Luto: A grande certeza (e o grande drama) da natureza humana é a própria finitude


Por: Danilo Ciconi de Oliveira

A morte é um fenômeno universal, inevitável e irreversível. Estamos todos a ela sujeitos. A filosofia, a religião e as artes procuram sentido e finalidade para aqueles que partem. Poucos falam sobre aqueles que ficam.

É certo que, apesar da constante certeza da morte, nunca estamos preparados para a despedida definitiva daqueles que amamos. Sobretudo, se esta se deu de forma repentina. Não dá tempo pra “cair à ficha”. Se em situação de desastre, o impacto emocional é ainda maior.

Tristeza, ansiedade, culpa, raiva… Isolamento social… A reação varia de pessoa para pessoa, mas o processo de luto é sempre certo. Os “sintomas” do luto se equiparam, por vezes, aos da depressão. Mas o luto é absolutamente normal e esperado!

Não sentir e demonstrar nada, pelo contrário, é indicador de que algo pode estar errado. É o que chamamos de “luto inibido”. Algumas pessoas preenchem o tempo com inúmeras atividades pra não se permitir vivenciar o momento da perda, e aí não digerem o luto.

A Psicologia afirma que é absolutamente comum que o luto se arraste ao longo de dias, meses, e, inclusive, alguns anos (diz-se que até 2 anos, mas esse número é apenas uma inferência estatística). A falta da pessoa amada fica ainda mais em evidência nas ocasiões e datas festivas.

Vamos conversar sobre algumas ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO que podem nos ajudar a lidar com a dor da separação…

Como lidar com o luto?

(1) Se permita digerir a emoção, mas faça isso no seu tempo e ritmo

Nós precisamos digerir o luto e, concomitantemente, seguir a vida. Reestruturar a rotina é um passo importante. Mas temos que determinar qual é o ritmo certo pra isso, ou o processo pode ser mais doloroso. Algumas pessoas mudam de endereço após a perda de um ente querido, outras, a seu turno, não têm coragem para desfazer-se de qualquer objeto que tenha pertencido ao falecido. Em linhas gerais: não fazer nada é tão pouco produtivo para a digestão da emoção quanto dar passos bruscos e repentinos.

É necessário discernir o nosso ritmo pessoal e respeitá-lo.

Há dias em que não vai ser saudável sair, encontrar amigos e familiares. Em outros, é exatamente isso do que iremos precisar. De pouquinho em pouquinho, conquanto formos dando passos, vamos aprendendo a recolocar a vida nos trilhos.

Ao oferecer o nosso apoio e conforto, é importante estarmos perto da pessoa enlutada, mas, também nós, respeitando o momento e os sentimentos presentes que ela estiver apresentando. Forçar alguém a mudar não é uma boa forma de promover mudanças positivas.

(2) Recorra à sua rede de apoio social

Nos momentos de luto é bom estarmos próximos das pessoas as quais confiamos e que nos transmitem segurança.

Procurar grupos e redes de apoio – instituições religiosas, centros comunitários, esportes, etc. – também ajuda a lidar com o vazio deixado pela perda da pessoa amada. Não significa substituir a presença da pessoa por outra pessoa, coisa ou atividade. Longe disso! Significa, sim, pensarmos em meios de preencher um vazio existencial que a morte do ente amado deixou em nós. Significa buscar novo sentido para a nossa própria vida, perceber que somos, ainda, apesar da dor, capazes de dar passos, de realizar atividades positivas e obter sucesso pessoal.

(3) Realize pequenos rituais de despedida

Uma forma positiva de lidar com o luto é a partir de pequenos rituais. Ações concretas nos ajudam a projetar e a manejar nossas vivências interiores, inclusive a tristeza e a dor.

Escrever uma carta ou bilhete à pessoa falecida ou, dentro de um contexto religioso, a Deus, agradecendo pelos bons momentos compartilhados ou pelas qualidades da pessoa, declarando saudades e amor… São ações simples que nos ajudam a entender o que estamos sentindo, como estamos vivendo desde a despedida. Ao transformar a emoção em palavra, temos mais facilidade em trabalhar com ela, em entendê-la e ressignificá-la.

