Faça uma pausa


Por: Alex Valério

Leve.

É como eu gostaria de estar neste momento. Livre de tantos pensamentos, de tantos medos, dos receios. Vamos tentar um exercício? Tanto você, leitor, quanto eu, escritor. Aceita?

Se você tiver condições de colocar uma música que te acalme, coloque. Se não der, sem problemas, seguimos assim. Não tenha pressa em concluir a leitura. Vamos, devagar, a partir, de agora, ok? As vírgulas, neste momento, são para auxiliá-lo no ritmo, do texto. Para que você, readapte e possa desacelerar, reinventar-se neste momento.

Inspire, pelo nariz, profunda e calmamente. Segure o ar por três segundos. Agora, solte-o pela boca, lentamente. Faça isso duas ou três vezes. Sinta o ar saindo dos seus pulmões, ouça a música, ou então, aproveite o silêncio. Se estiver em um local em que há muito barulho, selecione um som neste barulhão e tente focar-se apenas nele. Feche os olhos por alguns instantes e não pense em nada. Permita-se um minuto de ócio completo, de improdutividade. Desligue-se!

Pronto. Vamos voltando gradativamente. Pouco a pouco, volte a perceber as cores, os sons, as letras. Sinta seu pensamento a todo vapor novamente. Tente trazer a tona uma lembrança bem feliz. Vamos, pense. Se tivesse que pensar em uma lembrança feliz, seja recente ou antiga. Qual seria? Como era lá? É uma lembrança grandiosa ou algo rotineiro? Você poderia repeti-la novamente? O que há de diferente entre quem você era, na época da lembrança, para quem você é neste minuto?

O texto dessa semana não pretende refletir a respeito da vida, das questões sociais, das nossas dificuldades comportamentais. Hoje fica o desejo de leveza e a torcida por uma semana que tenha, em algum grau, um pouco de tranquilidade.

Aliás, quero que leve algo deste texto para a próxima semana. Minha sugestão é que você carregue as vírgulas. Isso mesmo, carregue um pouco do excesso de vírgulas, durante seus dias. Imagino que seu cotidiano, assim como o meu, seja uma espécie de corrida, daquelas em que a linha de chegada não chega nunca. Na correria do dia a dia, ignoramos os nossos limites, aliás, temos sido ensinados que superá-los é a necessidade e o que nos diferencia e faz melhor. Melhor para quem?

A vida está desgovernada. Perdeu as vírgulas, o ponto e vírgula. Ponto final é raridade para muitos, às vezes tentamos abraçar o mundo e, de tanto carregar, o peso acaba pesando demais e tudo vai ficando incompleto, mal feito. E, com isso, nós ficamos como? Muitas vezes nos sentimos insatisfeitos por não conseguir fazer tudo com a perfeição que gostaríamos. Acabamos tristes e cansados. Um cansaço que ultrapassa nossa condição física e nos acomete de um jeito que nem conseguimos descrever. Dê um tempo, use mais vírgulas e, se necessário, coloque alguns pontos finais naquilo que precisa findar.

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Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela
Universidade de São Paulo.
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram
pesquisa básica em análise do comportamento
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso),
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos.
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
Facebook.com/ominutoterapia

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Vamos falar sobre pais e filhos? Uma reflexão a partir da realidade atual


Por: Alex Valério

Não é de hoje que temos visto e ouvido sobre a necessidade de melhorar as ações destinadas a educação das crianças e adolescentes. No dia a dia do consultório, tem sido frequente encontrarmos pais assustados – às vezes desesperados – com o comportamento dos filhos. Muitos acabam recorrendo ao apoio de um profissional, com intuito de reduzir os problemas de comportamento.

O intuito deste texto não é criticar os pais e, menos ainda, culpar os filhos. A ideia é refletir a respeito de alguns aspectos do nosso modo de agir. Ao longo do texto utilizarei algumas vezes a expressão “pais”, por força do hábito, mas entendam que estou me referindo aos cuidadores – aqueles que são responsáveis pela educação da criança. Aos leitores que não possuem filhos, sempre há um “pequeno” por perto, seja de um amigo, familiar ou conhecido. E, é claro, um dia poderão ter.

Sabendo que as crianças de hoje, serão os adultos de amanhã, comportamentos inadequados que ocorrem na infância, podem se perpetuar, continuar ocorrendo durante a adolescência e se estender para vida adulta.

Cada vez mais nossa sociedade tem atribuído aos pais algumas responsabilidades quanto à educação de seus filhos, principalmente no que se refere aos seus sucessos e insucessos. E, convenhamos, ser pai no século 21 não é uma das atividades mais fáceis, concordam?! Já escutei muitos pais dizerem “Na minha época…” Sabemos que tudo era bastante diferente há alguns anos atrás, mas entendam: os tempos são outros. Tratar os jovens de hoje, da maneira como fomos tratados, não é garantia de um bom resultado.

