no corpo, trazem nos dias atuais fatores novos.

Hoje os adolescentes são muito mais cobrados em relação aos estudos, qual carreira seguir e ao quanto de sucesso terão. Afinal, os pais tem feito grandes investimentos de tempo e dinheiro para os filhos.

Outro fator que tem colaborado é o alto contato com as redes sociais, sendo que a maioria dos adolescentes passam muito mais tempo interagindo no mundo virtual do que no mundo real. Dessa forma as redes sociais, que se apresentam como uma vitrine somente de coisas boas do outro, fazem aumentar a angústia do adolescente que o tempo todo se compara com o que vê ali.

E o que mais me chama a atenção, é a dificuldade em lidar com frustração como causa de suicídio. Embora me espante, também é muito coerente.

Atuo o tempo todo com limites, percebendo a falta deles e sendo solicitada pelos pais para ajudar a colocá-los. Dessa forma, os adolescentes de hoje não recebem muitos “nãos” dos pais, não aprendendo a se frustrar. E por não treinarem isso durante a vida, quando escutam um não de uma namorada, ou de um emprego ou de uma viagem que não deu certo entram num grau de desespero pouco comum.

Já recebi casos de tentativas de suicídio porque houve o término de um namoro, e aquele adolescente não teve ferramentas internas para lidar com a dor e sofrimento.

De todos os casos de suicídio no país, 90% envolvem algum tipo de problema emocional ou mental, ou seja, poderiam muito bem ser tratados por psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, clínicas entre outros.

Vemos o quanto a saúde emocional ainda é negligenciada. A maioria da população não faz um programa de prevenção, atua somente depois que o suicídio já ocorreu, a exemplos de escolas onde ocorre o fato. 

A cada 10 pessoas que se suicidam 9 demonstram sinais anteriormente, basta que você esteja atento. E na adolescência o risco se torna maior por serem mais impulsivos, se arriscarem mais e não preverem o perigo, características normais do cérebro adolescente ainda em desenvolvimento.

Se você quer saber mais visite meu canal no youtube Tempo de Aprender-se que lá tenho vídeos explicando os sinais, os fatores que influenciam e o que você deve fazer.

Cuide. Previna. Salve uma vida.

Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/04/suicidio-de-adolescentes-avanca-e-casos-recentes-mobilizam-escolas-de-sp.shtml

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-09/suicidio-e-quarta-maior-causa-de-morte-de-jovens-entre-15-e-29-anos

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Ana Rafaela Bispo da Costa
CRP: 06/95603

Psicóloga pela UMESP
Pós Graduada em Especialização em Informática em Saúde pela UNIFESP
trabalha no auxílio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e suas famílias, 
atuando na região do ABCD
Contatos:
(11) 982172197
ana_rafaela_24@hotmail.com

Facebook: Infância e Adolescência e os seus desafios na Família

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Dicas de livros sobre Adolescência/Depressão/Suicídio (link para a loja nas imagens):

o que é depressão          fãs do imp          depressão na adolesc

 

Depressão pode matar, mas tem tratamento!


Por: José Geraldo Ferreira da Silva

A depressão é um transtorno mental causado por uma complexa interação entre fatores orgânicos, psicológicos, ambientais e espirituais, caracterizado por angústia, rebaixamento do humor e pela perda de interesse, prazer e energia diante da vida.

Genes, hormônios, neurotransmissores, nutrientes celulares, substâncias químicas, auto-estima, pensamentos, personalidade, crenças, reações emocionais, conflitos inconscientes, fatores sócio-culturais e ambientais, entre outros, podem predispor o indivíduo a desenvolver depressão (TEODORO, 2010, pag. 20).

Contudo, é necessário estar atento, pois há diferença entre depressão e tristeza:

Tristeza: reação emocional normal a várias situações desagradáveis, como ser demitido do emprego, reprovado em algum teste ou perder um parente. Após 6 a 8 semanas, em média, e sem intervenções médicas ou psicoterápicas, a pessoa volta ao normal.

Depressão: é mais intensa, angustiante, seguida por autodesvalorização e desmotivação, que se arrasta por meses ou anos e compromete a vida pessoal, social, profissional e familiar do deprimido.

Paciente e pessoas com quem convive, muitas vezes não percebem as causas da doença, por envolver conteúdos inconscientes e processos psicológicos e orgânicos complicados. É necessário o apoio especializado de médicos e psicólogos.

Você sabia?
A depressão é a principal causa de problemas de saúde e deficiência em todo o mundo. De acordo com a OMS, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015.

A falta de apoio às pessoas com transtornos mentais, juntamente com o medo do estigma, dificultam o acesso ao tratamento que necessitam para viver uma vida saudável e produtiva.

A taxa de suicídios atribuída à depressão aumentou, apesar dos esforços em estabelecer e manter centros de prevenção ao suicídio em todo o território nacional.
Drogas antidepressivas custam menos dinheiro que a psicoterapia, porém não funcionam para todos os pacientes deprimidos, dos quais apenas em torno de 60 a 65% respondem aos medicamentos de forma eficaz (BECK, 1997).

A boa notícia é que existem tratamentos eficazes para depressão moderada e grave. Profissionais de saúde podem oferecer tratamentos psicológicos, como ativação comportamental, terapia cognitivo-comportamental com técnicas estruturadas e psicoterapia interpessoal ou medicamentos antidepressivos.

Depressão não é frescura, procure ajuda!

Imagem capa: Pexels

Colunista:

José Geraldo Ferreira da Silva
CRP nº 04/48975

Psicóloga Clínico, formado em Terapia Cognitivo
Comportamental;
Formado pela Unileste-MG, especialista pelo Nepsi;
Atende em Açucena, MG;
Observações: Atualmente atua na Secretaria Municipal de Assistência Social
e em consultório particular online e presencial;
Contatos:
e-mail: geraldo.fs@live.com
Site: http://www.psicologo.site
Consultório online: https://www.psicologiaviva.com.br/josegeraldo

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Eu vi a cara da morte e ela estava viva


Por: Maicy Rodrigues Araújo

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos.

No Brasil, estima-se que 10 milhões de pessoas sofram de depressão e em relação à população mundial, cerca de 20% dos depressivos tentam suicídio pelo menos uma vez, visando por fim ao sofrimento que os aflige.

Lembro de ter ouvido histórias de suicídio durante toda a vida, e sempre que se fala nesse tema (que ainda é um tabu), percebe-se o quão carregado de julgamento ele é. Ninguém consegue falar de suicídio sem dar uma opinião um tanto quanto irredutível sobre o que pensa sobre ele. Falar me parece muito fácil. Mas a verdade é que alguém que nunca teve um pensamento suicida pode falar com tanta propriedade.

Causa? Não existe UMA causa do suicídio. Existem várias. Concordo que as pessoas com transtornos psicológicos tem uma tendência maior. Mas todo ser humano sofre. Será que em algum momento, qualquer um de vocês que esteja lendo, já não pensou na morte como uma possibilidade, estando em sofrimento?

