Cuidar, Educar ou Ensinar?


Por: Andréia de Sousa Leite

Cuidar, Educar ou Ensinar? Uma pergunta para instigar pais, professores e cuidadores de crianças à reflexão sobre possíveis respostas. Assim, a aula de hoje, ou melhor, o texto de hoje tem a ver com a vida, desenvolvimento saudável das crianças e o papel da família e escola nesse processo, mas se fosse uma aula bem que poderia ser de português, mais especificamente de conjugação verbal.

Então, vamos ao primeiro verbo: Cuidar!

Bom, que a criança é um ser em pleno desenvolvimento e que esse se dá sob a forma de variados e repetidos processos de aprendizagem que são especialmente conduzidos pelos pais, isso é fato! Mas em tempo de profundas transformações sociais que refletem diretamente na rotina e dinâmica familiar, faço um grifo especial para a tamanha mudança relacionada ao tempo de convívio entre pais e filhos, pois os pais cada vez trabalham mais e assim cada vez menos estão em casa compartilhando de momentos comuns com seus filhos. E quem perde com isso? Todos! Mas principalmente as crianças que perdem principalmente tempo de contato, cuidado, vínculo e aprendizado(s) com seus pais, que devem ser a referência de ensino primordial dos filhos através do cuidado, da experiência, da orientação, da repreensão, enfim, da condução do desenvolvimento infantil saudável.

Aliás, por falar em transformações de fato, é uma realidade que muitas coisas mudaram, mas uma certamente permanece, a certeza de que: “toda criança precisa do cuidado e contato com seus pais para que possa crescer e se desenvolver de forma saudável”.

Quanto ao significado do verbo “cuidar”, significa ter cuidado, tratar, considerar, ponderar, assistir…nesse caso “pais “cuidam dos filhos”! E aqui há uma equivalência, pois quanto menores os filhos, maior o grau de cuidado e dependência de seus pais.

Vamos então ao segundo verbo, “Educar”.

Palavra que origina-se do latim Educare, edurece que significa literalmente “conduzir para fora” ou “direcionar para fora”. Então as perguntas aqui seriam mais ou menos estas, quem conduz ou direciona? E a quem? E para onde? Vamos a possíveis respostas! Bom, se o momento inicial do desenvolvimento da criança é marcado por uma intensa participação dos pais no processo de cuidado dos filhos, à medida que os pequenos vão crescendo, devem receber conteúdos que não tem mais haver apenas com sua sobrevivência “inicial”, mas também com sua socialização, uma espécie de treinamento para o convívio com outras pessoas e lugares além de sua casa e família.

No caso das crianças, sua segunda principal referência de ensino e convívio é “a escola”. Assim cabe aos pais educar e/ou preparar a criança para a entrada na escola, por isso que as tais palavrinhas mágicas: Desculpe, Por favor, Com licença, Posso ou Não posso… na verdade ganham uma magia especial quando são aprendidas ainda em casa.

Vamos agora para a última conjugação, mas antes vale pontuar que Cuidar e Educar, são também verbos que se conjugam reciprocamente e que da mesma forma os pais e a escola são responsáveis ou corresponsáveis nesses processos e que dependendo da idade e contexto das situações, é importante lembrar que tal parceria tende a não ser saudável ou mesmo insuficiente quando uma das partes se exime do exercício de seu papel. E por falar em escola, parece-me também ser fato que esse é o lugar de excelência de ensino à criança. É também uma fonte de convívio social com suas normas, regras, relacionamentos e processos e mais processos de ensino/aprendizagem.

Segundo o dicionário online de português, o verbo Ensinar tem a ver com “transmissão de conhecimento sobre alguma coisa a alguém”.

Vale então concluir que no contexto de vida da criança, essa transmissão seria feita pela escola a seus alunos e que tal repasse seria de conteúdos “didáticos” necessários a uma formação cidadã e principalmente intelectual que a habilite a uma futura carreira profissional, requisito essencial para que seu desenvolvimento que, vale lembrar, “é contínuo”, possa então encontrar nesse momento um ponto de convergência clara entre os processos de cuidado, educação e crescimento, o qual formam a bagagem primordial que garantirá à criança a possibilidade de se tornar um adulto socialmente e psicologicamente saudável.

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Colunista:

Andréia de Sousa Leite 
CRP-22/0699; CRP-21/ISSO 008

Psicóloga clínica, com Formação básica em psicanálise e Clínica da intervenção precoce; Formada pela Faculdade Santo Agostinho-FSA (Teresina-PI), especialista em Terapia cognitivo-comportamental; Atende nas cidades de Teresina-PI e Timon-Ma; Atualmente trabalha no Cmam-Centro de atendimento multidisciplinar infantil e no Nasf-Núcleo de apoio a saúde da família; Ampla experiência nas áreas de Saúde pública, saúde mental e atendimento materno-infantil e familiar. Colunista do site Sucesso pede mais – (http://sucessopedemais.com/) com publicação de textos relacionados ao tema: Desenvolvimento infantil e relacionamento parental; Coach palestrante nas áreas de comportamento infantil e relacionamento familiar. Psicóloga voluntária nas Ongs- Centro Débora Mesquita e Grace Contato Esperança. Supervisora clínica.
Contatos: 
e-mail: andreia-milk@hotmail.com
Telefone (whatsapp) -(86) 98874-1168/99988-9099

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Pré-Vestibular e Saúde Mental


Por: Tatiana Mendes Rocha

Estamos vivendo a fase do agora. É necessário ter tudo em um curto prazo de tempo. Aquela questão de que precisamos sair da escola aos 17, entrar na faculdade aos 18, fazer o curso “dos sonhos”, estudar muito, formar e ganhar muito dinheiro. Tudo isso, na fase dos 20.

Nessa perspectiva, percebemos os jovens batalhando cada vez mais por uma vaga em faculdades públicas, o que exige muito estudo e muitas vezes o comprometimento da saúde mental. São noites sem dormir, aulas em demasia, falta de descanso, alimentação inadequada, e muitas vezes a utilização de medicamentos para melhorar o desempenho. Pesquisas indicam estresse, ansiedade e depressão em alunos em período de vestibular e escolha profissional.

A saída do ensino médio para ingressar no vestibular gera angústia e sofrimento, pois muitos não conseguem ingressar de imediato, o que leva a se dedicar ao pré-vestibular para tentar noutro momento. Nesse momento também está envolvida a questão da escolha profissional e a mesma se torna multifatorial. De acordo com Pelisoli (2008), o jovem é influenciado por aspectos políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos.

A pressão psicológica de cursar uma faculdade é intensa, e exerce uma sobrecarga excessiva sobre a vida do estudante. Segundo Paggiaro (2009), esta transição exerce grande influência e na maioria das vezes está acompanhada pelo medo do fracasso ou das consequências de escolhas mal feitas quanto à futura profissão. São muitas as causas de desconforto do aluno, uma delas é o período que antecede o vestibular, a pressão para o sucesso (principalmente vinda dos familiares).

O fato dos jovens não terem acompanhamento psicológico e não possuírem um mecanismo para lidar com as dificuldades e incertezas pode desencadear uma série de psicopatologias, incluindo a depressão. O processo atual de inserção à faculdade é altamente competitivo e desgastante, gerando insegurança aos candidatos e todo desgaste físico e emocional que o acompanha. Acredito que o preparo emocional e psicológico deve ser realizado desde a escola, fazendo com que o jovem acredite em suas capacidades e ofereça recursos para ajudar na sua escolha profissional – como orientação profissional liderada por psicólogos. Esse acompanhamento também pode ser realizado como forma de encorajamento para lidar com vitórias e fracassos que estão inseridos nesse processo.