Vou ilustrar para vocês, através de um exemplo, algumas das mudanças que tivemos. Atualmente é muito frequente, na correria do dia a dia, ver pais que deixam os filhos na frente da televisão ou do tablet, assistindo a desenhos, como a Galinha Pintadinha ou o Patati e Patatá e tantos outros. Muitos já me contaram que fazem isso para conseguir realizar alguma atividade – como o jantar, por exemplo – e evitar que a criança acabe atrapalhando. É normal, muitos pais acabam precisando contar com este recurso e não estamos aqui para condenar essa postura. Mas vamos concordar que antigamente nossos pais não entregavam um iPad nas nossas mãos para conseguir fazer o que precisavam. Viram? Isso prova meu argumento anterior: os tempos são outros.

O núcleo familiar é fundamental na educação de qualquer pessoa. Durante os primeiros anos de vida, todos nós somos dependentes dos nossos cuidadores, inclusive, são eles os responsáveis pela promoção e aquisição dos valores morais e sociais. Nesse sentido, é através da família que aprendemos os nossos primeiros comportamentos. Logo, essas relações iniciais irão interferir em nossa maneira de viver e de ver o mundo, durante a nossa vida futura. A família é o lugar adequado e privilegiado para promoção da educação infantil¹.

Outra fala que ouço com frequência dos pais, é que eles não entendem como os filhos podem se comportar de algumas maneiras, já que não ensinam isso em casa. Alguns ficam indignados, culpam os colegas de escola ou os pais dos coleguinhas. É claro que há diversos fatores que influenciam na vida das crianças e não só o ambiente familiar. A escola, a televisão, os amigos e mais uma infinidade de exemplos temos para citar. Ainda assim, apesar de outras influências, é na primeira infância, com os pais, que os valores morais e padrões de conduta começam a se formar.

Alguns pais, caso estejam lendo esse texto, podem até balançar a cabeça, discordando que isso ocorra na casa de vocês. Mas, pensem comigo, sabe quando não estamos dispostos a atender aquela ligação naquele horário da noite? “Filho, diz que o papai não está”. Já ouvi relatos de algumas mães que ficaram com pena do castigo do filho e acabaram soltando um “Não deixa seu pai saber que deixei você ir”. Há, também, algumas histórias que nossos filhos contam sobre os coleguinhas, que nos deixam de “cabelo em pé”, não é verdade? Por vezes, até comentamos algo do tipo: “A mãe da Mariazinha é uma relaxada, você precisa aprender que aquilo é uma vergonha, onde já se viu largar os filhos assim?”

Antes de prosseguir, é claro que imagino que nenhum pai faça isso de propósito, acontece sem intenção. Mas, antes de analisar os exemplos que acabei de citar, lembrem-se: aprendemos muitas coisas por observação. E, portanto, nossos filhos também. Logo, eles estão aprendendo a se comportar enquanto nos observam.

Agora vamos pensar nas situações que apresentei. Nas duas primeiras, estamos ensinando as nossas crianças a contarem coisas que não correspondem com a verdade, em outras palavras, estamos pedindo que elas mintam por nós. No último exemplo, estamos falando mal de alguém que não está lá para se defender e, ainda por cima, julgando algo que pode não ser exatamente como foi apresentado para nós. Sei que comentários como estes, pretendem prevenir comportamentos inadequados do filho, mas será que essa é a melhor maneira para isso? Ainda sobre esse exemplo, imaginem que a mãe que faz esse comentário, é próxima da outra mãe (o que costuma ocorrer com frequência). Nesse sentido, ao observar esta conduta, a criança está aprendendo que pode criticar seus colegas, na ausência deles. Traduzindo para o português mais claro, é o que chamamos de falsidade.

De novo direi: não pensem que estou criticando quem faz isso, não estou. Repito: há uma série de coisas que fazemos sem nem perceber que estamos fazendo, é comum um deslize e, quase sempre, nossa intenção é boa. Digo mais, diante de tanta dificuldade e cobrança, é compreensível que os pais se sintam inseguros e impotentes durante o processo educativo de seus filhos. A intenção de apresentar essas situações é para que possamos refletir e discutir os aspectos apresentados.

Normalmente, os pais estão muito preocupados com o mau comportamento. Mas, e os bons comportamentos? Onde estão? É quase unânime a surpresa quando são questionados a respeito disso. Qual a razão de se preocupar com aquilo que a criança faz de bom, se é aquilo que é ruim que quero mudar?

Vejam só. Há uma série de fatores que levam os filhos a agirem como agem. Um motivo muito comum é a falta de atenção. Fazendo uma reflexão rápida e honesta: como você age quando alguém faz algo correto (adequado)? Possivelmente ficamos satisfeitos, certo? E dizemos isso à pessoa que fez? Nem sempre, mas às vezes sim. Tudo bem. Vamos agora pensar o inverso, quando alguém faz algo que nos desagrada, como agimos? Em geral, nossa reação é ficar bravo e, quase sempre, demonstramos isso. A raiva é bem mais fácil de demonstrar, às vezes até quando não queremos mostrar que estamos irritados, mostramos.

