A empatia no desenvolvimento da inteligência e altas habilidades


Por: Maria Aline Moreira de Oliveira Constantino

Entende-se inteligência como um processo que se inicia desde o nascimento da criança e se desenvolve ao longo da vida, dependendo da quantidade e qualidade dos estímulos oferecidos pelo ambiente, da fisiologia de suas estruturas cognitivas, além da influência dos valores culturais ao qual esse sujeito está inserido. Podemos dizer que a inteligência nasce à medida que começamos a agir e interagir com e sobre o mundo e quando participamos ativamente do processo de aprendizagem, ou seja, quando somos conduzidos a construir e não a reproduzir ou repetir mecanicamente um processo.

Nesse ponto, pode-se inserir a discussão sobre as variações que ocorrem nos sujeitos com altas habilidades/superdotação, desde que iniciam suas aprendizagens. Partindo-se dos ideais de Jean Piaget (1896-1980), que embora não tenha desenvolvido pesquisas, nem se dedicado ao estudo do funcionamento cognitivo de pessoas com Altas Habilidades/Superdotação, muito contribuiu para a compreensão de fenômenos pertinentes ao desenvolvimento da inteligência. Com base nos conceitos de Piaget, admite-se que o processo que leva à evolução de um estágio de desenvolvimento para o seguinte é o mesmo para todos os indivíduos e o que vai produzir diferenças entre um dito “normal” e outro considerado “superdotado” e até entre “superdotados” é o modo e o ritmo como as estruturas cognitivas se organizam nas tentativas de entender o mundo e se adaptar a ele.

O conceito de altas habilidades tem mudado ao longo do tempo. Atualmente o termo superdotação, também muito utilizado, está além do que os testes de inteligência podem mensurar. Por vezes, há possibilidade de considerar como portadores de altas habilidades, apenas os alunos que apresentam uma capacidade intelectual superior, excluindo aqueles que possuem talentos em outras áreas, tais como: a psicomotora (com ótimo desempenho em esportes) ou artísticas (com talento para se expressar através da música, pintura e poesia).
Contudo, deve-se compreender que apesar de adquirirem vantagens na área cognitiva e na capacidade de rendimento psicomotor, os superdotados podem encontrar dificuldades psicossociais. Assim, entende-se que a escola e o professor que não estejam preparados e habilitados para lidarem de maneira empática com as demandas apresentadas pelos alunos portadores de altas habilidades, podem impedir o desenvolvimento destes.

No campo educacional há um imaginário social de que altas habilidades/superdotação poderia se manifestar em diferentes áreas do conhecimento, mesmo sem oportunidades escolares adequadas. A concepção atual de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação rompe com esse paradigma. No caso de altas habilidades/superdotação, assume especial importância o contexto no qual se dá a aprendizagem, uma vez que este pode ser um fator facilitador ou cerceador das manifestações de potencialidades e talentos. Conforme o valor dado pelo contexto, o sujeito pode se motivar ou não a apresentar suas habilidades e mesmo que se perceba talentoso em alguma área, não se dedicar como poderia, caso esta não seja estimulada ou valorizada socialmente.

Howard Gardner, psicólogo e pesquisador norte-americano, revolucionou o campo da psicologia cognitiva ao identificar em sua obra Estruturas da Mente: As Teorias das Inteligências Múltiplas, diversos tipos de inteligências distintas. Sua pesquisa ultrapassa a noção comum e tradicional de inteligência como mera capacidade cognitiva uniforme, para a definição de inteligência como “capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais” (Gardner, 1994, p.46).
Gardner (1994) reconhece a inteligência como um conjunto de capacidades, talentos e habilidades mentais, afirmando que todo ser humano possui múltiplos tipos de inteligência e cada um deles pode ser desenvolvido ou enfraquecido. Em seus estudos, identificou nove tipos de inteligência: verbal ou linguística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal ou sinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencialista, trazendo uma nova perspectiva acerca da relação entre as altas habilidades/superdotação e a inteligência, considerando que a primeira resulta não somente do nível de inteligência, mas do perfil dessa interação com o mundo, uma vez que essa inteligência surge da combinação da herança genética, condições de vida, cultura e época ao qual o sujeito está inserido.

Joseph Renzulli é um psicólogo educacional norte-americano conhecido por contribuir para o desenvolvimento do talento das crianças na escola e para a compreensão da superdotação. Segundo ele, a superdotação seria influenciada pela confluência de três fatores: Capacidade acima da média, motivação ou comprometimento com a tarefa e Criatividade. De acordo com sua teoria, esses fatores atuam através de um suporte basilar que envolve família, amigos e escola, destacando, assim, a importância dos aspectos sociais para manifestação e sustentação plena da superdotação.
A capacidade de compreender empaticamente o aluno, ou seja, compreendê-lo a partir do seu quadro de referência interno, permite não só o desenvolvimento intelectual do aluno, como também o seu crescimento enquanto pessoa, promovendo, assim, uma aprendizagem significativa.