Levando em conta o que já foi apresentado, entende-se essa fase do pré-vestibular deve ser algo saudável para o estudante, como também a sua escolha profissional que deve ser voltada para o que lhe dá prazer e segurança na atuação profissional.

Referências:

RODRIGUES, Daniel Guzinski; PELISOLI, Cátula. Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório. Rio Grande do Sul, 2008.

CALAIS, Sandra Leal; PAGGIARO, Patricia Soares. Estresse e escolha profi ssional: um difícil problema para alunos de curso pré-vestibular. Contextos Clinicos. São Paulo, 2009.

Imagem capa: Pexels

Tatiana Mendes Rocha
CRP 03/12609

Psicóloga, especializanda em Terapia Cognitivo-Comportamental. 
Formada pela Faculdade Castro Alves, 
especializanda pelo Centro Universitário Amparense. 
Atende em Salvador/Bahia.
Contatos: 
tatianamendesr@gmail.com
Instagram: @psitatiana

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Quão inteligente você acredita que é?


Por: Jackeline Leal

Eu te desafio a parar, agora, por alguns segundos e responder à minha pergunta: Em uma escala de 01 a 10, qual nota você daria para o seu nível de inteligência?
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Sabe o que mais me surpreende nesta pergunta? Boa parte de nós a respondemos sem ao menos nos questionar, e isso acontece porque a maioria das pessoas acredita ser a inteligência algo estático e que não exige discussões, ou seja, ou você é inteligente ou não é, e pronto.

Quando o assunto é inteligência, a escola é considerada o melhor local para se avaliar as pessoas e o seu nível de conhecimento. E para fazer isso de uma maneira eficiente, geralmente utilizam-se das provas e em muitos casos, dos temidos testes de QI (Inteligência).

Sim, isso seria incrivelmente assertivo se nós, seres humanos, não fôssemos tão complexos e não apresentássemos uma extraordinária gama de aptidões que vão muito além daquelas que a escola e as limitadas avaliações são capazes de mensurar.

Esse pensamento arcaico e reducionista sobre o nível de inteligência das pessoas, começou por volta do século XVII com a chegada de um período que demos o nome de Iluminismo. “Um dos pilares deste movimento era a valorização do raciocínio e da lógica. Os filósofos argumentavam que não deveríamos aceitar como conhecimento qualquer coisa que não pudesse ser provada por meio de raciocínio lógico…” como disse Ken Robinson em “O Elemento-Chave”.

Para aquela época em específico, utilizar de ferramentas para medir as competências e habilidades das pessoas era algo incrível e extremamente útil, afinal de contas era primordial que as pessoas fossem “dispostas” nas oportunidades existentes de trabalho corretas, de acordo com as suas habilidades (principalmente nos EUA e Europa nos períodos pós-guerras).

Acontece que os tempos mudaram até hoje nós ainda estamos acreditando que a inteligência se mede assim, por níveis e por testes de QI.

Poucas pessoas têm parado para pensar que sequer Binet, o inventor do Teste de QI, tinha o objetivo de transformá-lo em uma ferramenta limitadora. Seu real objetivo era identificar em determinado momento no tempo, o nível de inteligência individual e o foco dela (musical, numérica, biológica, humanas, artísticas, entre muitas outras).

Assim, o meu objetivo neste texto é levar você a refletir sobre a não necessidade de se encaixar nos padrões escolares, como sendo algo mais do que possível, algo comum.

Isso quer dizer que muita gente passa boa parte da vida se menosprezando pelo simples fato de não ser um talento com números e pouca gente valoriza a amplitude das possíveis inteligências que existem no mundo. Por isso, faz-se necessário repensar, rediscutir urgentemente a Escola e ter seus modelos de Educação renovados.

Você consegue imaginar o que seria do nosso mundo se todas as pessoas fossem gênios matemáticos? Nada contra os gênios dos números, mas não acredito que a vida seria muito divertida sem que existissem pessoas com habilidades, por exemplo, para contar piadas e nos fazer sorrir.

Você já parou para pensar que não necessariamente todas as habilidades do mundo necessitariam ser encaixadas nas áreas determinadas pelos testes de orientação vocacional? (Humanas, Exatas e Biológicas).

Vamos testar isso? Qual seria a área que deveríamos encaixar Ayrton Senna, Nadia Comaneci, Gustavo Kuerten, Ivete Sangalo, Silvio Santos e tantos outros, talvez até você ou seus filhos?

O mundo está mudando muito rápido e isso significa que talvez daqui a 10 ou 15 anos, existe uma possibilidade de o teu curso de formação ter sido extinto ou que ele necessite ser reinventado para atender às novas demandas de Mercado.

E então, você vai descobrir tardiamente que passou boa parte da sua vida tentando se encaixar em um padrão arcaico de educação e mercado de trabalho que foi criado há décadas atrás, com o intuito de responder a uma demanda pós Segunda Guerra Mundial de escassez de produção de conhecimento e conteúdo…

Sim, pensando desta forma, perde um pouco de sentido pedir que o teu filho tire nota dez em todas as disciplinas escolares, até naquelas que ele não tem afinidade ou não suporta. A situação vista de um outro ponto de vista, nos mostra que esta cobrança não garante que o seu filho seja feliz profissionalmente e nem ao menos pessoalmente.

Por tanto, se você realmente quer fazer algo por amor, pensando no bem-estar e no futuro das nossas crianças, melhor primeiro começar a aceita-las como elas são e tentar ao máximo permitir que elas floresçam de acordo com as suas paixões e habilidades. Observar em qual área ela se destaca, em qual área ela se sente feliz e consegue ser espontânea e criativa e aí ajudar para que elas possam explorar este novo mundo.

Desta forma, pode ser que você não tenha um gênio da matemática em casa, mas tenho certeza de que terá filhos felizes.

Imagem capa: Pexels 

Jackeline Leal
CRP 16/1585

Psicóloga Clínica, Pós Graduanda em Psicodrama pelo IDH/RS, 
Formada pela FAESA/ES, atende em Vitória/ES.
Jackeline também é Coach de Carreira e Negócios e conta com 
mais de 10 anos de experiência em desenvolvimento de pessoas.
Contatos:
E-mail: contato@jackelineleal.com.br 

Facebook.com/jacklealpsicoach
www.jackelineleal.com.br

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A empatia no desenvolvimento da inteligência e altas habilidades


Por: Maria Aline Moreira de Oliveira Constantino

Entende-se inteligência como um processo que se inicia desde o nascimento da criança e se desenvolve ao longo da vida, dependendo da quantidade e qualidade dos estímulos oferecidos pelo ambiente, da fisiologia de suas estruturas cognitivas, além da influência dos valores culturais ao qual esse sujeito está inserido. Podemos dizer que a inteligência nasce à medida que começamos a agir e interagir com e sobre o mundo e quando participamos ativamente do processo de aprendizagem, ou seja, quando somos conduzidos a construir e não a reproduzir ou repetir mecanicamente um processo.

Nesse ponto, pode-se inserir a discussão sobre as variações que ocorrem nos sujeitos com altas habilidades/superdotação, desde que iniciam suas aprendizagens. Partindo-se dos ideais de Jean Piaget (1896-1980), que embora não tenha desenvolvido pesquisas, nem se dedicado ao estudo do funcionamento cognitivo de pessoas com Altas Habilidades/Superdotação, muito contribuiu para a compreensão de fenômenos pertinentes ao desenvolvimento da inteligência. Com base nos conceitos de Piaget, admite-se que o processo que leva à evolução de um estágio de desenvolvimento para o seguinte é o mesmo para todos os indivíduos e o que vai produzir diferenças entre um dito “normal” e outro considerado “superdotado” e até entre “superdotados” é o modo e o ritmo como as estruturas cognitivas se organizam nas tentativas de entender o mundo e se adaptar a ele.