Com a necessidade de trabalhar, ganhar dinheiro, manter a casa, comprar material escolar e por aí vai, muitos pais acabam ficando fora boa parte do dia e, com isso, dedicam pouco tempo aos filhos. Isso não é o que os pais desejam, mas precisam trabalhar, é uma questão de sobrevivência, muitas vezes não há escolhas.

Há pais que, para compensar a ausência, aceitam tudo o que os filhos pedem e não fazem nada para tentar mudar maus comportamentos (olha aí o problema da permissividade). Há outros que gritam, batem e ficam nervosos quando não aprovam determinada atitude do filho.

Agora, vou explicar por que pedi para pensarem em bons comportamentos. Normalmente, aquilo que nos desagrada, desperta mais a nossa atenção, logo, investimos mais energia na tentativa de tentar corrigir. Quando a criança age adequadamente, poucas vezes os pais costumam comentar a respeito e, quando fazem, não realizam com a mesma magnitude de quando brigam. Agora avaliem: seu filho recebe sua atenção mais quando apronta ou quando escova os dentes no horário certo?

Tenho notado que, frequentemente, os pais conseguem elencar rapidamente uma série de comportamentos que os incomodam e, raramente, fazem com a mesma facilidade uma lista de coisas boas dos próprios filhos. Isso acontece não porque são maus pais ou porque possuem maus filhos, mas porque aquilo que nos desagrada, salta aos nossos olhos e queremos evitar que aconteça.

Mudar comportamento não é uma tarefa simples, mas um primeiro-passo para alterar algumas condutas é dar mais atenção quando a criança fizer algo adequado e diminuir a atenção destinada, quando ela emite um mau comportamento. Atenção: dar menor atenção, não significa ignorar e deixar que ela faça o que quer, mas ensiná-la que comportar-se adequadamente traz melhores consequências, não sendo necessário que ela se comporte mal para conseguir alguma atenção.

É claro que apenas isso não será suficiente. A ausência de regras ou a falta de consistência no cumprimento das mesmas é outra falha presente no contexto familiar. Há muitos pais que não estabelecem regras claras para a educação dos filhos, permitindo que sejam livres e façam aquilo que desejarem. Alguns até estabelecem regras, mas não as cumprem, o que também é um problema grave, já que isso ensina aos filhos o que precisam fazer para escapar do cumprimento de uma regra. Os estudos de diversas áreas têm indicado que esse é um fator que agrava os maus comportamentos. Ou seja, a dificuldade pode ser ainda maior e os pais perigam perder o controle da situação.

Por fim, há uma série de outros fatores que precisam ser considerados para começarmos a pensar na educação de crianças e adolescentes. Não tenho qualquer pretensão de acreditar que meu texto aborda todos eles. É importante esclarecer que o intuito é convidá-los a refletir sobre alguns aspectos que, a prática clínica, tem revelado ser muito frequente nas relações familiares.

Referências:

GOMIDE, Paula Inez Cunha. Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. Vozes, 2004.

Também publicado em: O Minuto Terapia 

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Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela
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Deu medo? Vai com medo mesmo!


Por: Alex Valério

Não é incomum sentir vontade de sair correndo, sem nem olhar para trás diante de algumas situações que a vida nos submete. Aliás, sentimos isso o tempo todo. Os medos que sentimos são dos mais variados possíveis: medo do que vão pensar se eu fizer tal coisa, de não conseguir alcançar algo que desejo, de não ser bem sucedido, de não fazer nada, de passar pela vida sem ter feito a diferença, de morrer, de ser feliz.

Uma vez um amigo antigo me disse que tinha medo do medo que as pessoas tinham. Cazuza, por outro lado, dizia que tínhamos medo, inclusive, da felicidade. Penso que ambos – tanto meu antigo amigo, quanto o grande poeta – tinham razão. A gente quer ser feliz, mas dá um medo danado de arriscar e de ir fundo nessa. Geralmente aquilo que pode dar muito certo, pode dar muito errado, não é mesmo? E, nesse sentido, passo a ter medo do tamanho do medo que as pessoas possam ter. Você já pensou no quão feliz estaria se tivesse tomado uma decisão que não tomou porque decidiu se proteger?

Quando estamos divididos entre o sim e o não, parece que um turbilhão de sentimentos começa a sambar dentro da gente. Aquela dúvida angustiante e assustadora entre o agir e o não agir passa a nos dominar. Passamos tanto tempo pensando no que fazer que muitas vezes decidimos não fazer. E não fazer, quase sempre, é aterrorizador. Aliás, há situações em que sofremos mais com a dúvida, do que com aquilo que aconteceria caso nossa tentativa não desse certo.