A meditação e a oração, para quem as pratica, também são formas rituais de entrarmos em contato com nossas emoções e de darmos novo rumo e significado a elas. Permitir-se parar e buscar a transcendência, sair da concretude da vida, ajuda a superar a dor emocional da perda.

Transformar a dor em boas ações também nos ajuda a superar a perda. Quem perdeu um ente querido em um acidente de trânsito ou vítima do alcoolismo, por exemplo, pode engajar-se em campanhas de conscientização e prevenção sobre direção responsável ou contra o uso abusivo de álcool.

(4) Se perdoe

Sentimento comumente experimentado frente à situação da morte é o sentimento de culpa. Geralmente, as pessoas dão força à ideia de que poderiam ter feito alguma coisa para evitar o falecimento da pessoa amada. Ou, ainda, sofrem porque a pessoa se foi, sem que fossem resolvidas desavenças, brigas e mágoas existentes entre elas. A culpa torna o luto mais pesado, nos incapacita de dar passos. Se esforçar em perdoar a si mesmo é, portanto, essencial para que a vida prossiga.

O perdão a si mesmo vem, também, a partir de pequenos rituais, da meditação, da oração. Buscar evidências de que não somos responsáveis pela perda ou de que a mágoa existente não tinha, de fato, tanta importância, também são formas de se ajudar.

Outra estratégia é pedir e oferecer perdão às pessoas mais próximas ao ente falecido.

(5) Busque ajuda especializada

Em situações mais graves, quando o luto se torna patológico e incapacitante, é essencial procurar ajuda especializada. Não podemos negligenciar a força das emoções que vivenciamos. O psicólogo pode nos auxiliar a lidar com elas e a encontrar as estratégias mais adequadas para lidarmos com a perda e para recomeçar a vida.

(6) Socialmente, precisamos definir estratégias para uma “Educação para a Morte”

Se a morte é um fato certo e natural, não faz sentido (e nem bem) ser um assunto tabu. Como vamos saber lidar com a morte, se ao longo de toda a vida fugimos dos assuntos relacionados a ela?

Campanhas sociais e medidas educativas precisam ser elaboradas para educar as pessoas, desde a idade escolar, para a vivência da morte e do luto. É uma ação necessária para a prevenção de transtornos de saúde emocional.

Individualmente, podemos recorrer às artes (cinema, música, literatura…) para, ao longo do nosso desenvolvimento, irmos entrando em contato com as nossas próprias impressões acerca da morte e do morrer.

Pensar a própria finitude também é atitude necessária: saber-nos limitados nos impulsiona a bem viver cada dia, a fazermos escolhas mais acertadas, a vivermos de forma mais responsável, a valorizar o “hoje”.

Afinal, o “hoje” é tudo o que temos.

Imagem: Pinterest

Colunista:

Danilo Ciconi de Oliveira
CRP 06/123683

Psicólogo (USP), graduando em Pedagogia – Licenciatura (Claretiano) e especialista em Psicopedagogia (Uninter).
Sua trajetória profissional se destaca especialmente pela atuação junto a adolescentes e jovens. Como educador, dedicou-se a intervenções socioeducativas com adolescentes judicializados e, atualmente, à formação/treinamento de jovens em contextos de aprendizagem corporativa, assim como à docência no ensino superior.
Sua formação complementar é marcada por atividades formativas relativas a programas de prevenção e intervenção psicossocial na juventude e a questões atinentes ao processo ensino-aprendizagem, particularmente no tocante às novas tecnologias de ensino e à contextos organizacionais de educação. 
Atua na cidade de São João da Boa Vista – SP.
Contato:
Blog: http://desenvolverpsi.blogspot.com.br/.

E-mail: danilociconipsi@gmail.com.
Linked in: https://br.linkedin.com/in/danilo-ciconi-de-oliveira-256090a4.

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O luto faz parte da vida… Então Viva-o


Por: Ana Rafaela Bispo da Costa

Diante de um tempo em que vivemos tragédias coletivas e mortes inesperadas, de pessoas jovens, com plena saúde física e mental, somos empurrados a pensar sobre o luto.