O conceito de altas habilidades tem mudado ao longo do tempo. Atualmente o termo superdotação, também muito utilizado, está além do que os testes de inteligência podem mensurar. Por vezes, há possibilidade de considerar como portadores de altas habilidades, apenas os alunos que apresentam uma capacidade intelectual superior, excluindo aqueles que possuem talentos em outras áreas, tais como: a psicomotora (com ótimo desempenho em esportes) ou artísticas (com talento para se expressar através da música, pintura e poesia).
Contudo, deve-se compreender que apesar de adquirirem vantagens na área cognitiva e na capacidade de rendimento psicomotor, os superdotados podem encontrar dificuldades psicossociais. Assim, entende-se que a escola e o professor que não estejam preparados e habilitados para lidarem de maneira empática com as demandas apresentadas pelos alunos portadores de altas habilidades, podem impedir o desenvolvimento destes.

No campo educacional há um imaginário social de que altas habilidades/superdotação poderia se manifestar em diferentes áreas do conhecimento, mesmo sem oportunidades escolares adequadas. A concepção atual de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação rompe com esse paradigma. No caso de altas habilidades/superdotação, assume especial importância o contexto no qual se dá a aprendizagem, uma vez que este pode ser um fator facilitador ou cerceador das manifestações de potencialidades e talentos. Conforme o valor dado pelo contexto, o sujeito pode se motivar ou não a apresentar suas habilidades e mesmo que se perceba talentoso em alguma área, não se dedicar como poderia, caso esta não seja estimulada ou valorizada socialmente.

Howard Gardner, psicólogo e pesquisador norte-americano, revolucionou o campo da psicologia cognitiva ao identificar em sua obra Estruturas da Mente: As Teorias das Inteligências Múltiplas, diversos tipos de inteligências distintas. Sua pesquisa ultrapassa a noção comum e tradicional de inteligência como mera capacidade cognitiva uniforme, para a definição de inteligência como “capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais” (Gardner, 1994, p.46).
Gardner (1994) reconhece a inteligência como um conjunto de capacidades, talentos e habilidades mentais, afirmando que todo ser humano possui múltiplos tipos de inteligência e cada um deles pode ser desenvolvido ou enfraquecido. Em seus estudos, identificou nove tipos de inteligência: verbal ou linguística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal ou sinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencialista, trazendo uma nova perspectiva acerca da relação entre as altas habilidades/superdotação e a inteligência, considerando que a primeira resulta não somente do nível de inteligência, mas do perfil dessa interação com o mundo, uma vez que essa inteligência surge da combinação da herança genética, condições de vida, cultura e época ao qual o sujeito está inserido.

Joseph Renzulli é um psicólogo educacional norte-americano conhecido por contribuir para o desenvolvimento do talento das crianças na escola e para a compreensão da superdotação. Segundo ele, a superdotação seria influenciada pela confluência de três fatores: Capacidade acima da média, motivação ou comprometimento com a tarefa e Criatividade. De acordo com sua teoria, esses fatores atuam através de um suporte basilar que envolve família, amigos e escola, destacando, assim, a importância dos aspectos sociais para manifestação e sustentação plena da superdotação.
A capacidade de compreender empaticamente o aluno, ou seja, compreendê-lo a partir do seu quadro de referência interno, permite não só o desenvolvimento intelectual do aluno, como também o seu crescimento enquanto pessoa, promovendo, assim, uma aprendizagem significativa.

Falando em capacidade empática, não podemos deixar de citar Carl Rogers (1902-1987), eminente psicólogo americano, considera a empatia uma das atitudes fundamentais e necessárias para a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento. Em seus escritos sobre educação, afirma que o aluno possui motivações e entusiasmos, próprios, que devem ser liberados e favorecidos pelos professores e apresentou um modelo educativo onde, nessa relação pedagógica, o centro das atenções era a pessoa do aluno e o professor era um facilitador do processo de aprendizagem.
Quando fala-se em ensino, pode-se dizer que ensinar não é apenas comunicar um conhecimento, assim como aprender não é apenas aprender esses conhecimentos vinculados, pois nada disso gera uma influência significativa sobre o comportamento.
Aprender é um processo dinâmico, que exige concentração, interesse, empenho e motivação e por tal razão é importante que as relações de cooperação e participação entre professor e aluno estejam presentes. A verdadeira aprendizagem é autodescoberta. Uma aprendizagem em que há apropriação e assimilação pessoal, que se incorpora na nossa própria experiência o que se aprendeu e se descobriu, tem impacto sobre nosso comportamento e leva a mudanças e melhorias.

A valorização social do conhecimento interfere na construção da inteligência, podendo direcionar essa construção para determinados tipos de conhecimento por agregar significados ao que o sujeito sente, percebe, pensa ou realiza. Os valores culturais do contexto e do momento histórico, podem gerar motivação à aprendizagem, funcionando como um estímulo a mais ao desenvolvimento de certas potencialidades humanas, assim como podem dificultar o aparecimento de aptidões que o sujeito tem, mas, por falta de estímulo, não manifesta. Isso vale tanto para pessoas com altas habilidades/superdotação como para aquelas ditas “normais”.
Há que se retomar aqui a lembrança de que cada indivíduo é particular, seja em suas características, interesses ou expressões. Assim, embora haja aquelas características que são compartilhadas por grande parte das pessoas dotadas de altas habilidades/superdotação, existem outras peculiares e específicas que devem ser estudadas de forma individual. O que o professor precisa é identificar as habilidades e competências apresentadas pelos alunos e utilizar o máximo de seu potencial para um desenvolvimento construtivo e enriquecedor enquanto pessoa a ser social.

“Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua existência.” (Carl Rogers)

Referências:

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The framsof the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.

PIAGET, J. Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1956.

RENZULLI, J. S. O que é essa coisa chamada superdotação e como a desenvolvemos? Retrospectiva de vinte cinco anos. Revista Educação. Porto Alegre, ano 27, n.1, jan/abr 2004. pp. 75-134. Publicado originalmente em inglês com o título: What is this thing called giftedness, and how do we develop it? A twenty-five year perspective. Journal for the Education of the Gifted, v. 23, n. 1, p. 3 – 54, 1999.

ROGERS, Carl. Liberdade de aprender. 2ª ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1973.

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Colunista:

Maria Aline Moreira de Oliveira Constantino
CRP 05/54266

Psicóloga Clínica Humanista Centrada na Pessoa
Licenciada em Ciências Biológicas
Psicopedagoga
Atuo na cidade do Rio de Janeiro – RJ
Contatos: 
Página: facebook.com/PsicologaMariaAline
Email: mariaaline.psi@gmail.com
Telefone: +55 21 991064777

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O papel da escola no desenvolvimento psicossocial da criança


Por: Thais Faustino

Sabemos que a Educação Infantil está em constante construção, ela é constituída por movimentos sociais que norteiam as mudanças no desenvolvimento da criança, seu convívio na família, na comunidade, etc. Por isso os modelos de educação vêm sofrendo alterações que abrangem processos psicopedagógicos, o que demanda uma constante atualização de profissionais da área escolar. E com essas mudanças, destaco aqui a importância da afetividade, das emoções e demais práticas psicossociais.