Vamos jogar a real! Ao tentar algo, uma das consequências possíveis é não dar certo. Mas isso faz parte da vida, não é mesmo? Se tudo que optássemos fazer desse certo desde o início, eu adoraria sair por aí arriscando e deixando o medo para lá. Acontece que não é e não foi sempre assim. Temos medo, porque temos uma história. Uma história que, nem sempre, nos traz lembranças felizes das escolhas que fizemos. O medo de errar é tão grande que pode até nos imobilizar. Mas, acreditem, se sentir imobilizado é tão ruim quanto algo que não deu certo – algumas vezes é até pior. Tentar e errar normalmente nos faz pensar: “Pelo menos eu tentei”. Por outro lado, não fazer nada nos faz pensar em quê? Em como seria se tivéssemos feito? Para mim, é aí é que está o problema. Ficar remoendo aquilo que não foi feito, não me parece um pensamento muito saudável.

O objetivo deste texto não é o de incentivar a ação de tudo aquilo que queremos e receamos, mas sim de nos sensibilizar acerca do que gostaríamos de fazer e que, de tanto querer, sofremos por não tentar. É para pensarmos no quanto deixamos o medo ser maior do que a nossa vontade de viver e de ser feliz. Experimentar é importante. Sentir medo é esperado, principalmente diante de coisas novas – mas não só delas, das antigas também. Sinto medo sempre que algo importante vai acontecer. Sabe aquele friozinho na barriga? Então, é sempre presente. Mas, depois que passa, é excelente. Quase nada é tão bom quanto a sensação de “Eu consegui”.

Ser cauteloso para não agir impulsivamente é importante. Precisamos refletir a respeito das consequências de nossas ações, entretanto, o cuidado em demasia pode nos impedir de descobrir felicidades que ainda não foram exploradas. Não se esconda dentro de si mesmo. Espie pela janela e tome coragem de abrir as cortinas. Deixe o sol irradiar a sua sala e vai fundo. Das duas uma: você terá uma experiência excelente, possível apenas para quem espiou e, mesmo com medo, abriu as cortinas. Ou, na pior das hipóteses, terá que passar muito pós-sol para cuidar das queimaduras. Mas veja só, há uma solução para aquilo que não deu certo. Em geral, só não dá para resolver aquilo que não aconteceu. Não se mantenha na escuridão. Deu medo? Vai com medo mesmo!

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Um grito em prol da pluralidade humana


Por: Alex Valério

Como adepto da liberdade, da polêmica e, principalmente, das coisas que fogem as regras, sou a favor das minorias. Isso mesmo, das pessoas desfavorecidas por “algo que elas são”. Sou a favor dos negros, dos LGBT’s, dos viciados (em suas mais variadas formas), das mulheres, dos moradores de rua e de um bocado de outras categorias.

Na atual crise do país, – que não é apenas econômica – se você não for de classe média, hétero, cis gênero e branco, você tem uma grande chance de se enquadrar no time das minorias. É curioso pensar que, ultimamente, há uma série de minorias possíveis e inimagináveis. Penso que se nos juntássemos, seríamos certamente a maioria dominante. Mas, dominaríamos? E se dominássemos, quem é que marginalizaríamos?

Confesso que o “faça isso, faça aquilo” nunca funcionou muito bem comigo. Eu sempre tive interesse em questionar e entender o porquê das coisas serem como são. Se as mulheres são mais numerosas do que os homens, porque são consideradas como o sexo frágil? Imagino que seja porque, um dia, algum homem (que certamente deveria ser hétero, cis gênero e, arrisco dizer, branco – estou quase me tornando “brancofóbico”, o que não faz sentido, já que também sou branco) proferiu e assim ficou.

Aliás, é impressionante como estamos o tempo todo sendo influenciados culturalmente, não acham? E, antes de discordar, não venha me dizer que você não é influenciado, até mesmo quem protesta contra a influência cultural negativa é, de certa forma, motivado pelo seu objeto de recusa. Observem que contrassenso curioso: algumas minorias julgam como inconcebível que uma pessoa fora daquela realidade apoie sua causa. Já conheci, por exemplo, negros que dispensavam o apoio de brancos. Não, não estou criticando os negros, calma, foi apenas um exemplo. Posso também exemplificar falando a respeito dos gays que detestam os héteros ou das feministas que abominam os homens.

Não pensem que estou julgando ou culpando as minorias que agem dessa maneira, não estou. Pelo contrário, entendo completamente bem os que se comportam assim, anos de humilhação e exclusão acabam afastando as pessoas e criando a necessidade de que elas queiram se proteger, se distanciar, ou ainda, se unir com seus iguais (e apenas com eles). A culpa disso é histórico-cultural, começou bem antes de todos esses movimentos surgirem.

Mas, vejam como é interessante. Eu posso não ser parte de uma causa e lutar por ela e, nesse sentido, eu me torno também a própria causa. Precisamos entender que não somos – digo no plural, mas me refiro a cada minoria que luta por igualdade – o protagonista principal daquilo que defendemos. Parafraseando o querido Gregório: “Deixemos a própria causa ser o destaque e a protagonista de si mesma”.