Estamos falando de uma história de sofrimento tão absurda, que a única possibilidade que a pessoa enxerga é a morte. Muitas pessoas que pensam em suicídio não querem de fato morrer, elas querem dar fim ao sofrimento.

Werlang e Botega (2004), afirmam que se pode definir o comportamento suicida como todo ato pelo qual um indivíduo causa lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. Essa noção possibilita conceber o comportamento suicida ao longo de um continuum: a partir de pensamentos de autodestruição, passando por ameaças, gestos, tentativas de suicídio e, finalmente, suicídio.

Entender o suicídio é compreender que ele não é só a morte em si, ele é o pensar na morte. É quase como um flerte. “Hoje, meu dia foi tão ruim que eu penso que teria sido melhor não ter levantado da cama. Amanhã, o dia se repete. Ninguém repara ou parece se importar. Acho que eu não faria muita falta nesse mundo. Hoje eu desejei não ter acordado. Será que essa dor tão profunda vai acabar? Ou posso eu mesma dar fim dela?”

E assim, nessa “paquera mortal”, o indivíduo vai se aproximando cada vez mais da morte. Ele se encontra cristalizado, inflexível. Não consegue mais se ver de forma ampla como sujeito no mundo, o mundo pra ele virou a morte.

A escuridão sempre foi uma grande conhecida minha. Ao longo da minha adolescência e vida adulta, me via passando por períodos apáticos. Me esforçava pra fazer as pequenas coisas e tudo parecia muito difícil. Hoje consigo ter uma visão muito clara e consciente disso tudo por conta de anos de estudo e terapia.

Já ouvi muito a frase “quem quer se matar, vai e se mata”. Vocês também? Isso é bastante dito quando uma tentativa de suicídio dá errado.

Porque alguns pacientes dizem que querem se matar? Porque lá no fundo, eles querem dividir essa dor absurda que tem sido existir. E falar pra gente ou pra qualquer outra pessoa, é uma voz baixinha, sem muita energia lá dentro dele, que quer socorro. Ele quer ser salvo. E faz TODA diferença ter alguém. Se a pessoa fala em querer se matar, é porque ela está compartilhando… e ao falar, podemos juntos, dar um novo olhar. Por meio da relação terapêutica, tentar dar um novo sentido a esse ser humano.

Conheço história de pessoas que tinham aparentemente tudo e se mataram. Esse “tudo” que se fala é tão vazio. Dinheiro, carro, casa, emprego… de verdade verdadeira, esse tudo pra essas pessoas não era nada. Porque elas estavam em sofrimento emocional. E o fato de terem coisas materiais não as livrou do vazio existencial que tinham dentro de si. Não existe dor maior que a dor de existir.

Algumas pessoas acham que sabem o que é esse sentimento depressivo, essa apatia absurda que se transforma em dor… porque já se divorciaram, perderam um emprego ou passaram por uma relação difícil. A verdade é que nada disso é depressão. Essas situações geram sentimentos de tristeza, que podem ou não levar a depressão. Mas não se enganem. Depressão não é “tão” simples assim. Não é uma tristeza, não é um choro. É oca. É cansativa e insuportável, porque você, mais do que ninguém, sabe que aquele não é você. Eu já ouvi muito isso dos meus pacientes e claro, já falei também.

Você sabe que aquele não é o seu estado normal, você se sente chato, irritante, sem senso de humor e energia. E não adianta, as pessoas podem se esforçar o quanto quiserem, elas não vão conseguir te animar.

Como não pensar em dar fim a tudo isso?

Ampliar a awareness: dar-se conta de si. Eu acredito que os pacientes podem ressignificar suas vivências. Dar um novo olhar a elas. Eu creio piamente que podemos buscar novos ajustamentos criativos, que não irão apagar o sofrimento que já vivemos, mas com base neles e na experiências que eles nos trouxeram, vamos poder olhar a vida de outra forma.

Ampliar as compreensões e possibilidades faz parte do papel do Terapeuta.

Eu e o paciente estamos no mesmo nível existencial. A minha diferença é a teoria. Mas existe sim uma vivência disso que você pode estar passando e eu também, em algum momento, já vivi. Isso me faz sentir muito confiante no que diz respeito a compreender o sofrimento e desespero das pessoas. Porque eu já fui essa pessoa. E eu tenho essa vontade absurda de viver, de vencer todas as batalhas que a vida vai me apresentar. Eu dou muito mais valor à luz hoje, porque eu já vi a escuridão.

Eu tenho uma fé imensa nessa coisa chamada terapia porque ela já salvou a minha vida. E eu sei que posso salvar a vida de muitas pessoas também.

Referência:

Botega, N. J. & Werlang. B. G. Comportamento Suicida, Porto Alegre: Artmed, 2004

*O título do texto é da música “Boas Novas”, do Cazuza.

Imagem capa: Stocksnap.io

Coluna:

Maicy Rodrigues Araújo
CRP 10/03113

Maicy Rodrigues Araújo é Psicóloga, formada pela UNAMA (Universidade da Amazônia). É especialista em Desenvolvimento Infantil pela UEPA (Universidade do Estado do Pará), possui MBA em Gestão de Pessoas pela FACI (Faculdade Ideal) e cursou o Programa de Educação Continuada em Psicopedagogia (ABED). É Aprimoranda em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Gestáltica pelo GEGT (Grupo de Estudos Gestálticos).
Atualmente, trabalha como Psicóloga Clínica e Orientadora Profissional em consultório particular e na modalidade online.
Escreve e administra o instagram @_tododiapsicologia_, com a idéia de levar Psicologia de fácil acesso ao dia a dia das pessoas. Idealizadora do programa OPT (Orientação Profissional para todos), dando palestras gratuitas em diversas escolas no estado do Pará sobre a escolha consciente da profissão.
É de Belém/Pará.

Contato:
(91) 98839-7900 
maicyrodrigues@gmail.com

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Precisamos falar sobre suicídio


Por: Kelly Leal

O Setembro Amarelo passou, mas o diálogo deve continuar. A campanha de conscientização sobre o suicídio, o Setembro Amarelo, acontece no Brasil desde 2014 e tem o objetivo de alertar as pessoas sobre a realidade do suicídio, como prevenir e desmistificar o tema.

A taxa de suicídio subiu 60% desde 1980 no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até o ano de 2020 em torno de 1,53 milhões de pessoas cometerão suicídio.

Por isso, a OMS já considera o suicídio como um problema de saúde pública e busca formas de atingir as pessoas com intuito de disseminar conhecimento sobre o assunto. Isso é feito através de cartilhas, divulgação de dados de suicídio e informação, inclusive para os profissionais, no sentido de orientá-los em como proceder nestas situações.

Por isso, é necessário ficar atento aos sinais que as pessoas que tem pensamentos suicidas costumam dar. Geralmente quem pensa em se suicidar expressa isso de alguma forma, e para prevenir o suicídio não há uma fórmula pronta, mas existem alguns sinais que podem indicar a presença de pensamentos ou tentativas de suicídio e que servem de alerta.