Entende-se que na idade pré-escolar as crianças têm dificuldades (afinal elas ainda não conhecem os sentimentos), em dominar suas emoções. Comumente são mais espontâneas, sinceras, impetuosas comparadas aos adultos. Mas se desenvolvidas essas emoções e sentimentos, a criança passará a ter uma maior compreensão de si, trazendo bem-estar emocional. Sendo assim, cabe aos cuidadores a mediação destas emoções, dando suporte para que as crianças operem melhor consigo e com as demais pessoas nas relações.

Henri Wallon foi um dos primeiros teóricos a abordar as emoções e afetividade em sala de aula. O autor considera tanto a inteligência quanto a emoção para o desenvolvimento da criança, sendo a emoção a mola propulsora das relações sociais, e o processo do desenvolvimento infantil acontece em meio às interações com o ambiente e com os sujeitos (GASPAR e COSTA, 2011).

Algumas das estratégias que utilizo para trabalhar as emoções na infância:

As atividades lúdicas têm sido a minha melhor maneira de comunicação com as crianças. Através de jogos sobre dimensões cognitivas, emocionais e perceptomotoras e por meio de desenhos, pinturas livres e brincadeiras de imaginação, tenho convidado as crianças a falarem de si, de como se sentem e vivenciam determinadas situações cotidianas.
Utilizar do brincar e das atividades lúdicas como prática pedagógica é um grande fator que favorece, além da afetividade, a estimulação psicomotora, a memória, a imaginação, o desenvolvimento da autonomia, as interações entre iguais, as vivências de regras e papéis sociais, bem como a expressão de sentimentos.

‘Por trás de uma fantasia eu posso ouvir respostas de uma realidade’ (Caio Crepaldi).
Outro aspecto de grande relevância é a maneira com que nos colocamos para com os pequenos. Estabelecer uma relação afetuosa, acolhedora e de confiança proporciona um melhor contato com suas emoções (e convenhamos, não é apenas com as crianças que devemos manter essa relação! rs). Ser afetivo é um exercício, haverá momentos que não estaremos tão dispostos e até mesmo com preocupações pessoais, e é nessa hora que devemos distinguir e não permitir que descarreguemos nos outros, principalmente naqueles que estão mais vulneráveis.

Um dos exercícios sobre emoções é ao término de cada aula questionar as crianças sobre o que as deixaram felizes durante o dia (não necessariamente escolar, podendo aparecer aspectos familiares e sociais), o que as chatearam, assim como o que elas fizeram a respeito (por exemplo, quando há um desentendimento/conflito com outra criança). Essas anotações são realizadas e semanalmente se faz um levantamento, o educador poderá acompanhar como a criança lidou com seus sentimentos e as estratégias que desenvolveu para resolvê-los (ou não), estimulando assim o autoconhecimento de cada um. O termômetro das emoções também é outra ferramenta bastante útil nesse processo de identificar, medir e regular as emoções e os sentimentos.

A empatia, outro fator de bastante relevância no desenvolvimento afetivo da criança. Ao presenciar um conflito entre pares, ouvir e se atentar para não desqualificar o que cada criança diz e sente e propor o exercício de troca de papéis, de se colocar no lugar do outro e buscar uma maneira de resolver o conflito. Isso ajudará a criança a tomar contato com as suas experiências emocionais atribuindo sentido a elas, e de como é refletida no mundo (no outro), assim como ter autonomia em resolvê-los, isso
trará responsabilidades para a criança e ajudará no seu desenvolvimento interpessoal, além de contribuir para hierarquizar seus sentimentos (assunto para outro momento).

Portanto a experiência me mostra a importância da relação afetuosa no desenvolvimento das crianças. Se queremos um mundo melhor e com mais saúde mental, precisamos ser modelos, falar sobre emoções e sentimentos e permitir que as crianças também o façam. O modo de vida das crianças deve ser compreendido, ou pelo menos, considerado nos processos pedagógicos e na atuação diária de todos (pais, educadores, comunidade, etc), pois somente olhando para a criança em sua totalidade, sua complexidade subjetiva é que se pode efetivamente ajudá-la de maneira mais saudável.

Referências:
GASPAR, Fernanda Drummond Ruas; COSTA, Thaís Almeida. Afetividade e atuação do psicólogo escolar. Psicologia Escolar Educacional. Maringá, 2011, p. 121-129.

Imagem capa: Pexels

Thais Faustino
CRP 06/141452

Psicóloga em Campinas.
Contatos
E-mail: psicologathaisfaustino@gmail.com
Instagram: https://www.instagram.com/psicologathaisfaustino/
Facebook: https://www.facebook.com/psicologathaisfaustino/
Site: www.permitaser.com.br

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Profecia Autorrealizadora: o poder da palavra do professor na construção do “aluno-problema”


Por: Danilo Ciconi de Oliveira

A influência do adulto sobre a formação e o desenvolvimento da criança é alvo de diversos estudos da área da Psicologia e da Educação. É a partir da relação com o adulto, especialmente com os pais/cuidadores, que a criança constrói o seu referencial de mundo.

Nesse sentido, a instituição escolar também tem grande influência sobre a socialização e o comportamento das crianças. Alguns autores da Psicologia do Desenvolvimento e da Antropologia afirmam que, entre os 6 e os 10 anos (mais ou menos), a escola acaba sendo, inclusive, o principal fator de socialização do jovem. Nessa perspectiva, ganha destaque a figura do professor. O educador tem ascendência sobre seus educandos; para eles, em determinado momento da vida, o professor é visto como ente de autoridade e identificação, sua palavra é considerada “lei” e “verdade”. Ou seja, o que ele diz e faz tem grande poder.

Assim, o professor precisa tomar cuidado com a própria conduta e, particularmente, com os seus modos, conscientes ou inconscientes, de se relacionar com os seus alunos. Mais ainda, precisa estar ciente do poder que as suas expectativas têm sobre eles.

Há, em Psicologia, um conceito bastante difundido chamado Profecia Autorrealizadora. Ele versa sobre como nossas expectativas em relação ao acontecimento de um fenômeno tendem a modular nosso comportamento, de forma que nossa conduta acabe cooperando para o aparecimento do fenômeno que anteriormente esperávamos. Em outras palavras, por acreditar tanto em algo, agimos como se este algo já fosse real e, por isso, colaboramos para a sua produção – mesmo que não percebamos nossa participação nesse processo.

Não é incomum, por exemplo, que um professor, após assumir uma nova turma, acabe se deixando influenciar pelos comentários e impressões de outros profissionais (que trabalharam anteriormente com o mesmo grupo) acerca da conduta de determinados alunos. Na maioria das escolas nas quais atuei, praticamente todas as salas tinham um ou dois alunos eleitos como “aluno-problema” (em tempo: odeio esta expressão com toda a minha consciência).

Em decorrência disso, certamente, o novo professor vai se aproximar da criança já esperando encontrar dificuldades. Irá redobrar a supervisão e a vigilância sobre ela e, quanto mais se vigia, mais se descobrem pequenos desvios (comuns a todos os estudantes). Para este aluno, poucas tarefas importantes serão delegadas, pois já se esperará, por parte dele, falta de comprometimento ou dificuldades de relacionamento com colegas no correr da realização delas. Sem perceber e sem sequer conhecer a fundo o estudante, o professor acaba por reimprimir nele o rótulo de “aluno-problema”, conforme lhe fora dito pelos colegas docentes no início dos seus trabalhos com aquela turma.