Outro dia, durante um almoço qualquer, acompanhei uma discussão a respeito da chatice do mundo. Dentre as pautas, o bullying era qualificado como o fenômeno do momento. Parece que algumas pessoas acreditam que tudo está ficando muito exagerado. Pergunto-lhes: o gordinho da escola, aquele que tanto sofreu com as “musiquinhas” depreciativas ou que nunca era escolhido para compor o time de futebol por não ser tão veloz, será que se entristeceu com o fato do mundo ter se transformado no lugar “chato” que muitos julgam? Será que o mundo só ficou chato para os que oprimiam e que, agora, não podem mais “brincar” livremente com as pessoas? É claro que existem coisas que só são compreendidas por quem as vivencia, mas, de novo, isso não significa que quem não as vive, não possa apoiá-las.

Dar apoio a algo não precisa ser necessariamente experienciar aquilo, mas se posicionar como cidadão ético e político que contraria a (hétero) normatização e o “embranquecimento” social. Vamos, antes de julgar os que não são iguais a nós, juntar forças para apoiar e respeitar as diferenças.

Estamos, a cada dia que passa, nos tornando intolerantes, descrentes e egoístas. Permita-se, antes de fazer algum julgamento de valor, conhecer e aceitar alguém como esta pessoa é. Aceite que aquele seu colega que não tem problemas financeiros, hétero e branco, também pode fazer coro com a sua luta. Ele, fisicamente semelhante aos que segregam, pode ser uma exceção e se somar a tantas outras vozes que lutam diariamente contra a cultura do estupro, do machismo, da homofobia, da (hétero) normatização.

Antes de repetir o modelo que aprendemos, vamos questioná-lo, criticá-lo e fazer melhor. Romper o ciclo vicioso do ódio e do preconceito é o primeiro passo para a mudança efetiva do mundo que tanto criticamos.

Também publicado em: O Minuto Terapia

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Cuidar do envelhecer é, também, cuidar do viver


Por: Alex Valério

O envelhecimento não deve ser sinônimo de solidão. Há uma série de tabus a respeito da velhice que ainda precisam ser superados. Ter amigos, conversar, compartilhar emoções ou experiências, receber atenção às necessidades básicas, se divertir e tantas outras formas “juvenis” de viver contribuem para qualidade de vida em qualquer idade. Nesse sentido, não deveria haver razão para espanto quando observamos pessoas de idade avançada se entretendo com os amigos, ou ainda, namorando.

A vida de um ser humano é dividida em etapas. Trata-se de um processo contínuo e isso começa a partir do nascimento. Com o passar do tempo, adquirimos experiências, valores importantes e maturidade. A última etapa de nossas vidas é a conhecida “velhice”.
É uma passagem subjetiva, onde a velhice pode ser encarada como algo natural da vida, com certos benefícios ou como algo indesejável, que não traz consigo nada de bom. Todavia, há uma verdade a ser ressaltada: a velhice é inevitável. Portanto, todos haveremos de passar por esta fase da vida, se obviamente chegarmos lá.

Pensar e discutir a questão do idoso é fundamental para o futuro do nosso país, já que muito em breve seremos um país composto por “velhos”. O último Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acusou uma tendência na diminuição da população jovem e aumento quadruplicado da população idosa, acima de 65 anos, até o ano de 2060. Esse cenário será impulsionado, principalmente, pelo aumento da expectativa de vida, para até 81 anos.

Boa parte da população idosa passa por grandes dificuldades, as mais comuns tem sido: abandono por parte da família, maus tratos, impossibilidade de acesso à saúde e preconceito. Os direitos dos idosos deveriam ser respeitados, porém não é o que tem acontecido nos últimos tempos. A mídia, frequentemente, noticia casos de maus tratos com pessoas que já estão na chamada terceira idade.

Há algum tempo o direito dos idosos vem sendo discutido e, com intuito de garantir qualidade de vida para essa população, criou-se o estatuto do idoso. O projeto que começou em 1997, só foi aprovado em 2003. O estatuto determina diretrizes e garantias de direitos direcionados à população idosa do país. O documento aborda uma série de assuntos, dentre eles transporte, saúde, moradia, esporte, lazer, trabalho, direito à vida etc.

Considerando que a expectativa de vida vem aumentando, a preocupação com os idosos de hoje, torna-se um fator de grande importância para os futuros “velhinhos” do país. Há algumas instituições já cientes das necessidades específicas dessa população e, nesse sentido, tem trabalhado para conseguir supri-las.

O envelhecimento é marcado por peculiaridades de cada indivíduo, tornando-o cada vez mais funcional ou disfuncional frente às atividades cotidianas. A maneira de enfrentar o processo desencadeado pelo envelhecimento contribui para a qualidade de vida na velhice, portanto, envelhecer deve ser compreendido como é: um processo natural e esperado, futuro do qual nenhum de nós tem escapatória.