Algumas pessoas acham que quem fala em suicídio só quer chamar a atenção e não pretendem, de fato, se matar. Ao contrário disso, quem fala pode estar pedindo ajuda. Fique atento a frases do tipo: “não aguento mais”, “eu queria sumir” e “eu quero morrer”.

É necessário poder falar sobre o suicídio. Hillman (2014) afirma que ainda há muita dificuldade em conseguir falar sobre esse tema abertamente, visto que a sociedade rejeita e trata com preconceitos. O mesmo autor ainda discorre acerca da naturalidade em ocultar o suicídio e falta de interesse em compreender o sofrimento do outro e a dimensão do problema.

O suicídio é um fenômeno multifatorial e complexo. Geralmente são vários fatores que interagem entre si provocando o pensamento e/ou comportamento suicida. O Suicídio pode ser considerado como um sintoma de algo que não foi tratado de maneira adequada.

Desta forma, identificação e intervenção antecipada pode salvar vidas. Caso conheça alguém que está tendo pensamentos suicidas, convide-o a buscar ajuda psicológica. Com a psicoterapia pode-se trabalhar esses pensamentos disfuncionais, trazendo benefícios para quem tem pensamentos e comportamentos suicidas, pois somente pelo fato da pessoa pensar em não estar mais vivo já pode-se considerar algo significativo que precisa de atenção.

“O verdadeiro valor da vida, é dar valor a própria vida.” (Hudson Charles)

Dê valor ao que não tem preço!

Imagem capa: Stocksnap.io

Kelly Leal
CRP 03/14123

Psicóloga, especializanda em Terapia Cognitivo-Comportamental. 
Formada pela Faculdade Castro Alves, 
especializanda pelo Centro Universitário Amparense. 
Atende em Salvador/Bahia.
Contatos: 
kellyleal.psi@gmail.com
Instagram: @psicologakellyleal
https://www.fb.com/psicologakellyleal/

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Depressão: o último estágio da dor humana


Por: Mariana Pavani

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 350 milhões de pessoas ao redor do mundo sofram com a depressão. Atualmente esta é a principal causa de problemas de saúde e incapacitação mundial. No Brasil, cerca de 11,2 milhões de pessoas receberam esse diagnóstico em 2014. Além de ser apontada como a principal causa de suicídio.

Afinal, você sabe o que é depressão? Como reconhecer seus sinais? Como é o tratamento? Muitas vezes a pessoa reconhece que há algo errado consigo, porém, crê que ser passageiro, assim como as pessoas a sua volta, sendo comuns conselhos como “vai passar”, “você precisa sair mais de casa” ou “é frescura”.
Depressão é baseada numa forma muito particular e avassaladora de tristeza, assim a pessoa sente a morte em vida. A noção de tempo é que ele está parado, por isso não encontra motivações para continuar sua vida e realizar atividades rotineiras. O sentimento de vazio é intenso, viver parece um enorme sacrifício, muitos sentem uma perda de identidade, além de dificuldades na concentração, faltam prazeres e alegrias em sua forma de encarar a realidade. Nada adiantam campanhas de conscientização como “Setembro Amarelo”, o qual tratou sobre o suicídio, se continuarem estas banalizações sobre a dor psíquica.

O quadro não seria decorrente somente de vivências atuais, mas certamente a pessoa viveu falhas anteriores em suas relações, e no momento do desenvolvimento do quadro, algo ocorreu de modo consciente, ou inconsciente, que desencadeou naquele ser um intenso sentimento de vazio e desamparo, sendo persistente e assim podendo ser chamado de depressão.

É necessário um tratamento médico e psicológico associados. As medicações podem contribuir significativamente para a melhora na parte química da doença. Porém, a psicoterapia é essencial para que o paciente possa lidar com as causas do problema e desmontá-lo, entendendo o porquê seu psiquismo desenvolveu o quadro, podendo gerar elaborações e reflexões sobre si com o auxílio do psicólogo.
Um conselho para amigos e familiares de pessoas que sofrem com a depressão é de acabar com os conselhos e discursos de otimismo, pois isso só aumenta o sentimento de impotência e fracasso. A vida não pode ser banalizada, é importante priorizar os cuidados consigo mesmo e com quem precisa. Busque sempre ajuda profissional.

Imagem capa: Stocksnap.io

Colunista:

Mariana Pavani
CRP 06/136363

Psicóloga psicanalítica clínica.
Formada pela Pontifícia Universidade católica de Campinas
e cursando especialização em psicanálise pelo CEFAS.
Atendimento clínico em Campinas-SP.
Autora do Instagram @psicanalisetododia
Contato:
E-mail: marianapavani@gmail.com
Celular: (19)997538573

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A interface entre a depressão e o suicídio


Por: Sara Almeida Botelho

Nós precisamos falar sobre isso!

É muito importante levar em consideração a nossa compreensão acerca dos aspectos que envolvem a depressão bem como suas consequências que se tornam impactantes na vida de quem sofre com depressão e daqueles que estão próximos também. A falta de compreensão desse transtorno gera grande sofrimento para a pessoa e acaba que ocorre a banalização e a generalização de um estado emocional tão complexo como a depressão.

Ao contrário do que se pensa a depressão tem longo histórico, já foi descrita, identificada e reconhecida por diferentes autores tais como Hipócrates, Kraepelin e também Freud. Por ser descrita por diferentes pensadores, a depressão já foi considerada como patologia, transtorno mental, síndrome e também como disforia, ou seja, várias formulações e reformulações já foram apresentadas.

A depressão é uma psicopatologia extremamente complexa e de difícil diagnóstico, pois ela pode aparecer como diagnóstico inicial, ou como comorbidade. Ou seja, é comum em alguns quadros de patologias (câncer, lúpus, tireoide, etc.) e de psicopatologias (TOC, TEPT, TAG, Síndrome do Pânico, etc.) o desenvolvimento de quadros depressivos que contribuem com a potencialização do quadro inicial.

É considerada como um transtorno mental reconhecido pelo Código Internacional das Doenças – CID-10. São característicos quadros de extrema tristeza, alterações do humor de forma significativa e peculiar perda de interesse em atividades que praticava com prazer. Muitos pais buscam por orientações para melhor compreender e poder prevenir. Para mim, enquanto psicóloga, acredito que para obtermos respostas sobre como conduzir essa situação, a melhor coisa a ser feita é compreender a depressão e, principalmente, saber diferenciar tristeza e depressão. Isso porque todo depressivo se encontra triste, mas nem toda pessoa que está triste se encontra depressivo.

A tristeza é um episódio comum, natural e passageiro, ao qual, todos nós estamos suscetíveis a qualquer momento em decorrência das nossas vivências. É bom enfatizar que toda tristeza que ultrapasse quinze dias merece atenção redobrada.