Muitas vezes, tal expectativa se agrava ainda mais após o contato com a família do estudante. Temos enraizada em nós a crença de que se a família do aluno apresenta problemas (o que chamamos, na atualidade, de “família disfuncional”), ele está fadado a apresentar desadaptação escolar, só que isto não é necessariamente verdadeiro.

Fato é que, após perceber o estigma que existe sobre ele e vivenciar diversos episódios nos quais seus resultados positivos são negligenciados e os negativos são supervalorizados, o aluno acaba (ainda que inconscientemente) “vestindo a carapuça”. Por ser pouco estimulado, por não ter reconhecidas as suas potencialidades e ter superestimadas as suas dificuldades, ele acaba realmente se tornando um “aluno-problema”.

O fenômeno também pode ser observado em relação a aprendizagem. O professor que enuncia ao educando que este não tem aptidão para determinada atividade (“você não leva jeito”, “você não é capaz”, “você é burro!” – e, sim, esse tipo de expressão infelizmente é bem comum em sala de aula) pode incutir nele uma forte crença de incapacidade. O aluno, crente de que não é capaz de aprender ou de apresentar bom desempenho na atividade, pouco ou nada faz para mudar este quadro (afinal, o professor atestou que ele não é capaz!). Assim, desinveste no próprio desenvolvimento e aprendizagem. Como consequência, de fato, acaba por apresentar maus resultados – o que reforça ainda mais a sua crença incapacitante.

Mas como escapar disto?

Primeiramente, é importante que nós, como educadores, tomemos muito cuidado com as nossas ações e propostas pedagógicas. É necessário manter a autocrítica e a auto-observação do nosso comportamento, sobretudo em sala de aula, e romper com crenças pré-estabelecidas acerca da realidade de nossos alunos.

Não é porque o educando não apresentou bom comportamento e/ou desempenho na aula de outro professor que na nossa também há de ser assim. Trata-se de outra relação, forjada sobre contingências distintas.

Além disso, se realmente cremos que nosso aprendiz corrobora com o estigma que lhe impuseram, o manejo deve ser totalmente o contrário: não podemos nos conformar com o problema e com a dificuldade. Muito menos reforça-los. O bom educador é o que identifica, nos alunos, os seus maiores limites e os ajuda a superá-los. O aluno com dificuldades de comportamento deve ser o mais estimulado a trabalhar em grupo; o com baixo desempenho escolar, o mais frequentemente pontuado positivamente a cada pequena conquista. Vamos trabalhar a Profecia Autorrealizadora de maneira positiva!

Por fim, é fundamental que demos espaço e dediquemos tempo ao trabalho com as emoções dos nossos educandos. Procurar formas de fortalecer a autoestima e o autoconceito de nossos alunos é o grande diferencial de uma educação que desenvolve pessoas e constrói cidadãos conscientes das próprias potencialidades. É importante se empenhar na edificação de um relacionamento sadio e afetivo com nossos aprendizes: o poder de socialização que temos sobre eles é, deste modo, intensificado. E qualquer pequena intervenção ganha grande peso: faz a diferença nas suas trajetórias de vida.

Podemos transformar histórias com o poder de nossas palavras e ações. Na maioria das vezes, a única coisa que um “aluno-problema” precisa é de alguém, quanto mais um professor, que acredite nele quando ninguém mais acredita…

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Colunista:

Danilo Ciconi de Oliveira
CRP 06/123683

É psicólogo e especialista em psicopedagogia.
Atua na cidade de São João da Boa Vista – SP.
Contato:
Página: facebook.com/danilociconipsi
Blog: http://desenvolverpsi.blogspot.com.br/
E-mail: danilociconipsi@gmail.com

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O aprender diferente diferencia a aprendizagem


Por: Reinaldo Felipe Ferreira

Pedagogia, de acordo com Marques. R. (1999) é a ciência da educação das crianças, sendo a arte e a técnica de ensinar. É uma palavra de origem Grega, paidós quer dizer criança e agogé significa condução, ou seja, condução à crianças. A maneira de conduzir crianças, segundo este conceito,  é de investir de forma reflexiva, investigativa e, científica no processo educativo. Tendo sempre a imagem de autoridade que não pode ser delegada a outro que não seja o profissional de pedagogia, considerado apto a atuar neste campo de estudos, sendo somente ele capaz de conduzir um processo pedagógico.

De acordo com a Malcolm Knowlesm (1991 apud NOGUEIRA, 2004, p. 4), a Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender. É um conceito de educação voltada para o adulto, diferente da pedagogia que refere-se à educação de crianças. A Andragogia significa, portanto, ensino para adultos. É uma forma de aprendizado que busca compreender o adulto em todos os seus componentes humanos e consiste em olhar para o ser humano considerando-o um ser psicológico, biológico e social. A Andragogia busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme o conteúdo, impulsionando a assimilação. O adulto, após absorver e digerir as informações, aplicará os novos conhecimentos em sua vivência. Podemos dizer que isto é o aprender através do fazer. Isto é o tal aprender fazendo, ou aprender aprendendo.

No meu primeiro ano de faculdade de Psicologia, eu ouvi em sala de aula que “Aprender a ser Psicólogo deveria ser como o filho do padeiro aprendeu a fazer pão.” Ou seja, na prática, passado de um para o outro pela experiência vivida. É claro que a expressão usada em sala de aula foi uma forma romantizada de falar da profissão que havíamos escolhido para aprender, e é claro também, que eu considero importante que a Psicologia seja vista como Ciência e Profissão, e necessite estar inserida em um processo acadêmico, analítico terapêutico e de formação contínua. No entanto, tire como mensagem desta aula, que conhecimentos tácitos e explícitos devem ser estimulados de forma natural desde muito cedo. O fazer e a experiência de fazer são a base para a boa prática de qualquer atividade seja para fins profissionais ou não. Via de regra, não somos muito estimulados a aprender variadas formas de aprender. E somente a experiência de fazer pode dar a aquele que aprende a oportunidade de identificar-se com a atividade e através (ou a partir) desta identificação aferir energia, empenho, dedicação, força, ou seja, lá qual for a palavra que queiram usar como “investimento de força própria” a uma atividade.

Adultos são motivados a aprender à medida que percebem que suas necessidades e os seus interesses estão sendo satisfeitos. É usando este ponto em especial, que podemos explorar de forma mais assídua às experiências vividas, para que um processo de aprendizado seja além de prazeroso, satisfatório. Aliás, é justamente sendo prazerosa que qualquer atividade poderá ser também satisfatória.

A utilização de métodos e de técnicas na Andragogia assegura uma aprendizagem baseada na motivação própria, no estímulo à participação, na troca de experiências e em conteúdos adequados ao seu perfil, isto é, que podem ser usados à sua realidade e que propiciam satisfação e por consequência resultados mais expressivos. Enquanto a pedagogia exige a imagem autoritária de alguém que molda o aprendizado da criança. Na Andragogia o papel do instrutor é de ser um facilitador do processo de ensino e de aprendizagem, adotando métodos e abordagens mais apropriados ao perfil e às necessidades do grupo, propiciando a troca de experiências, demonstrando a importância prática dos conteúdos trabalhados e encorajando a participação e a reflexão.

Eu considero que o aprendizado com base na automotivação, no estímulo à participação, na troca de experiências, na vivência e em conteúdos adequados ao seu perfil (usados dentro da realidade e das condições do que aprende), propiciará maior satisfação e por consequência os resultados mais expressivos. O ser humano desde cedo demonstra necessidades de sentir-se grande, importante e integrado a um grupo. Se cedo nos sentirmos motivado durante a aprendizagem, cedo também podemos adquirir o gosto das experiências em aprender coisas novas.