Em primeiro lugar sobre a inversão da ordem natural das coisas. Outro dia, diante de uma morte prematura eu dizia que as pessoas só deveriam morrer a partir dos 80 anos, que não eram coerentes esses acontecimentos, e uma pessoa me disse que se fosse assim, se todos soubessem que não iriam morrer, talvez as pessoas não vivessem da maneira correta e não aproveitassem o melhor que a vida proporciona.

Então percebi que na verdade a morte vem para que pensemos a vida, vem para nos chacoalhar e acordar para o que não percebemos que é importante.

Mais ainda, a morte só existe onde há vida, onde há vínculo. Só é sentida a perda quando é de alguém próximo com quem há vínculo construído, e, claro, a morte de desconhecidos famosos ou não, quando tem identificação, a pessoa se coloca no lugar do outro e da família.

O luto é vivenciado o tempo todo cada vez que um vínculo é quebrado, mesmo que não haja a morte física. Quando há uma separação, quando há perda de emprego, perda de amizades, sempre que se perde algo a que se tem apego.

A forma como o apego é vivido desde bebê interfere na forma como são feitos a quebra de vínculos e a forma como se vivencia o luto. Quando há apego seguro em relação às pessoas e relacionamentos é possível vivenciar o luto mais tranquilamente e com maturidade.

Porém, se ao longo da vida desenvolveu-se o apego inseguro, aquele em que o tempo todo você acredita que as pessoas podem te deixar, aquele que você evita se apegar para não perder, as chances de um luto mais sofrido são enormes.

Diante disso podemos dizer que cada pessoa vive o luto de forma diferente?

Exatamente!!

Em linhas gerais, o luto é um processo de sofrimento diante de perdas que acomete todas as pessoas. E é essencial aceitá-lo e vivê-lo. Passar por essa fase traz maturidade, crescimento e valorização da vida.

Por isso, aqui trago uma descrição de Worden (1998) sobre alguns sintomas trazidos pelo luto:

  1. Sentimentos: Tristeza, raiva, culpa e auto-recriminação, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, emancipação, alívio e estarrecimento.
  2. Sensações Físicas: vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, falta de ar e falta de energia.
  3. Cognição: descrença, confusão, preocupação, sensação de presença e alucinações.
  4. Comportamentos: distúrbios do sono e apetite, ficar aéreo e esquecer coisas, isolamento social, sonhos com a pessoa falecida, hiperatividade, choro e foco em objetos e lugares que lembram a pessoa.

Se você se identificou algum desses sintomas e está recentemente acometido por uma perda não se desespere. Esses sintomas costumam durar em média um ano. Variando caso a caso a depender da intensidade do vínculo.

Mas se você perceber que depois desse tempo os sintomas não passam, procure ajuda, aliás, mesmo nesse período a ajuda e espaço para elaboração do luto são essenciais.

E, acima de tudo, entenda esse processo como natural e viva-o porque ele faz parte da vida.

Referências:

Luto Antecipatório as Experiências Pessoais, Familiares e Sociais diante de uma Morte Anunciada,
de José Paulo da Fonseca – Editora Livro Pleno 2004.

Imagem: Pinterest

Colunista:

Ana Rafaela Bispo da Costa
CRP: 06/95603

Psicóloga pela UMESP
Pós Graduada em Especialização em Informática em Saúde pela UNIFESP
trabalha no auxílio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e suas famílias,
atuando na região do ABCD
Contatos:
(11) 982172197
ana_rafaela_24@hotmail.com

anacosta.psicosaude@hotmail.com
Facebook: Infância e Adolescência e os seus desafios na Família

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Psicólogo Voluntário fala sobre trabalho em Chapecó após tragédia


Um time de psicólogos trabalha no atendimento de familiares de jogadores, comissão técnica e diretores da Chapecoense mortos em acidente aéreo na Colômbia, na última terça-feira (29). Na linha de frente está André Pedrosa, que traz à tragédia em Santa Catarina a experiência de ter atuado com a comunidade do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, durante o processo de pacificação da região.