O desenvolvimento de quadros depressivos depende de fatores internos e externos que contribuem de forma significativa para o desenvolvimento, a potencialização, bem como a adesão ao tratamento. Isto porque a depressão causa alterações na atividade neural do cérebro, os neurotransmissores são afetados, ou seja, a atividade neuroquímica do cérebro apresenta níveis alterados se comparado com a atividade cerebral de pessoas que não apresentam quadros depressivos. Dessa forma o desenvolvimento de quadros depressivos está interligado a história de vida do sujeito, a capacidade que o mesmo tem de suportar os eventos corriqueiros do seu dia-a-dia. Essa capacidade está relacionada à resposta emocional que tem a ver com o sistema límbico que é a unidade do nosso cérebro que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais.

A depressão traz consequências impactantes na vida concreta do sujeito, a visão negativista e pessimista acerca de si e do próprio futuro faz com que o sujeito busque alternativas vazias para acabar com a dor e o sofrimento. Não existem aspectos que relacionem a depressão a algum tipo de segmento da sociedade, isto é, independe de nível social, raça, escolaridade, gênero, religião, etc.

Todas as áreas de desenvolvimento do sujeito sofrem alterações: área emocional, área instintiva e neurovegetativa, área ideativa e cognitiva, área psicomotora e volitiva e a autovaloração. São sintomas que alteram a produtividade e também a qualidade de vida do sujeito.

Precisamos falar sobre depressão de maneira aberta, livre de preconceito e misticismos, uma vez que a depressão pode ser grave e debilitante, porém, a depressão não é a sentença final, existem alternativas, tratamento, enfim, outras saídas.

E é por isso que nós precisamos falar sobre isso, precisamos conhecer e compreender a depressão, para que possamos compreender o outro, para que possamos ajudar o outro, ou no mínimo respeitá-lo.

As consequências oriundas da depressão são impactantes e causam prejuízo significativo na vida concreta do sujeito. Todavia, a consequência mais impactante da depressão é o suicídio. O que mata não é o suicídio, mas sim a depressão. O suicídio é o ato final como tentativa de colocar fim ao sofrimento, à dor que massacra, sufoca e esmaga, e, o sujeito se encontra tão vulnerável e fragilizado que não dá conta de enxergar outros caminhos.

É importante procurar ajuda profissional para identificar os sintomas e reconhecê-los como passíveis de tratamento. A psicoterapia pode ser uma grande aliada no processo de construção e reconstrução de fatores internos, compreender seus sentimentos e emoções é fundamental para compreender a si mesmo e superar traumas. Todavia em alguns casos é necessário que seja realizado tratamento medicamentoso concomitantemente ao tratamento psicoterápico, pois alguns níveis de estresse e ansiedade precisam ser rebaixados para que a psicoterapia seja satisfatória

Entre os fatores mais dificultadores nesse processo de depressão, o preconceito e a visão da sociedade em relação a depressão acaba estimulando a resistência do sujeito em buscar ajuda por se acreditar fraco. A fraqueza por sua vez é atribuída ao desenvolvimento de psicopatologias, precisamos superar aspectos como esses, ninguém é depressivo porque não tem nada pra fazer, ninguém é ansioso porque quer… As doenças mentais ainda são pouco compreendidas pela sociedade, em muitos casos não há aceitação nem do próprio sujeito depressivo.

O apoio familiar e de amigos é fundamental não só no processo de tratamento, mas durante todo esse processo de adoecimento, inclusive na conscientização e valorização da vida. Realmente não é fácil, o sujeito não encontra forças para superar e os familiares e amigos próximos, por falta de compreensão, acabam não oferecendo o acolhimento necessário ao sofrimento do outro.

Fale sobre seus sentimentos, sobre suas emoções, você não precisa passar por isso sozinho(a).

Referências:

Vamos Conversar. <http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839&gt;.

Bento, J. DM/Opinião. Precisamos Falar Sobre Depressão Entre os Jovens. Goiânia, 2017. < https://www.dm.com.br/opiniao/2017/05/precisamos-falar-sobre-depressao-entre-os-jovens.html&gt;.

Esteves, F. Galvan, A. Depressão numa Contextualização Contemporânea. Aletheia nº24, 2016. <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n24/n24a12.pdf&gt;.

Imagem capa: stocksnap.io

Sara Almeida Botelho
CRP – 04/40276

Psicóloga Clínica, especialista em Saúde Mental, Pós-graduada em Psicologia do Trânsito, Psicologia Hospitalar. Formada pela UNIPAC (Universidade Presidente Antônio Carlos Campus em Teófilo Otoni/MG), especialista em Saúde Mental pela UNIPAC (Universidade Presidente Antônio Carlos Campus em Teófilo Otoni/MG), Psicologia do Trânsito pela UNICAM (Universidade Cândido Mendes), Psicologia Hospitalar pela UNIARA (Centro Universitário de Araraquara).
Psicóloga do Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS Regional Mucuri com sede em Águas Formosas/MG. Consultório em Águas Formosas no Consultório de Cardiologia.
Contatos: 
botelhoasara@gmail.com
(33) 98818-6543
Página no Facebook: Subjetividade

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Setembro é amarelo?


Por: Maria Emília Bottini

Setembro é um mês do qual gosto muito, pois a natureza explode em várias cores e vibra. Tenho feito alguns tours pela minha cidade de Erechim-RS e percebo que a explosão está no ar.

Talvez todos nós, de alguma, forma também sigamos estações do ano dentro de nós mesmos. A explosão se dá pois se anuncia a chegada da primavera da vida, mais uma etapa de florir, de aparecer e de se mostrar, sair da toca que o inverno nos impõe através do recolhimento e do frio.

Não seguirei falando da primavera e do amarelo dos ipês que estão a encantar muitas cidades do Brasil. O tema que quero abordar neste texto é delicado, inquietante e assustador: o suicídio, um tema considerado o tabu dos tabus. Não falar não significa que ele não exista. Ao falar, não deve ser glamourizado ou mesmo espetacularizado como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). Falar ainda é a melhor solução, é dar voz ao sofrimento psíquico.

As pessoas que pensam no suicídio como possibilidade se sentem como no deserto de suas vidas em areias movediças, quanto mais tentam sair, mais afundam. Falar também é uma escolha.

Em setembro estive na Universidade de Passo Fundo (UPF) a convite de uma ex-professora, que admiro de longa data, nos reencontramos no meu retorno ao Sul. O evento tratou do movimento internacional denominado de Setembro Amarelo. O dia 10 de setembro é o dia Mundial de Combate ao Suicídio. A temática na Internet: riscos e sinais do suicídio.com, contemplou a fala de uma psicóloga, um psiquiatra e um filósofo.

Um excelente evento em tempos que a vida esvazia e se empobrece de sentidos pela exacerbação do eu, do individualismo, com isso o suicídio pode aparecer como uma possibilidade possível, hoje visível nas redes sociais onde tudo é exposto, compartilhado em tempo real.

E por que não midiatizar/espetacularizar a morte e ter o máximo de exposição de uma vida sem sentidos?