A sociedade que forma pessoas apenas para obedecer a um sistema, torna-os experts no próprio sistema. E experts em um sistema sabem como ninguém a forjar o sistema. Vejamos: As crianças aprendem a colar sozinha, nem pais e nem professores a ensinam. A insistência imposta para obedecerem ao sistema contribui para que se aprenda também como burlá-lo. E o que burla, é no meio da rodinha de amiguinhos, considerado grande, importante e esperto. Colar muitos vezes insere a criança ao grupo dos espertos e importantes. E fazer parte de um grupo, de certa forma satisfaz aquele que aprendeu a colar colando (aprendeu a fazer fazendo).

Não fazer parte de um grupo é muitas vezes angustiante, e agir de forma diferente dos demais a sua volta também (não somos muito estimulados a pensar diferente). No sistema que somos submetidos (e nos submetemos) o diferente é ameaçador. Fazer diferente é como sair da caverna de Platão. Explico: Em O Mito da Caverna, Platão cria a alegoria de que haviam homens acorrentados em uma caverna desde a infância, e estes não podiam olhar para a entrada da caverna. Lá dentro havia uma fogueira e eles, de costas para a entrada viam apenas as paredes de fundo onde eram projetadas as sombras de tudo que acontecia às suas costas. Se um desses homens conseguisse soltar-se para contemplar à luz do dia e os objetos reais ao invés das sombras, ao regressar para contar o que via, era considerado louco ou mentiroso. Há outras formas de analisar este mito, mas consideraremos aqui a pedagógicas, que implicará olharmos para o processo de ensino aprendizagem. Quem teve dificuldades de colar na infância certamente foi taxado como louco, careta, medroso ou de algo que o desclassificasse diante do grupo de espertos coladores.

Voltemos ao tema. A pedagogia é um processo essencial na formação da criança, pois de fato ela necessita ser uma seguidora de referencias e autoridades, que a direcionem nos primeiros anos de sua formação. A Andragogia proporcionando a experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme os conteúdos vivenciados e impulsione a assimilação, também é um processo essencial para o adulto.

Em termos de realidade bem sabemos que o processo pedagógico nem sempre é eficiente e eficaz, e que a Andragogia não é de comum aplicação e fácil acesso (é um produto raro e por consequência, caro). Mas o que me intriga mais ainda é o que há entre uma aplicação e a outra. Ou seja, o processo de transição entre a fase da criança para a fase adulta.

Vivemos uma sociedade que incentiva termos seguidores, mas que pouco cria ferramentas de estímulos a novos conhecimentos. É mais fácil ter seguidores que obedecem do que admiradores que questionam. Eu particularmente, acredito que seja necessário pensarmos no contínuo processo de formação, entendendo as especificidades de cada fase do aprendizado. É necessário saber que a continuidade exige um processo diferente em fases diferentes da vida de uma pessoa. Assim aumentamos as chances de formarmos pessoas mais pensadoras do que simples seguidoras.

Nem pedagogia (só para crianças), nem Andragogia (só para adultos), uma sociedade realmente preocupada em formar pessoas felizes, pensantes, capazes de superar obstáculos e decepções, adotaria práticas com ambas (de forma eficiente e eficaz) e se preocuparia com o todo do desenvolvimento, dando ênfase aos processos de estímulos, automotivação e da autonomia do individuo no que tange o processo de aprendizagem.

Sugiro pensarmos em um novo nome, um novo conceito. Talvez chamemos de “Estimulogogia”. Ou troquemos o nome do tudo que já existe para “Obedeçagogia”.

Referências:

MARQUES, R. Modelos Pedagógicos Actuais. Lisboa: Plátano Editora, 1999.

NOGUEIRA, S.M. A Andragogia: que contribui para a prática educativa. Linhas: Revista do Programa de Mestrado em Educação e Cultura, Florianópolis, v. 5, n2, dez. 2004.

PLATÃO. A República. Tradução de Heloisa da Graça Burati. São Paulo: Editora Riedeel, (Coleção: Biblioteca Clássica), 2005. Acessado e disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/resenha-do-livro-vii-de-a-republica-de-platao/151229#ixzz51Ebgt3ok

Imagem capa: Pexels

Reinaldo Felipe Ferreira

Graduando em Psicologia pela Universidade Dom Bosco
Gestor Administrativo, Financeiro e de Departamento Pessoal
Com experiência em gestão e liderança
Experiência em desenvolvimento de equipes corporativas
Escreve para o próprio blog

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Transtornos da Aprendizagem


Por: Camila Martins Fernandes

No texto de hoje quero falar um pouco sobre os Transtornos da Aprendizagem.

Para começar quero dizer a diferença entre dificuldade e transtornos da aprendizagem. Muitas crianças em fase escolar podem apresentar algumas dificuldades para realizar algumas tarefas e isso pode acontecer devido a inúmeros motivos, como questões pedagógicas, problemas familiares, doenças crônicas, transtornos psiquiátricos entre outros. Podendo apresentar dificuldades em algumas matérias ou em algumas situações da vida, além de problemas psicológicos como a falta de motivação e baixa autoestima. Questões como hipotireoidismo também podem gerar dificuldades de aprendizagem. Em termos, podemos dizer que é sempre algo relacionado do interno para o externo, começa de dentro e vai para fora. A existência de uma dificuldade de aprendizagem não significa necessariamente que haja um transtorno.

Já os transtornos da aprendizagem são transtornos de neurodesenvolvimento, com origem biológica. Por ser de origem biológica inclui fatores genéticos e ambientais que podem influenciar na capacidade do indivíduo de processar algumas informações. Os transtornos da aprendizagem compreendem uma inabilidade específica como de leitura, escrita ou matemática em pessoas que apresentam resultados abaixo do esperado para o seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual.

Segundo o DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) basicamente existem três tipos de transtornos específicos: o transtorno da leitura, o transtorno da matemática e o transtorno da expressão escrita.

– Transtorno da leitura: é caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas.

– Transtorno da matemática: também conhecido como discalculia e não está relacionado a ausência de habilidades matemáticas como contagem, e sim a forma como a criança associa essas habilidades com o mundo à sua volta. A aquisição de conceitos matemáticos envolve raciocínio, e é justamente essa área que está afetada nesse Transtorno. A baixa capacidade de trabalhar com números e o conceito de matemática não tem origem por lesão ou causa orgânica.

– Transtornos da expressão escrita: refere-se a ortografia ou caligrafia. Nesse transtorno normalmente há dificuldade na capacidade de compor textos escritos, possíveis de serem vistos através de erros gramaticais e pontuação dentro de frases e má organização de parágrafos.

O tratamento dos transtornos da aprendizagem é um trabalho em conjunto. Além de acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e psicopedagogo, é essencial a colaboração de pais e educadores, pois só é possível ver evolução quando todos se juntam e se ajudam.

Referência:

– ROTTA, Newra Tellechea e colaboradores. Transtornos de Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. 2º Ed. Artmed.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Camila Martins Fernandes 
CRP: 06/109118

Psicóloga Clínica. Formada pela Universidade São Judas Tadeu. 
Aprimoramento Clínico na Abordagem Cognitiva pela Universidade São Judas Tadeu.
Psicopedagoga Clínica e Institucional. Formada pela Universidade Cidade de São Paulo. Atendimento no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo-SP 
Contatos: 
E-mail: contato@psicocamilafernandes.com 
Facebook.com/psicocamilafernandes

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Enem 2017: Qual carreira seguir e o papel da orientação vocacional


Por: Ana Rafaela Bispo da Costa 

Esse momento simboliza o ingresso na universidade para a formação em uma profissão e, em consequência, a busca por construir e consolidar uma carreira.