As dificuldades e limitações desencadeadas nesse processo estão diretamente ligadas à forma como o indivíduo percebe o seu envelhecimento, entrelaçada por valores pré-concebidos durante todo o seu processo de desenvolvimento. Em consequência, existem vários fatores que contribuem para o desenvolvimento de conflitos e crises comuns a essa fase da vida, os mais comuns deles são: surgimento de doenças crônicas que deterioram a saúde e estão frequentemente acometendo os idosos; Modificações orgânicas x autoimagem; Viuvez, morte de amigos e parentes; Ausência de papéis sociais favoráveis; Dificuldades financeiras (aposentadoria) (STUART-HAMILTON, 2002).

Todos esses fatores contribuem para que o idoso tenha sua autoestima afetada, o que acaba gerando uma série de conflitos e crises na busca de uma identidade que passa por algumas mudanças nessa fase da vida. Para enfrentar todas essas mudanças, o idoso precisará recorrer as suas habilidades e repertórios comportamentais (formas pessoais de enfrentamento) e, também, àquilo que estiver disponível no ambiente.

Como ciência que se preocupa com a subjetividade humana, a Psicologia tem buscado contribuir de diferentes maneiras, favorecendo a identificação de características que possam auxiliar o indivíduo a compreender a nova fase da vida em que se encontra e, também, contribuindo para que possam reconhecer as necessidades específicas dessa fase. Além disso, tem atuado com foco em prevenir que sejam dominados por sentimentos negativos comuns em pessoas de mais idade.

Aquele que participa e que dispõe seu tempo para os idosos se aprofunda em um mundo repleto de recordações, algumas boas e outras ruins. Além disso, as pessoas que acompanham de perto, acabam observando a saúde se deteriorar com o passar do tempo, seja por consequência natural da vida ou por histórico de ações do passado.

Cada pessoa tem uma história para contar, tem algo a trocar e contribuir. Talvez faltem mais oportunidades, mais ouvidos e mais olhares que possam dar apoio a alguém que atingiu a terceira idade, essas coisas os ajudam a se sentirem mais vivos e úteis. Refletir sobre a velhice é inevitável. Todos nós estamos ligados a ela. Se não conhecemos ou convivemos com alguém que já a atingiu, um dia seremos nós os idosos.

A valorização aos idosos deve começar em seus próprios lares, ou seja, em suas respectivas famílias. O idoso deve ser amado, compreendido e respeitado, ele tem muito a oferecer à sociedade e aos mais jovens. Deve ser considerado como uma pessoa que adquiriu, ao longo de sua vida, muitas experiências.

É necessário compreender a terceira idade como uma realidade incontestável para todos, assim como nascer e morrer. Sabemos que hoje nosso país possui maioria jovem, porém, é necessário lembrar que os jovens irão envelhecer e criar um país de maioria idosa. Cuidar desta trajetória é cuidar de si mesmo. Cuidar do envelhecer é, também, cuidar do viver.

Referências:

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2013.

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica, 32. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em < http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66777.pdf > Acesso em maio de 2016.

Legislação sobre o idoso: Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do idoso) e legislação correlata. Brasil. [Estatuto do idoso (2003) ] (Brasília: Edições Câmara, 2015) Disponível em < http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/acessibilidade/legislacao-pdf/Legislaoidoso.pdf  > Acesso em maio de 2016.

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Da próxima vez que decidir amar, exija reciprocidade desde sempre


Por: Alex Valério

Sempre pensei bastante neste assunto e decidi escrevê-lo considerando três aspectos: a) a prática clínica; b) a infinidade de artigos, livros e textos que já li e; c) minha própria história de vida. Antes de prosseguir, devo advertir: se você espera encontrar um passo a passo de como se relacionar com outra pessoa, esse texto não vai ajuda-lo nisso. Até porque, não há receita para amar.

Não seria nada mal se existisse uma receita, admito. Imaginem só: Acrescente duas colheres de mensagens no WhatsApp, três xícaras de beijos, cinco colheres de carinho matinal e mais duas noturnas. Mexa delicadamente e despeje, sem deixar de mexer, uma lata de declarações de amor e mais duas gotas de saudade. Não deixe de fora o “desliga você” e, tão menos, o “eu te amo” a cada despedida. Ah! Acrescente o tempo todo algumas pitadas de carinho e sedução. Despeje numa forma untada com lábios de mel e mantenha quente, porque se apagar desanda. Ah, é preciso ter mão boa, do contrário (risos)…

Enfim, seria ótimo se pudéssemos simplificar nossos relacionamentos e corrigi-los acatando algumas dicas assertivas. Aliás, se fosse assim, ia faltar amor no mundo, certeza! Há, é claro, uma infinidade de textos que falam sobre saber ouvir, ser companheiro, cúmplice, fiel e uma série de coisas que sabemos ser importantes em um relacionamento. Também não é sobre isso que vamos discutir.

Gostaria que pensássemos e discutíssemos o início de tudo. Isso mesmo, o começo. A forma como os relacionamentos começam revela muito sobre como ele será. Sabe aquela decisão de atender ao pedido da namorada, mesmo sendo contra sua vontade, só porque está perdidamente apaixonado e não quer correr o risco de magoá-la? Então, isso é o começo de um futuro problema.