E nesse sentido foi relatado o caso de uma universitária acriana, de 19 anos, que se suicidou ao vivo no Instagram, ela foi acompanhada por seus quase 300 seguidores ao vivo e em cores que atônitos ou não assistiram o findar de sua vida naquele momento. Alguns tentaram ligar para sua casa, mas não foram atendidos. Postagem foram mostradas, e estava gritando pelo socorro através da rede social, mas era um grito surdo, pois ninguém a ouviu, ninguém entendeu que era real. Talvez pensassem que era algo para chamar a atenção.

No dia em que morreu, postou: “já viram alguém morrer ao vivo?” Uma pergunta que não desejava saber a resposta, pois já tinha construído a resposta com sua própria morte. Podemos supor sua resposta: “Então, vocês verão”.

Os dados referem que quando ocorre um suicídio, outras 10 pessoas são atingidas diretamente. A pessoa que se suicidou tinha amigos, conhecidos, frequentava universidade, tinha pais, irmãos, vizinhos, tinha crenças religiosas, pertencia a um grupo social, etc…

Dias depois do evento, os pais da garota, que eram policiais, cometeram suicídio na sala de casa usando o mesmo método da filha. Talvez a identificação, a culpa de carregar a herança maldita pela forma de morte da filha, os tenha levado ao mesmo ato. Dias se passaram e seu namorado a quem refere nos seus escritos que a teria decepcionado também tentou suicídio, mas se tornou um sobrevivente dele.

Amigos também foram culpabilizados por decepcioná-la. Isso relata a fragilidade emocional para lidar com as adversidades que foram se apresentando seja com o namorado, amigos ou familiares.

O que dizer deste caso? O fato é que as pessoas nos decepcionam ao longo do viver. Quem por vezes acreditamos que nos apoiaria em determinada situação nos retira o ombro. Pais não são perfeitos, muito pelo contrário, são imperfeitos, falhos e às vezes não nos compreendem, pois não habitam nossa pele. Namorados traem, nos agridem com palavras, não nos querem mais e não tem coragem de assumir…

Enfim, a vida não é fácil de ser vivida em muitas situações e se permanecemos sozinhos, se torna desesperadora, porque no meio do caminho tinha, além das pedras referidas por Drummond, a palavra frustração. O questionamento a ser feito é: o que faremos com ela? Há muitas situações que não dão certo e precisamos continuar ou não.

Podemos mudar caminhos? Podemos fazer outras escolhas? Sim, quando estamos bem e com saúde mental, mas quando adoecemos emocionalmente isso se torna muito difícil e por vezes a vida perde a cor, o sentido, e a morte torna-se possibilidade para quem vive a sofrer de uma dor que não é do físico, é da alma. E os que nos cercam nem sempre conseguem ler ou mesmo entender o que se sente por dentro.

O fato é que o suicida não executa sua morte de um dia para o outro, isso requer muito sofrimento acumulado para culminar no ato de desistir da vida. É preciso entender que estamos falando de doença mental.

Suicídio é um problema de saúde pública, pois todos os dias, 32 brasileiros tiram a própria vida. Mais de 20 mil pessoas cometem suicídio ao redor do planeta diariamente. Quase um milhão de pessoas se matam por ano, uma a cada 40 segundos – são mais vítimas que todas as guerras, homicídios e conflitos civis somados. E, para cada morte por suicídio, existem outras 10 ou 20 pessoas que já tentaram fazer o mesmo.

O Brasil é um país com índices baixos de suicídio se comparado com outros países (6 casos por 100 mil habitantes, contra 12 da média mundial), configurando o 8º lugar no mundo.

Enquanto os índices têm caído na maioria dos países, as taxas brasileiras se elevam. Entre 2002 e 2012, o número de casos subiu 34%. Entre adolescentes de 10 a 14 anos, o aumento chegou a 40%, de acordo com o último levantamento do Mapa da Violência de 2016. Segundo OMS (2006), o suicídio mata mais que homicídios, desastres e HIV em todo o mundo. Entre os jovens, é a segunda causa de morte, a primeira é o acidente automobilístico.

Os dados são muitos para informar que precisamos de mais escuta atenta e acolhedora, mas para isso precisamos deixar de lado a psicofobia, ou seja, o preconceito ao falar das doenças mentais. Elas existem e precisamos falar delas, pois em 90% dos casos de suicídio uma doença mental está associada.

Para a garota do Acre não existirão outras primaveras. Setembro não foi amarelo para ela, pois perdeu a capacidade de ver as cores, sentido na existência, não percebendo mais possibilidades diante dos sofrimentos que acreditava estar enfrentando. Não conseguiu encontrar-se na areia que se movia cada vez mais rápida sob seus pés, colocando um ponto final a sua existência na frente de uma grande plateia que a seguia. Saiu da vida como uma atriz de teatro sai de cena, só que dessa vez as cortinas não se fecharam, ficaram faltando os aplausos que desejava receber em vida, mas tão pouco chegaram com sua morte, o silêncio imperou.

Outros estão vivendo o mesmo drama e a se perguntar se setembro é amarelo. A estes indico que escolham a quem depositar suas dores, mas esses não poderão ser surdos, senão os resultados serão os mesmos.

Imagem capa: stocksnap.io

Colunista:

Maria Emília Bottini
CRP nº: 07/08544

Formada pela Universidade de Passo Fundo (RS);
Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF);
Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB);
Autora do livro “No cinema e na vida: a difícil arte de aprender a morrer”;
Assina a coluna “Trocando Ideias” do blog da Clínica Ser Saúde Mental de Brasília.
Contatos:
emilia.bottini@gmail.com.
Página do livro:
Facebook.com/Nocinemaenavidaadificilartedeaprenderamorrer
Clínica Ser Saúde Mental – Coluna Trocando Ideias:
http://sersaudemental.com.br/blog/

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Suicídio: a dor que se quer acabar


Por: Joscelaine Lima

O que leva uma pessoa a querer tirar a própria vida? O que motiva alguém produzir em si a dor de uma autoagressão? Por qual razão alguém perde o sentido da vida e não quer mais vivê-la? Ou o que traz esta dor que não pode calar e que quer se acabar?

O suicídio leva a muitos questionamentos, mas uma coisa é certa: ninguém quer deixar de viver, o suicida não quer acabar com a própria vida, ele quer acabar com o sofrimento.

Este sofrimento é tão forte, tão cruel, tão profundo, que nada parece fazer sentido. A família, os amigos, a profissão, o dinheiro, a esperança, nada mais existe. Apenas aquele vazio, aquele buraco onde deveria haver tantos sentimentos, mas eles já se foram…

As forças para lutar se acabaram, e o que sobrou é usado para um último ato, na busca errônea pela solução de todos os problemas. E este ato, quando consumado, põe fim a uma vida, uma história, um destino e toda uma existência.

Quem fica sofre muito, é muito difícil compreender, aceitar. Vem os questionamentos, a negação, a raiva, a culpa, a decepção, e muitos sentimentos negativos, pois ninguém espera que isto aconteça. A morte é dolorosa e o luto sempre vem acompanhado de sofrimento, mas, quando a morte foi uma escolha, uma decisão, um grito de socorro impossível de ser atendido, a dor é muito maior, não há comparação.