A maior parte das pessoas que participam são jovens em busca de iniciar seus estudos na universidade e responder àquela velha pergunta “o que você vai ser quando crescer?”. Alguns têm bem claro o que querem para sua vida e carreira, outros nem tanto. E realmente não é uma decisão muito simples escolher determinada profissão que te acompanhará grande parte de sua vida.

O caminho para uma profissão tem apenas um pequeno início com a prestação da prova do vestibular, após isso, é dada a largada para uma corrida que exige extremo empenho, dedicação e disciplina.

Dedicação que vai desde a parte financeira, até as noites mal dormidas para se preparar para uma prova. Mais do que ingressar na universidade é necessário muito empenho para se formar e sair com o diploma nas mãos.

Gostar do que está estudando e perceber identificação com sua graduação vai ajudar e dar muita força nesse processo que é tão trabalhoso.

É importante ressaltar que nesse processo de preparação para o exame a informática tem sido grande aliada, com sites que disponibilizam cursos preparatórios e até programas de TV online disponibilizados pelo MEC.

Mas a preparação não consiste apenas em estudar conteúdos das provas, e sim em saber qual o destino a seguir, qual curso seria o mais certo para você e qual profissão se enquadra melhor em suas habilidades.

Entretanto, quem ainda não tem certeza do que cursar o que deve fazer? Como tomar uma decisão tão acertada e rápida? Afinal, como citei anteriormente, o gasto empenhado aqui será enorme.

O ideal é conhecer muito sobre a profissão que deseja seguir, isso pode ser feito por meio de leituras, conhecendo profissionais da área, pesquisar como a profissão é vista e reconhecida no mercado, tanto financeiramente como em número de vagas oferecidas. É importante conversar com profissionais que já estejam na área e saber quais os pontos fortes da profissão como também as dificuldades enfrentadas no dia a dia.

Porém, antes de qualquer coisa, você precisa se conhecer, perceber quais as suas habilidades, suas facilidades, coisas com que se identifica. Por outro lado, conhecer seus pontos a serem melhorados e as coisas que não gosta de fazer. E passamos grande parte da vida tentando nos conhecer, experimentando novas situações e refletindo sobre elas.

Todavia aqui falo de um conhecimento de vocações, quais as principais habilidades você possui e aplica em seu dia a dia. Muitas vezes perceber isso não é tão simples quanto parece.

A orientação vocacional é de grande valia nesse momento, aliar todo o conhecimento anteriormente citado, sobre a nova carreira, com o conhecimento de si mesmo é uma ferramenta útil para tomar a decisão.

A orientação vocacional consiste em algumas entrevistas e encontros onde o profissional irá investigar e conhecer o futuro candidato. Também são aplicados testes para que habilidades em geral sejam detectadas e direcionadas a utilizar na carreira certa.

Aqui uso o termo vocação e não profissão pelo seguinte motivo: uma mesma pessoa pode ter algumas vocações que podem ser aplicadas em diversas áreas do conhecimento, não significa que ela tenha que fazer somente uma coisa. E quando uma profissão é escolhida baseada em suas vocações a possibilidade de dar certo é maior.

Algumas precauções também são importantes, verificar o histórico familiar, as profissões mais exercidas e ter cuidado para não iniciar uma carreira com base em habilidades alheias, por outro lado, se as habilidades detectadas forem condizentes com as habilidades já percebidas nas atividades familiares isso é ótimo! Pois ao sair da faculdade terá não só um diploma na mão como uma grande porta de inserção no mercado de trabalho.

O importante não é decidir rápido, mas decidir assertivamente, eliminar possibilidades de escolher baseado em fatores errados e iniciar um caminho bem trilhado, com base sólida e perspectiva de sucesso futuro.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Ana Rafaela Bispo da Costa
CRP: 06/95603

Psicóloga pela UMESP
Pós Graduada em Especialização em Informática em Saúde pela UNIFESP
trabalha no auxílio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e suas famílias, 
atuando na região do ABCD.
Contatos:
Whatsapp: (11) 982172197
ana_rafaela_24@hotmail.com

Facebook: Tempo de Aprender-se
Site: tempodeaprenderse.wixsite.com/tempodeaprenderse

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Professores: o dom de ensinar caminhos


Por: Ana Rafaela Bispo da Costa 

Dia daquele que ensina, que ama sem limites e que coloca todo empenho e dedicação no trabalho.

Aquele que, muitas vezes, paga do próprio bolso o material necessário para aprendizagem.

Para que? Diria o marido indignado com os gastos.

Para que meu aluno aprenda, porque sem esse recurso fica difícil, e se eu esperar ele não acompanha o ritmo da sala. Diria a professora.

Aquela que não mede esforços, nem dinheiro, nem tempo.

Elas entram na sala, encaram 10, 20, 30, 40 crianças… e pasmem.. ao mesmo tempo!!

Conseguem colocar ordem, ensinar, corrigir, e ainda perceber aquelas que tem dificuldade ou facilidade.

Terminam o horário na sala e levam uma pasta enorme de atividades para corrigir em casa.

Aliás, quem nunca viu uma professora com uma baita bolsa, com desenho de girafa, coruja ou joaninha? E eu queria entender porque sempre um animalzinho?

Particularidades de lado, deixam de estar com a família para preparar aulas e atividades.

Elas adoram atividades! E quanto mais difícil de criar, melhor.

Não estou de forma alguma excluindo os professores, mas é uma categoria em sua maioria formada por mulheres, mulheres que eu admiro muito.

Em meu trabalho como psicóloga, atuando com desenvolvimento infantil, passei a ter muito contato com elas e fico encantada com tamanha dedicação, empenho e amor.

São elas que muitas vezes identificam a necessidade da criança em ser acompanhada por um psicólogo, fono, neuro e por aí vai.

Orientam e ajudam a família sobre como, onde e quando procurar esses profissionais.

É como se já tivessem mesmo o dom de ensinar caminhos.

Espero continuar com essa parceria e que vocês sejam muito iluminadas nessa profissão tão importante. Parabéns pelo seu dia! Parabéns pelo empenho incondicional! Vocês, com certeza, fazem TODA a diferença.

Imagem capa: Stocksnap.io

Colunista:

Ana Rafaela Bispo da Costa
CRP: 06/95603

Psicóloga pela UMESP
Pós Graduada em Especialização em Informática em Saúde pela UNIFESP
trabalha no auxílio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e suas famílias, 
atuando na região do ABCD.
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(11) 982172197
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5 lições da Psicologia sobre Aprendizagem


Por: Iana Fomina

Conheça as principais características do processo de aquisição de novos saberes

Ao longo da vida somos constantemente bombardeados por informações. Nos primeiros anos, especialmente, a criança é estimulada a andar, a falar, depois a estudar e seu desenvolvimento não para por aí. Na Psicologia, no entanto, o termo aprendizagem ganha uma outra conotação. A seguir, separamos uma lista com 5 lições sobre o que é aprender na psicologia. Confira!