Não é novidade para ninguém que no começo tudo são flores, não é mesmo? A propósito, é comum deixarmos de fazer algumas coisas que tínhamos o hábito de realizar, é normal perdoarmos com mais facilidade e aceitarmos tudo o que nosso parceiro pede, estamos apaixonados, queremos fazer de tudo para continuar assim.

É difícil se controlar e deixar de querer sorrir com aquela pessoa que está nos fazendo tão bem. A paixão acaba mexendo conosco, afetando nosso “estado normal” de ser. Penso que não há como agir racionalmente quando se está no ápice do começo de uma relação amorosa.

Aparentemente, nos comportamos como se fôssemos perfeitos e não humanos. Queremos acertar e sempre agimos pensando no outro. Algum tempo depois, algumas antigas maneiras de agir, começam timidamente a reaparecer. É como se tivéssemos tirado férias daquilo que somos e vivido em uma pousada junto com o outro. Não há você, não há eu, só havia nós.”

Muitos casais querem ser “nós”. Há muitos textos por aí que discorrem sobre a importância de ser um só e de viver um para o outro. Concordo que é bonito e romântico pensar assim, mas não dá certo (poucas vezes eu sou tão categórico em um texto, mas para isso, serei). Isso mesmo, não dá certo. Se você vive ou viveu um relacionamento em que você é pelo seu parceiro e ele é por você, unicamente um para o outro, gostaria muito de conhecê-los e rever meu modo de pensar.

Se tivesse que pensar numa receita, seria algo em que contemplasse a existência de um eu, de um você e, também, de um nós. Mas, reparem, como três itens distintos, separados e individuais.
Deixar de viver por si e passar a fazer isso em função do outro é uma tarefa arriscada. Um relacionamento deste tipo tende a gerar dependência – um dos dois sempre vai acabar dependendo do outro para tudo, deixando de viver para si, para viver para o outro; submissão – você passa a aceitar e perdoar todas as coisas que te incomodam, relevando porque acredita que o amor é capaz de superar todas as adversidades.

Há uma série de relacionamentos abusivos que quando terminam, geram, na maioria das vezes, mais sofrimento para um dos dois. É necessário equilíbrio e honestidade numa relação. Você precisa jogar limpo e precisa permitir que o outro tenha espaço para si. Não invista tanto em relações simbióticas. Zele pela sua individualidade, esteja bem consigo e saiba com clareza das coisas que te fazem feliz.

Algumas vezes encaramos os relacionamentos como uma fuga da solidão, ou pior: como uma fuga de nós mesmos. Já conheci pessoas que emendavam uma relação na outra, pouco ficavam sozinhas. Outras que, apesar de não namorarem numa frequência alta, tinham uma série de aplicativos de relacionamento e conversavam com muitas pessoas ao mesmo tempo. Percebi que muitos faziam isso porque não suportavam a ideia de ficarem sozinhas, de terem que “olhar” para si.

Engajar-se numa relação saudável requer algum equilíbrio individual próprio. É importante estar bem consigo mesmo, é fundamental gostar de si. Você precisará confiar no outro, mas se não é capaz de fazer isso, precisa então, repensar alguns aspectos da sua vida. Procure um terapeuta, uma clínica-escola caso não tenha condições financeiras, mas faça algo. Faça algo por você e, antes de tentar preencher o vazio que você sente por não gostar tanto assim de ti, tente aprender a gostar (o terapeuta também pode ajudar nisso).

O intuito não é tornar esse texto mais do mesmo e, tampouco, falar sobre a importância do amor próprio. O objetivo central é alertar: preste atenção na maneira como você constrói seu relacionamento. Sabe tudo aquilo que você releva no começo? Sabe a vontade constante de querer fazer tudo pelo outro e, no fim, ver que ele não faz o mesmo por você? Então, busque equilibrar e construir começos conscientes, sem a exasperação da paixão. Você não precisa refrear o sentimento, deixa fluir, aproveite todas essas sensações maravilhosas. Mas, tente aproveitá-la sendo você (e gostando do que você é). Aja com franqueza, dialogue, fale do que gosta e, também, do que não gosta.

Se você, antes, fazia tudo pela pessoa, atendia todas as suas vontades e sempre estava ali por ela, não pode culpa-la por ser egoísta e querer que você faça tudo. Você sempre foi assim, quem está mudando é você. A outra pessoa apenas está querendo que seja como sempre foi, como você permitiu que fosse. Não abra mão da reciprocidade. Ela deve ocorrer sempre (e isso inclui o começo).

Relações que começam equilibradas, conscientes e sinceras tendem a florescer e propiciar diversos momentos especiais. Relacionar-se não é uma tarefa fácil, há uma infinidade de dificuldades. Se ainda não deu certo, não é culpa sua. Mas, ao tentar de novo, lembre-se: você não precisa atender todas as necessidades da outra pessoa – é para ser uma relação amorosa e não parental – e esteja ciente do que você é. Aprenda a ser suficiente para si. Complete-se antes de querer completar alguém.