Falando em capacidade empática, não podemos deixar de citar Carl Rogers (1902-1987), eminente psicólogo americano, considera a empatia uma das atitudes fundamentais e necessárias para a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento. Em seus escritos sobre educação, afirma que o aluno possui motivações e entusiasmos, próprios, que devem ser liberados e favorecidos pelos professores e apresentou um modelo educativo onde, nessa relação pedagógica, o centro das atenções era a pessoa do aluno e o professor era um facilitador do processo de aprendizagem.
Quando fala-se em ensino, pode-se dizer que ensinar não é apenas comunicar um conhecimento, assim como aprender não é apenas aprender esses conhecimentos vinculados, pois nada disso gera uma influência significativa sobre o comportamento.
Aprender é um processo dinâmico, que exige concentração, interesse, empenho e motivação e por tal razão é importante que as relações de cooperação e participação entre professor e aluno estejam presentes. A verdadeira aprendizagem é autodescoberta. Uma aprendizagem em que há apropriação e assimilação pessoal, que se incorpora na nossa própria experiência o que se aprendeu e se descobriu, tem impacto sobre nosso comportamento e leva a mudanças e melhorias.

A valorização social do conhecimento interfere na construção da inteligência, podendo direcionar essa construção para determinados tipos de conhecimento por agregar significados ao que o sujeito sente, percebe, pensa ou realiza. Os valores culturais do contexto e do momento histórico, podem gerar motivação à aprendizagem, funcionando como um estímulo a mais ao desenvolvimento de certas potencialidades humanas, assim como podem dificultar o aparecimento de aptidões que o sujeito tem, mas, por falta de estímulo, não manifesta. Isso vale tanto para pessoas com altas habilidades/superdotação como para aquelas ditas “normais”.
Há que se retomar aqui a lembrança de que cada indivíduo é particular, seja em suas características, interesses ou expressões. Assim, embora haja aquelas características que são compartilhadas por grande parte das pessoas dotadas de altas habilidades/superdotação, existem outras peculiares e específicas que devem ser estudadas de forma individual. O que o professor precisa é identificar as habilidades e competências apresentadas pelos alunos e utilizar o máximo de seu potencial para um desenvolvimento construtivo e enriquecedor enquanto pessoa a ser social.

“Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua existência.” (Carl Rogers)

Referências:

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The framsof the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.

PIAGET, J. Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1956.

RENZULLI, J. S. O que é essa coisa chamada superdotação e como a desenvolvemos? Retrospectiva de vinte cinco anos. Revista Educação. Porto Alegre, ano 27, n.1, jan/abr 2004. pp. 75-134. Publicado originalmente em inglês com o título: What is this thing called giftedness, and how do we develop it? A twenty-five year perspective. Journal for the Education of the Gifted, v. 23, n. 1, p. 3 – 54, 1999.

ROGERS, Carl. Liberdade de aprender. 2ª ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1973.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Maria Aline Moreira de Oliveira Constantino
CRP 05/54266

Psicóloga Clínica Humanista Centrada na Pessoa
Licenciada em Ciências Biológicas
Psicopedagoga
Atuo na cidade do Rio de Janeiro – RJ
Contatos: 
Página: facebook.com/PsicologaMariaAline
Email: mariaaline.psi@gmail.com
Telefone: +55 21 991064777

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


 

O aprender diferente diferencia a aprendizagem


Por: Reinaldo Felipe Ferreira

Pedagogia, de acordo com Marques. R. (1999) é a ciência da educação das crianças, sendo a arte e a técnica de ensinar. É uma palavra de origem Grega, paidós quer dizer criança e agogé significa condução, ou seja, condução à crianças. A maneira de conduzir crianças, segundo este conceito,  é de investir de forma reflexiva, investigativa e, científica no processo educativo. Tendo sempre a imagem de autoridade que não pode ser delegada a outro que não seja o profissional de pedagogia, considerado apto a atuar neste campo de estudos, sendo somente ele capaz de conduzir um processo pedagógico.

De acordo com a Malcolm Knowlesm (1991 apud NOGUEIRA, 2004, p. 4), a Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender. É um conceito de educação voltada para o adulto, diferente da pedagogia que refere-se à educação de crianças. A Andragogia significa, portanto, ensino para adultos. É uma forma de aprendizado que busca compreender o adulto em todos os seus componentes humanos e consiste em olhar para o ser humano considerando-o um ser psicológico, biológico e social. A Andragogia busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme o conteúdo, impulsionando a assimilação. O adulto, após absorver e digerir as informações, aplicará os novos conhecimentos em sua vivência. Podemos dizer que isto é o aprender através do fazer. Isto é o tal aprender fazendo, ou aprender aprendendo.

No meu primeiro ano de faculdade de Psicologia, eu ouvi em sala de aula que “Aprender a ser Psicólogo deveria ser como o filho do padeiro aprendeu a fazer pão.” Ou seja, na prática, passado de um para o outro pela experiência vivida. É claro que a expressão usada em sala de aula foi uma forma romantizada de falar da profissão que havíamos escolhido para aprender, e é claro também, que eu considero importante que a Psicologia seja vista como Ciência e Profissão, e necessite estar inserida em um processo acadêmico, analítico terapêutico e de formação contínua. No entanto, tire como mensagem desta aula, que conhecimentos tácitos e explícitos devem ser estimulados de forma natural desde muito cedo. O fazer e a experiência de fazer são a base para a boa prática de qualquer atividade seja para fins profissionais ou não. Via de regra, não somos muito estimulados a aprender variadas formas de aprender. E somente a experiência de fazer pode dar a aquele que aprende a oportunidade de identificar-se com a atividade e através (ou a partir) desta identificação aferir energia, empenho, dedicação, força, ou seja, lá qual for a palavra que queiram usar como “investimento de força própria” a uma atividade.