1 – Sempre é possível aprender

A mente humana é como uma máquina de absorção de conhecimentos, tanto que grande parte do aprendizado acontece sem nos darmos conta, inconscientemente. De uma forma geral, pode-se falar que as maneiras mais comuns de aprender são pela experiência e pelo raciocínio, ou pela união dos dois. Andar de bicicleta, por exemplo, exige muito mais da prática e da determinação do iniciante, apesar das inúmeras quedas. Logo, não é difícil perceber o que se deve fazer para adquirir habilidades motoras: praticar, pondo a mão na massa. Mas o que dizer sobre dificuldades de cognição? Não entender os conteúdos escolares, ou um novo conceito no trabalho, mostra uma dificuldade de contextualizar as informações. Isso pode provir da própria fase de desenvolvimento do cérebro – bebês de 3 meses, por exemplo, não conseguem ler; ou, nos casos mais graves, a razão pode ser um déficit de atenção, dislexia ou deformidade cerebral. Esses impedimentos precisam ser identificados para que a metodologia correta possa ser aplicada, adaptando o ensino ao aluno a partir de seus interesses. O livro “Na vida 10 na escola Zero”, datado de 1996, traz situações e mostra como temas variados podem ser aprendidos sobre diversas óticas. Uma coisa é certa, sempre é possível aumentar o grau de absorção de conhecimento através da insistência e novas alternativas metodológicas.

– À procura de professores de química? Visite a Preply.com – 

2 – A aprendizagem inclui maus hábitos

A psicologia do comportamento observa como a socialização pode influenciar na aprendizagem do indivíduo. Hábitos agressivos como xingar, julgar ou hostilidade contra si mesmo e contra as pessoas ao redor, costumam ter uma raiz no convívio. Mesmo criança que aprendem desde cedo o valor do amor e do respeito aos limites, podem testar seus pais com a rebeldia. É nessa fase que eles tentam mostrar que são indivíduos independentes. A melhor maneira de mudar os maus hábitos de um filho é dando o exemplo.

3 – Aprender é uma faculdade natural

A maioria dos psicólogos distinguem a aprendizagem em dois tipos diferentes: a aprendizagem implícita e a aprendizagem explícita. A primeira diz respeito ao aprendizado inconsciente e a segunda ao consciente, foi ensinado. A verdade é que a consciência não consegue apreender a realidade como um todo. Por isso, muito do que sabemos foi assimilado imperceptivelmente. Aqui falamos, entre outras coisas, da intuição. Algumas vezes pode parecer que não há uma razão para uma atitude ou conceito, mas a intuição formada por boas ou más experiências, às vezes reforçadas por memórias, servem de base de conhecimento para a tomada de uma escolha.

4 – Definindo aprendizagem

O ato de aprender pode ser definido como a capacidade tanto de absorver novos conhecimentos, habilidades, valores, crenças, preferências, comportamentos… como também, de modificá-los ou reforça-los. Os seres humanos se destacam nesse aspecto, mostrando uma eficiência única de fazer conexões cerebrais, retendo mais informações. Contudo, vale lembrar que outros animais e vegetais também são extremamente inteligentes e aptos a aprender e se adaptar. Além disso, graças aos avanços tecnológicos até as máquinas e robôs começam a mostrar um grande potencial de cognição.

5 – Manifestações da aprendizagem

Por fim, vale ressaltar que muitas vezes o conteúdo aprendido constrói-se paulatinamente, tanto que nem sempre o aprendiz percebe que já aprendeu. É o caso, dos códigos sociais por exemplo. Às vezes é preciso sair de seu país para perceber o quanto sua cultura havia lhe ensinado ao longo dos anos. Ou ir às compras, para ver que as aulas de matemática foram eficientes. Logo, nunca desista de seus objetivos, dedique-se e construa o aprendizado.

Para mais informações sugerimos a leitura das seguintes literaturas:
Carraher, D.; Nunes, T. & Schliemann, A. L. (1996). Na Vida Dez , Na Escola Zero. 16ª ed. São Paulo: Ed. Cortez; assim como Hill, W. F. (1981). Aprendizagem: Uma resenha das interpretações psicológicas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara dois. Ambas as fontes serviram de base para a elaboração do nosso texto.

Autora: Iana Fomina

Imagem capa: Pinterest

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[Estudo] Aprender a ler tardiamente pode alterar partes do cérebro que não são associadas à linguagem


Por: Jacqueline Gonçalo

A leitura é vista pelas pessoas como um ato quase que automático, mas nosso cérebro não é naturalmente acostumado a essa atividade, para executá-la ele faz uma verdadeira revolução em nossas sinapses para que assim possamos compreender o que as palavras querem dizer. Isso deve-se ao fato de que, se considerarmos a escala de evolução humana, a escrita é algo recente, que surgiu cerca de 5 mil anos atrás. Se pararmos para recordar o nosso próprio processo de aprendizagem, podemos dizer que passamos por alguma dificuldade, por isso cada vez mais a psicologia e a neurociência têm trabalhado para desvendar o que acontece durante a aprendizagem da leitura.

O matemático e neurocientista francês, Stanislas Dehaene, afirma em seu livro “Os neurônios da leitura” que todas as crianças, seja qual for a língua, encontram dificuldades durante o processo de aprendizagem. E ainda dá uma estimativa de que cerca de 10% das pessoas quando adultas, não conseguem dominar a compreensão de texto.

Já no Brasil o índice de analfabetismo ainda é grande, são 12,9 milhões de analfabetos, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em novembro de 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2005, 11,1% das pessoas com mais de 15 anos não sabiam ler e escrever, essa proporção caiu em dez anos para 8%, segundo dados do IBGE.

O processo de alfabetização é primordial para a inserção na sociedade, e uma pesquisa recente feita por pesquisadores do Instituto Max Planck de Cognição Humana e Ciências Cerebrais da Alemanha, mostra que quando um adulto aprende a ler, são ativadas regiões do cérebro que não estão ligadas à leitura e escrita.

O tálamo e o tronco cerebral são afetados quando o adulto passa pelo aprendizado. Essas regiões são responsáveis por coordenar informações dos sentidos e movimentos do corpo. Para que o cérebro consiga processar a leitura, regiões do sistema visual interagem com o sistema linguístico, há um atrelamento de informações motoras e sensoriais, que incluem a concentração e atenção.

Os pesquisadores ainda constataram que depois da alfabetização ocorreram mudanças na atividade do córtex, região cerebral encarregada pela aprendizagem e memória. O tálamo e o tronco encefálico acabam auxiliando o córtex a selecionar informações visuais relevantes para a leitura, antes mesmo do cérebro percebe-las. Todo esse estudo explica um pouco sobre a importância da alfabetização, mesmo depois de adultos.

“É difícil para nós aprendermos um novo idioma, mas aprender a ler na nossa língua natal é muito mais fácil. Essa é uma prova de que o cérebro adulto pode ser incrivelmente flexível”, afirmou Falk Huettig, líder do estudo, ao jornal Science Advances.

Resumindo, o estudo revelou a ligação entre visão e concentração, explicando o porquê leitores ávidos conseguem navegar e filtrar informações mais rapidamente, além de mostrar um possível tratamento para a dislexia, que muitos pesquisadores associam ao mal funcionamento do tálamo. Mas para isso é necessário aprofundar os estudos e os testes devem ser aplicados em um número maior de pessoas.

Referências:

DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.

Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por sexo – Brasil – 2007/2015. (Disponível em: http://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-das-pessoas-de-15-anos-ou-mais.html)

IBGE – http://www.ibge.gov.br/home/

Mas Planck Institute for Psycholinguistics – http://www.mpi.nl/

Learning to read alters cortico-subcortical cross-talk in the visual system of illiterates (Disponível em: http://advances.sciencemag.org/content/3/5/e1602612)

Imagem capa: Pinterest

Jacqueline Gonçalo

Bacharel em Comunicação Social Hab. em Jornalismo
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Contato:
jacquelineap.goncalo@gmail.com

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