Também publicado em: Minuto Terapia

Imagem capa: Pinterest

Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela
Universidade de São Paulo.
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram
pesquisa básica em análise do comportamento
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso),
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos.
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
Facebook.com/ominutoterapia

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Eu não espero o Carnaval chegar …


Por: Alex Valério

Você tem percebido que os dias estão passando cada vez mais depressa? Ontem eu estava comemorando o natal, hoje já passou o carnaval! Uau! Okay, a rima foi péssima, mas totalmente acidental (opa, de novo!).

Às vezes, por um deslize, o tempo desacelera e nos permite algumas reflexões. Numa dessas, eu comecei a pensar nos planos que tracei, mas que por algum motivo que não sei dizer qual, nunca os concretizei. Sei que não sou o único e que isso acontece com todo mundo. Sabe aquela dieta que estamos tentando há anos? Fica para próxima semana. Sabe aquele artigo que você sonha em escrever? Deixa para o mês que vem, as coisas estarão mais calmas até lá. Ah, tem também a necessidade de aprimorar o inglês, mas agora falta dinheiro, deixa as coisas melhorarem.

São nos momentos em que a vida parece caminhar em câmera lenta que paramos para pensar. E, quando não há felicidade, alimentamos alguns dramas para impedir que entrem em extinção. Talvez, quem sabe, tenha sido num desses momentos de ócio que Drummond lançou: “E agora, José?”.

O grande segredo, que na verdade não é segredo, mas um desafio, é quebrar o ciclo vicioso que se estabelece quando temos o costume de ir postergando atividades que gostaríamos de fazer. Sabe aquela velha história de “Amanhã eu faço”; “Ainda está longe, temos tempo!”; ou ainda o famoso “Falta um mês”? Pois é, o pior é que no final justificamos que a culpa é cultural, já que todo brasileiro deixa tudo para última hora. Ao dizer isso, não estou desconsiderando os aspectos culturais envolvidos em comportamentos como estes, mas não confunda, o foco da nossa conversa não está naquilo que fazemos de última hora, mas naquilo que adiamos, adiamos, adiamos e que, de tanto adiar, não fazemos, fugimos, corremos…

Algumas das frustrações da nossa vida ocorrem por não termos feito algo que, em algum momento, planejamos. Eu, por exemplo, estou desde o ano passado tentando finalizar meu site. Já está praticamente pronto, mas cada hora eu tinha motivos diferentes que justificavam a não conclusão, agora, já estou tão cara de pau que nem inventei nada. Quando me lembro dele, logo me forço a esquecer. Não me olhe assim, só deixo você me julgar se nunca tiver feito algo parecido (risos).

A solução provável para que pudéssemos concretizar nossos famigerados planos, seria algo que, apesar de parecer simples, é bastante esnobe: ORGANIZAÇÃO.

Planeje! Programe a realização da sua tarefa, estabeleça um prazo e aja (isso mesmo, com j e sem h, não está errado! rs) de uma forma que permita o cumprimento das metas estabelecidas. Devo alertar para necessidade de não ser tão severo consigo mesmo, vá com calma, respeite seus limites e não exija demasiadamente da sua habilidade de planejamento.

Inicialmente, não se preocupe executar com perfeição, – o que não significa que você fará de qualquer jeito – mas se preocupe em tornar real a maior parte daquelas coisas que você gostaria que compusessem a sua realidade. No começo pode até parecer um pouco “torto”, mas com o tempo você endireita.

Não vamos deixar a vida passar para perceber que aquilo que foi, já não existe mais. Você, por enquanto, só tem o presente, o agora. Esse que, um segundo depois, já não existe mais. E que, a cada palavra lida se vai, se tornando passado. Nesse sentido, o que seria o tempo? O passado já passou, não pode ser alterado. O futuro ainda nem chegou, logo, também não tem como ser o que ainda não é nada. O presente, bem, o momento atual se torna passado um segundo depois de transcorrido.

A vida é um grande paradoxo. Pensem comigo: ao mesmo tempo em que parece longa, ela é rápida. Vejam só, o ano começou ontem, parece que faz poucas horas que estávamos brindando o réveillon, mas na realidade, o carnaval já até acabou.

Não permita que sua vida passe sem que você cometa alguns pecados. Não se crucifique por ainda não ter muitas coisas para viver. Saiba respeitar o seu tempo, saiba aproveitá-lo. Organize-o a seu favor, de modo que seja possível iniciar a dieta, ir para academia, escrever o artigo dos sonhos, realizar uma atividade prazerosa, enfim. Evite deixar para próxima semana, para o mês que vem, para depois do natal, para o começo do ano seguinte ou para depois do carnaval.

Faça uma lista com três planos e diga para si mesmo: Eu não espero o carnaval chegar para agir, mas estou em movimento todo dia, sou todo dia. Acredite, é melhor dar um passo por mês, do que nunca ter levantado do sofá e se posto a andar.

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Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela
Universidade de São Paulo.
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram
pesquisa básica em análise do comportamento
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso),
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos.
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
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