Quando se sobrevive a uma tentativa de suicídio parece que a pessoa vive um misto de gratidão com decepção, que depende do nível no qual está o vazio e a desesperança. Ao mesmo tempo em que se questiona o porquê não conseguiu, também se questiona se não é uma nova oportunidade de viver que está tendo e que deve aproveitar, mas ainda não sabe como. Se encontrar a ajuda certa, é possível perceber outras saídas, entretanto, se não tiver esta ajuda necessária, em breve poderá tentar de novo, e desta vez pode conseguir.

Ao vivenciar este sofrimento e viver com esta dor, é muito difícil perceber que há uma realidade diferente para si mesmo, não se vê uma luz no fim do túnel, não se percebe uma saída. Tudo parece cinza, nada traz alegria e prazer, não existem bons sentimentos.

A incompreensão das pessoas que estão ao redor é dolorida, pois, é realmente difícil entender por que algumas pessoas não querem continuar vivendo suas vidas, apesar de para os outros parecer que está tudo bem.

Por isto é muito importante entender que o suicídio não é frescura, não é brincadeira, mas é algo muito sério, é um grito de socorro, é um desespero profundo, uma dor insuportável, uma necessidade urgente de sair do sofrimento em que se encontra e nada mais consegue aplacar.

Ao passo que a pessoa em risco de suicídio percebe que alguém entende e acolhe sua dor, sabe que é aceita, compreendida e amada, pode começar a se aceitar, compreender, se amar e deixar o desejo de pôr fim a sua vida de lado, pois sua dor é aplacada, suas esperanças são renovadas, a luz no fim do túnel se torna visível e novas possibilidades são visualizadas.

Mas a luta continua, o que foi renovado deve continuar em constante aperfeiçoamento, tanto da parte da pessoa que desejou morrer quanto das pessoas ao seu redor, até que seja extinta esta possibilidade.

Acompanhamento psicológico é de extrema importância em todo o processo, e o uso de medicamento com acompanhamento psiquiátrico pode ser necessário por um bom tempo, pois ambos ajudam muito a pessoa a refletir, a repensar sua vida e seus hábitos e a psicoterapia trabalhará a raiz do problema, fortalecendo a pessoa e a tornando capaz de não voltar ao fundo do poço onde se encontrava.

E é tão bom ver novas possibilidades, recomeçar, reinventar a vida, ressignificar as dores e experiências, superar o passado, aproveitar o presente e vislumbrar um futuro melhor! Saiba que é possível, com ajuda correta muitos conseguiram e você também vai conseguir!

Precisa de ajuda?

CVV (Centro de Valorização da Vida) – Site: www.cvv.org.br ou Disque: 141

Atendimento Psicológico Online – Psicóloga Ane Caroline Janiro – Site: www.carolinejaniro.com.br

Encontre um PsicólogoProfissionais que podem te ajudar

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Colunista:

Joscelaine Lima
CRP: 12/14672

Psicóloga clínica, formada pela Universidade 
do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) em 2015.
Atende em São Miguel do Oeste-SC.
Contatos:
Facebook.com/JoscelainePsicologia
Whatsapp: (49) 992028970

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Setembro Amarelo: uma reflexão na Abordagem Centrada na Pessoa


Por: Renan Gomes Lara

A psicologia em seu amplo campo de estudo e abordagens teóricas, preocupa-se em apoiar a capacidade de crescimento do ser humano, compreendendo e aceitando seus sentimentos e emoções de forma singular. Desse modo procura estar integrada às práticas na saúde pública.

No mês de setembro do ano de 2014 teve o início a temática da prevenção ao suicídio, apresentado como grave problema de saúde pública em território nacional, estando entre as dez principais causas de morte na população mundial de todas as faixas etárias. Segundo Schlösser, Rosa e More (2014) a compreensão abrange sentido das práticas da ideação suicida – (ideias e desejos), e as condutas (comportamentos suicidas), sendo assim, o ato sem morte ou o próprio suicídio consumado.

Nesse contexto a Abordagem Centrada na Pessoa – ACP contribui para a prevenção e promoção da saúde, e para o desenvolvimento interpessoal em suas dinâmicas de comportamento. A compreensão necessária e suficiente à mudança da personalidade pesquisa sobre tais condições do funcionamento do self (eu) e a interação com o ambiente. Para Bacellar, Rocha e Flôr (2012), “A capacidade do indivíduo de superar as dificuldades advindas da intersecção existente entre condições ambientais, aspectos físicos, psíquicos e sociais” (p.130). Assim, esta será uma das formas de prevenção para o suicídio.

A ACP compreende a ampliação para além dos contextos clínicos terapêuticos, ou seja, se posiciona juntamente com a educação, as relações interpessoais, conflitos entre grupos e a clínica ampliada. As atitudes tomam outras vertentes diversificadas, porém sem perder a sua essência proposta pelo psicólogo Carl Rogers (1902-1987). Para Tassina et al (2011) “a psicoterapia individual, a intenção focalizada na reorganização da personalidade e o fenômeno das relações, portanto a implementação das atitudes facilitadoras” (p. 190). Nessa perspectiva a busca de satisfação aplicada nas relações interpessoais e atitudes facilitadoras na abordagem centrada na pessoa seriam: congruência, empatia e consideração positiva incondicional.

O psicólogo é o grande facilitador para se fazer ressoar o diálogo da prevenção ao suicídio, e não devemos nos pautar apenas ao mês de Setembro para discutir essa temática repleta de tabus. Compreender essa discussão nos mais diversos contextos da relações humanas, considerar os aspectos emocionais e sociais para o seu processo de saúde, a fim de promover a sua autonomia no cuidado individual, resgata a necessidade de relações interpessoais autênticas como veículo de prevenção e promoção a saúde.

Referências:

BACELLAR, A; ROCHA, J. S. X; FLÔR, M. D. S. Abordagem centrada na pessoa e políticas públicas de saúde brasileiras do século XXI: uma aproximação possível. Rev. NUFEN [online]. v.4, n.1, janeiro-junho, 127-140, 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v4n1/a11.pdf Acesso em: 10 de Setembro de 2017.

SCHLÖSSER, A; ROSA, G. F. C; MORE, C. L. O. O. Revisão: Comportamento Suicida ao Longo do Ciclo Vital. Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2014, Vol. 22, nº 133, 1-145. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v22n1/v22n1a11.pdf Acesso em: 10 de Setembro de 2017.

TASSINA, M. A; BACELLAR, A; ROCHA, J. S. X; FLÔR, M. D. S; MICHEL, L. P. A inserção da abordagem centrada na pessoa no contexto da saúde. Revista do Nufen – Ano 03, v. 01, n. 01, janeiro – julho, 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v3n1/a11.pdf Acesso em: 10 de Setembro de 2017.