Funcionário da Prefeitura de Chapecó e professor universitário na cidade, André Pedrosa compõe a equipe voluntária de psicólogos. Uma parte do time tem ficado de plantão na Arena Condá (Estádio Municipal em Chapecó), e outra procura atender familiares das vítimas em suas residências.

“Os familiares que estão aqui, e que gostariam de ser atendidos, estão sendo atendidos. Tem vários psicólogos aqui, profissionais de saúde, médicos da própria Chapecoense, psiquiatras. É bastante gente”, declarou o psicólogo de Belo Horizonte, radicado em Chapecó.

Pedrosa afirma que o gigantismo da tragédia lembra o seu trabalho no Complexo do Alemão, mas ressalta a diferença de natureza entre as duas situações.

“Gostaria de dizer que é a primeira experiência (de trabalho em situações delicadas), mas estive em 2011 no Complexo do Alemão, recém-pacificada. Muitas pessoas faleceram ali, de uma forma diferente, claro. E agora estamos aqui”, relatou o psicólogo.

“No Complexo do Alemão, tinha uma série de problemas de tráfico, de ordem de políticas públicas, questões sociais. Aqui foi uma coisa repentina, que ninguém esperava. No Alemão, mais cedo ou mais tarde iria acontecer”, acrescentou.

Uma particularidade na atuação dos psicólogos que atuam junto a famílias das vítimas do acidente aéreo na Colômbia é o contato com crianças que perderam pais. Segundo Pedrosa, este é um dos pontos mais delicados do trabalho das últimas horas em Chapecó.

“Atendimento de criança é extremamente delicado, complexo e necessário”, comentou o psicólogo.

“Estou muito preocupado com isso. Luto é uma coisa que dói, mas é necessário. Evitar o luto traz problemas psíquicos no futuro. Então é uma cidade que vai ter que elaborar o luto. Eu encontrei um pai que me perguntou: ‘como vou explicar para o meu filho que o (goleiro) Danilo morreu? Ele tinha tudo do Danilo em casa'”, relatou.

A delegação da Chapecoense sofreu um acidente aéreo na madrugada de terça-feira, quando chegava a Medellín, palco do jogo de ida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional. Segundo as autoridades locais, 71 pessoas morreram na tragédia, entre jogadores, comissão técnica, diretoria e jornalistas.

A cidade de Chapecó está mobilizada desde o acidente, à espera de notícias e também do velório coletivo, que acontecerá no gramado da Arena Condá, a casa do Chapecoense – em data a ser confirmada.

Fonte e imagem: Uol Esporte

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Vídeo mostra importância de falar com as crianças sobre a morte


Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro

Este vídeo do canal “De Criança para Criança” mostra de uma forma bem simples a importância de conversarmos com as crianças sobre a morte, assunto muitas vezes evitado ou “floreado” por se acreditar que os pequenos não tem condições de compreender.

É claro que o ideal é sempre utilizar uma linguagem clara, compreensível e didática ao explicar para a criança sobre a morte ou o processo de luto e muitas vezes o lúdico se faz sim necessário, pois devemos levar em conta a delicadeza do assunto, principalmente se ela perdeu um ente próximo ou mesmo um bichinho de estimação. Porém, é muito importante que as dúvidas dos pequenos sejam esclarecidas e que se fale com sinceridade para que eles possam aprender a lidar desde cedo com este momento e que evitem sofrimentos maiores. Mentir ou evitar responder a certas questões só trará mais incertezas e angústias às crianças.

“Quando eles [adultos] eram crianças os outros adultos não falaram da morte para eles… Criança só não entende o que não se explica. Mas os adultos só entendem o que eles conseguem explicar. Quando eles não entendem uma coisa, acham que ninguém mais pode entender” ressalta um trecho da animação.

Assista abaixo ao vídeo intitulado “O casulo e a borboleta”:

Fonte: Canal ‘De Criança para Criança’ 


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Sobre a autora:

Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556

 



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Luto: quando buscar apoio psicológico?


Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro

Algumas teorias sugerem que haja um tempo “aceitável” para que uma pessoa viva o luto e que após este período seria necessário buscar ajuda psicológica pois havia a possibilidade de ocorrer depressão ou outros transtornos. Entretanto, o que os profissionais de saúde mental tem começado a levar em consideração é que este tempo é relativo e pode variar muito de uma pessoa para outra e isso depende de vários fatores.

É preciso, antes de tudo, compreender que é perfeitamente normal que uma pessoa fique triste com a perda de um ente querido e que é necessário viver esta fase de luto e não querer remediá-la a qualquer custo, ignorando a importância desta elaboração. A tristeza também é necessária em nossa vida e não deve ser ignorada. Há uma confusão que geralmente ocorre quando convivemos com uma pessoa em fase de luto: normalmente associamos esse processo com a depressão. A psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves, especialista em Luto, em uma entrevista ao portal “Vamos falar sobre o luto”, reforça: ‘As pessoas dizem sem cerimônia que uma pessoa perdeu o filho ou o marido e “ficou em depressão”. Ela pode estar muito triste, mas depressão é outra história.’

E, de fato, precisamos entender que há diferença entre “luto” e “depressão”. A depressão é um quadro patológico, crônico. É uma tristeza profunda que ocorre mesmo sem motivo aparente ou que possa ser explicado. Além disso, a depressão é uma doença incapacitante, ou seja, o indivíduo perde o prazer em atividades que antes gostava e não consegue mais desempenhar as funções que sempre fizeram parte de seu cotidiano (Leia mais sobre Depressão neste link).

O Luto não é uma doença, mas um processo de elaboração que pode até mesmo durar anos, pois essa vivência, como já dito, pode variar de pessoa para pessoa.

Como ajudar alguém a passar pelo Luto de forma menos dolorosa?

Apesar de ser uma fase necessária de ser vivida, é possível que os familiares e outras pessoas próximas ajudem o enlutado a passar melhor por este momento. Novamente cito as palavras da psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves:Como as pessoas não sabem o que dizer sobre a morte, acreditam que se não falarem, vão evitar que o enlutado sofra. As pessoas sempre querem falar, a dificuldade está em serem ouvidas. E falar é o que vai ajudá-las a elaborar e a sair do luto mais rápido. Toda a pessoa enlutada precisa falar de quem morreu. Logo que a pessoa morre, o enlutado conta várias vezes a mesma história, geralmente do último dia em que estiveram juntos até o momento em que recebeu a notícia da morte. Quantas vezes você a encontrar, ela vai contar essa história. Esse é o primeiro fator de afastamento dos amigos. Eles pensam: eu vou lá e ele vai repetir isso. Ou vão dizer a ele ou a ela que já contaram isso. Mas é exatamente esse contar, repetidas, inúmeras vezes, que as leva à compreensão. É um recurso muito positivo, muito saudável. O judeus fazem isso: dentro dos rituais de luto da religião judaica a pessoa enlutada nunca fica sozinha, tem sempre alguém do lado dela em silêncio, justamente para ouvir a sua dor. É importante pensar em como não aguentamos ouvir a dor do outro e como não nos preparamos ou preparamos nossos filhos para essa atitude diante do sofrimento alheio.’

Quando é a hora de buscar ajuda profissional?

Pode ser complicado para a pessoa que vive o luto e mesmo para os que estão próximos a ela entenderem a partir de que momento é necessário buscar apoio psicológico. Isso porque, diferente do consenso de antigamente, não podemos estabelecer um tempo “saudável” para que a perda seja elaborada e o luto termine. O que precisamos observar é a intensidade e os efeitos que aquele luto geram na vida da pessoa. O momento de se preocupar é quando o luto coloca a vida ou a saúde da pessoa em risco, ou seja, quando há indícios do desenvolvimento de doenças, transtornos, quando há ideação suicida.

Por isso é importante que a pessoa receba apoio e atenção dos mais próximos, mesmo quando isso parece também uma tarefa difícil para estes.

Mas é claro que buscar uma orientação psicológica sobre como lidar com este momento difícil é válida a qualquer momento, tanto para o enlutado, quanto para quem o apoia.


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Sobre a autora:

Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556

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