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Colunista:

Renan Gomes Lara

Estagiário em uma ONG não governamental.
Atuou na promoção da saúde com escuta qualificada, 
acolhimento e informações aos usuário do 
Sistema Único de Saúde – SUS em 
Unidade de pronto atendimento – UPA.
Estudante de Psicologia na Faculdade Unigran Capital 
em Campo Grande – MS.
Atuou na Caravana da Saúde na cidade de Campo Grande.
Participa de projetos voltados a área da psicologia.
Contatos:
Whatsapp: (67) 99269-9508

E-mail: reenamportales@gmail.com

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Suicídio: quebrar tabu para salvar vidas


Por: Keyse Teles de Oliveira

Chegou o mês de setembro e com ele a campanha “Setembro Amarelo” pela prevenção ao suicídio, cujo objetivo é quebrar o tabu de que não se pode falar sobre o assunto, pois tal ação serviria de incentivo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 90% do casos poderiam ser evitados se tivessem tido o apoio necessário. Disso tiramos a certeza de que quebrar tabus pode salvar vidas.

Sobre o suicídio, ainda há quem encare como um absurdo alguém tirar sua própria vida, até mesmo um pecado. Tal visão traz graves consequências, tendo como exemplos: o medo e vergonha da pessoa em buscar ajuda, o fato de não dialogar com família e/ou amigos, e em geral a sociedade inteira ficar calada diante do assunto, não obtendo conhecimento, que é essencial para combater esse problema de saúde pública. Diante de tanto silêncio, esquecem de questionar os motivos e o quão difícil foi para a pessoa lidar com o sofrimento a ponto de tentar fugir dele, mas acabar dando fim à sua vida.

O suicídio é o resultado de inúmeros fatores que, na maioria dos casos, já influenciavam a pessoa há muito tempo. Estar atento aos sinais, como isolamento, mudança de comportamento e as expressões relacionadas ao fato da vida não ter mais sentido, é fundamental. Alguns dos fatores de risco são luto, se sentir culpado por algo, má relação familiar, transtorno de personalidade, transtorno de humor, mudança de status, dentre muitos outros; que merecem devida atenção.

Por mais que pareça um problema simples com soluções fáceis, é preciso entender que a intensidade do sofrimento é diferente de uma pessoa à outra, e a forma de enfrentar é singular, por essa razão não se deve subestimar, tirar sarro ou simplesmente ignorar o que a pessoa verbaliza, pois muitas vezes, já é um pedido de ajuda sem você perceber.

Com a campanha viralizando pelas redes sociais, surgem pessoas dispostas a ajudar e mudar essa realidade; com o lema “falar é a melhor solução”, eles se disponibilizam para conversas, desabafos e conselhos, eis que a intenção é muito boa, mas antes é preciso pensar em alguns cuidados. Uma simples conversa pode ajudar muito, entretanto é preciso saber como conduzi-la, visto que qualquer comentário, mesmo sem má intenção, pode piorar o sofrimento da pessoa. Por isso, antes de oferecer ajuda, responda a si mesmo: “O que é suicídio? O que leva a pessoa a cometê-lo? Qual minha visão sobre isso?”.

Para auxiliar, o primeiro passo é entender o assunto e reconhecer o sofrimento; ser um bom ouvinte, acolhendo com empatia e evitar julgamentos, interpretações equivocadas sobre a situação e expressões de choque. Sobretudo, é necessário incentivá-la a buscar ajuda especializada, o Centro de Valorização da vida (CVV) possui vários meios de comunicação de forma gratuita, e sob sigilo. Além do mais, há profissionais, como psicólogos e psiquiatras, para tratar de forma adequada.

Conclui-se então que abrir espaços para debates, para profissionais abordarem o assunto com linguajar acessível, e flexibilizar crenças religiosas a respeito do suicídio, contribuirá significativamente para diminuição dos casos, que até então, são frequentes e precisam ser considerados como um alerta para modificar o modo de encarar o assunto.

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Keyse Teles de Oliveira
CRP 06/133654

Psicóloga formada pela Universidade do
Oeste Paulista (UNOESTE) em 2015.
Contato:

(018) 9 9781-1824
psicologakeyse@outlook.com

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A série “Os 13 Porquês”: indicada ou contraindicada? Uma análise breve de algumas das mensagens transmitidas


Por: Alex Valério

Nas últimas semanas um dos assuntos mais abordados foi a nova série do Netflix: “Os 13 porquês”. Trata-se da história de uma adolescente que cometeu suicídio e que, antes disso, gravou 13 fitas, listando as razões que a fizeram tomar esta decisão. O mais intrigante e envolvente é que cada uma das fitas se destina a uma pessoa que, de alguma maneira, a magoou, contribuindo para que ela se sentisse cada vez pior e, no fim, resolvesse findar com a própria vida.

No geral, a repercussão a respeito da série tem sido gigantesca. Tenho lido diversos textos, alguns escritores se posicionam a favor, já que a depressão é uma doença perigosa e silenciosa. Outros realizam críticas mais severas, apontando-a como inapropriada e perigosa. Este texto não irá tomar partido nem de um lado, nem de outro. Logo, não vou recomendá-la ou condená-la, mas gostaria que pudéssemos expandir um pouco nossos horizontes e refletir criticamente a respeito de alguns aspectos relevantes que são abordados em “Os 13 porquês”. Posso adiantar que, do meu ponto de vista, é inegável que há alguns aspectos problemáticos, mas ao mesmo tempo, também consigo listar alguns que podem ser plausíveis de discussão. Espero, minimamente, alcançar educadores, pais e tantos outros profissionais que lidam com pessoas.

Vamos começar falando sobre a adolescência. Digamos que este é um período um tanto quanto “complicado”. Diversos autores que estudam Psicologia do Desenvolvimento definem esta fase como conflituosa. Normalmente é marcada por diversas cobranças, como: pais cobram boas notas; ambiente escolar exige que você tenha amigos; os amigos esperam que você se relacione “intimamente” com outras pessoas ou que experimente algumas coisas; os adultos esperam que você se comporte educadamente; a mídia espera que você seja bonito (a) e que se vista de determinada maneira, ou ainda, que tenha certo corte de cabelo. E, além de tudo isso, os hormônios estão a mil. O corpo está mudando, se transformando e tudo fica bastante intenso.

Uma das primeiras reflexões que gostaria de listar é justamente o fato de que a série nos faz pensar a respeito das dificuldades pertinentes a esta fase e, também, a importância da participação dos pais, principalmente no que se refere ao monitoramento dos filhos – sabemos que eles não gostam/aceitam, ainda assim, nessa relação a autoridade deve ser dos cuidadores. Normalmente, neste período da vida dos jovens, é comum que os adultos não consigam ter um bom relacionamento com adolescentes. Ouço muitos pais dizerem que os filhos perderam o respeito, que passaram a responder e a contrariar tudo o que dizem.

Pois é, de fato costuma ser mesmo assim. Há alguns estudos, na Psicologia, que revelam que o adolescente tende a se afastar dos mais velhos, sendo comum que passem a se relacionar em grupos, buscando se juntar a pessoas que possuem algum interesse em comum, de modo que seja possível identificar-se com elas. Na série, é possível ver o quanto a garota suicida buscou estabelecer laços de amizade com diferentes pessoas. Na tentativa de se identificar e se ligar a alguém, ela frequentou lugares que não gostaria e tentou se relacionar com pessoas que não simpatizava.

Acredito que todos os que assistiram a série concordariam que, ao longo da trama, a personagem transmite alguns sinais de que algo não está bem. Na vida real estes sinais também costumam aparecer. Já presenciei isso na clínica e tenho colegas que atendem que também já passaram por isso. Normalmente, pessoas que decidem findar com a própria vida acabam deixando transparecer alguns sinais, geralmente é a forma que encontram para pedir socorro.

As pessoas que lidam com crianças e adolescentes – pais, cuidadores, educadores etc – precisam estar atentos a comportamentos que levantem suspeitas. Como já dito, é comum que adolescentes se distanciem dos adultos e passem algum tempo sozinhos. Entretanto, o isolamento completo pode indicar um sinal de que algo não caminha bem. Se isso está acontecendo, interprete como um primeiro sinal de alerta. Não se trata, necessariamente, de alguém que irá cometer suicídio ou que está sofrendo de depressão, mas pode ser um indicativo de que algo pode não estar bem.

Outro aspecto que é abordado em “Os 13 Porquês” é bullying. Aliás, é muito comum ouvir comentários de pessoas que julgam que há algum exagero nessa história de bullying. Já ouvi muitas pessoas falarem que o mundo ficou chato, que já não se pode mais brincar. Entendam, apesar da “chatice” que alguns julgam, para pessoas que sofreram – ou ainda sofrem – com brincadeiras maldosas, não há nada de chato. Só quem já foi motivo de riso, por ser diferente – muitas vezes fisicamente – da maior parte das pessoas, sabe o quanto é bom ter um mundo “um pouco mais chato”. Mas, sem criar polêmica, espero que todos sejam capazes de concordar que, esse tipo de conduta, pode gerar prejuízos significativos à todos os que vivenciam situações como essas.

Cabe, aqui, um exercício de empatia. Para você, uma brincadeira pode ser algo normal e não ter sentido pejorativo, mas se coloque no lugar daquela pessoa e considere o quanto pode não ser legal falarem do seu peso, da sua orientação sexual ou das suas atividades sexuais.

Observar e intervir diante de situações em que o bullying está sendo cometido é complexo, entretanto, é algo que requer a nossa atenção e, inclusive, também exige alguma capacidade de empatia. A discussão a respeito disso tem se tornado cada vez mais ampla, ainda assim, infelizmente ainda há algumas pessoas que julgam como exageros desnecessários. Triste é quando esse tipo de pensamento é compartilhado por colegas que se relacionam diretamente com a educação. Aos profissionais que atuam no contexto escolar, é importante estarem atentos e prontos para intervir.

Por enquanto explicitei apenas as reflexões importantes que “Os 13 Porquês” nos deixou. Vamos, agora, abordar alguns possíveis problemas que possam ser decorrentes da série. Antes de tudo, particularmente falando, não me pareceu, em nenhum momento, que a série tinha como pauta central a depressão ou o bullying. Na minha opinião, o foco principal está em algo chamado de vingança. Claro, gira em torno do suicídio e, ao falar sobre vingança, não estou diminuindo ou negando o sofrimento que a personagem sentiu ao passar por tantos episódios de frustração. Entretanto, há muita mágoa. O desejo de deixar uma fita para alguém, alegando que esta pessoa foi um dos motivos pelo qual houve uma morte, me parece perverso.

Confesso que fico preocupado com o aspecto “romantizado” que deram ao suicídio. E, olhando por este ângulo, concordo quando alguns autores têm dito que a série possa ser uma espécie de “gatilho”, já que o suicídio parece ser uma alternativa convidativa para acabar com um sofrimento gigantesco que se tem carregado nos ombros. Apesar disso, em alguns momentos, a personagem suicida discorre sobre o quanto gostaria de ter ouvido algumas coisas e, também, do quanto gostaria de ter sido ajudada. Em algum grau, isso até pode motivar pessoas que experimentam sentimentos semelhantes. Mas é claro que, ao mesmo tempo em que isso pode acontecer, outras pessoas podem se prender no fato de que todas as tentativas da personagem se frustram e, nesse sentido, podem passar a acreditar que não há nada capaz de causar alguma mudança do sofrimento atual.

A despeito de toda discussão, é válido frisar que as pessoas são diferentes, possuem uma história de vida diferente. É possível que para alguns o suicídio se apresente como uma solução (eis aqui o problema do gatilho). Para outros, porém, pode ser uma forma de ver que a ajuda é possível e que a morte em si, pode causar consequências a outras pessoas, gerando sofrimento em quem não merece sofrer. Não há garantias de exclusividades dos prejuízos e, tampouco, dos ganhos – embora eu concorde que, só o fato de que algo indica um risco para um sentido, algum alerta precisa ser feito. De qualquer forma é relativo. Tudo pode ser e, ao mesmo tempo, pode não ser.

Ouvi comentários de amigos, colegas, pessoas no metrô etc. No geral, muitas pessoas ficaram impressionadas com o quanto as pequenas coisas para uns, podem ser grandes para outros. Além disso, mais de uma vez ouvi comentários em que confessavam que, algumas vezes, falhas são cometidas sem que seja percebido.

Eu diria que “Os 13 porquês” tentou abordar diversos aspectos problemáticos em nossa sociedade, porém, ao tentar falar sobre tudo, algumas mensagens ficam superficiais e, com isso, não chegam a alcançar todos os espectadores. Algo que penso ser imprescindível abordarmos é que, tratando-se de uma série realizada pela indústria do cinema, há influências do sistema político que domina o mundo: o capitalismo.

Os tele-espectadores mais críticos perceberam facilmente o mistério constante que se criou a respeito da fita do Clay (um dos personagens da série). Espero que todos concordem que não há motivos para o garoto estar ali. Alguns dirão que ele não ajudou a garota suicida, que se omitiu. Aos que acharem isso, sejam empáticos, por favor. Era o jeito do rapaz, ele não deixou de fazer porque quis, mas não fez por não conseguir. Mas, voltemos ao capitalismo. Há um suspense demasiado a respeito das personagens a quem cada episódio se refere e, principalmente no caso do Clay, em vários momentos citam a fita dele como se fosse uma das mais graves, o que não se confirma.

Por fim, todos esses aspectos foram apresentados para que pudéssemos pensar considerando uma série de possibilidades e, também, pontos de vistas que, em alguns momentos, se contrapõem. Uma vez que a série está aí e dividindo opiniões, vamos tentar discutir a partir de algo que pode ser válido para nossa prática. Aos leitores que assistiram e ficaram muito impressionados, não pensem que a intenção dos criadores é unicamente alertar o mundo sobre os riscos da depressão, do bullying etc, eles (também) querem vender.

Este texto também foi publicado em: Educa2.

Imagem capa: Pinterest

Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela
Universidade de São Paulo.
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram
pesquisa básica em análise do comportamento
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso),
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos.
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
Facebook.com/ominutoterapia

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