Adultos são motivados a aprender à medida que percebem que suas necessidades e os seus interesses estão sendo satisfeitos. É usando este ponto em especial, que podemos explorar de forma mais assídua às experiências vividas, para que um processo de aprendizado seja além de prazeroso, satisfatório. Aliás, é justamente sendo prazerosa que qualquer atividade poderá ser também satisfatória.

A utilização de métodos e de técnicas na Andragogia assegura uma aprendizagem baseada na motivação própria, no estímulo à participação, na troca de experiências e em conteúdos adequados ao seu perfil, isto é, que podem ser usados à sua realidade e que propiciam satisfação e por consequência resultados mais expressivos. Enquanto a pedagogia exige a imagem autoritária de alguém que molda o aprendizado da criança. Na Andragogia o papel do instrutor é de ser um facilitador do processo de ensino e de aprendizagem, adotando métodos e abordagens mais apropriados ao perfil e às necessidades do grupo, propiciando a troca de experiências, demonstrando a importância prática dos conteúdos trabalhados e encorajando a participação e a reflexão.

Eu considero que o aprendizado com base na automotivação, no estímulo à participação, na troca de experiências, na vivência e em conteúdos adequados ao seu perfil (usados dentro da realidade e das condições do que aprende), propiciará maior satisfação e por consequência os resultados mais expressivos. O ser humano desde cedo demonstra necessidades de sentir-se grande, importante e integrado a um grupo. Se cedo nos sentirmos motivado durante a aprendizagem, cedo também podemos adquirir o gosto das experiências em aprender coisas novas.

A sociedade que forma pessoas apenas para obedecer a um sistema, torna-os experts no próprio sistema. E experts em um sistema sabem como ninguém a forjar o sistema. Vejamos: As crianças aprendem a colar sozinha, nem pais e nem professores a ensinam. A insistência imposta para obedecerem ao sistema contribui para que se aprenda também como burlá-lo. E o que burla, é no meio da rodinha de amiguinhos, considerado grande, importante e esperto. Colar muitos vezes insere a criança ao grupo dos espertos e importantes. E fazer parte de um grupo, de certa forma satisfaz aquele que aprendeu a colar colando (aprendeu a fazer fazendo).

Não fazer parte de um grupo é muitas vezes angustiante, e agir de forma diferente dos demais a sua volta também (não somos muito estimulados a pensar diferente). No sistema que somos submetidos (e nos submetemos) o diferente é ameaçador. Fazer diferente é como sair da caverna de Platão. Explico: Em O Mito da Caverna, Platão cria a alegoria de que haviam homens acorrentados em uma caverna desde a infância, e estes não podiam olhar para a entrada da caverna. Lá dentro havia uma fogueira e eles, de costas para a entrada viam apenas as paredes de fundo onde eram projetadas as sombras de tudo que acontecia às suas costas. Se um desses homens conseguisse soltar-se para contemplar à luz do dia e os objetos reais ao invés das sombras, ao regressar para contar o que via, era considerado louco ou mentiroso. Há outras formas de analisar este mito, mas consideraremos aqui a pedagógicas, que implicará olharmos para o processo de ensino aprendizagem. Quem teve dificuldades de colar na infância certamente foi taxado como louco, careta, medroso ou de algo que o desclassificasse diante do grupo de espertos coladores.

Voltemos ao tema. A pedagogia é um processo essencial na formação da criança, pois de fato ela necessita ser uma seguidora de referencias e autoridades, que a direcionem nos primeiros anos de sua formação. A Andragogia proporcionando a experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme os conteúdos vivenciados e impulsione a assimilação, também é um processo essencial para o adulto.

Em termos de realidade bem sabemos que o processo pedagógico nem sempre é eficiente e eficaz, e que a Andragogia não é de comum aplicação e fácil acesso (é um produto raro e por consequência, caro). Mas o que me intriga mais ainda é o que há entre uma aplicação e a outra. Ou seja, o processo de transição entre a fase da criança para a fase adulta.

Vivemos uma sociedade que incentiva termos seguidores, mas que pouco cria ferramentas de estímulos a novos conhecimentos. É mais fácil ter seguidores que obedecem do que admiradores que questionam. Eu particularmente, acredito que seja necessário pensarmos no contínuo processo de formação, entendendo as especificidades de cada fase do aprendizado. É necessário saber que a continuidade exige um processo diferente em fases diferentes da vida de uma pessoa. Assim aumentamos as chances de formarmos pessoas mais pensadoras do que simples seguidoras.

Nem pedagogia (só para crianças), nem Andragogia (só para adultos), uma sociedade realmente preocupada em formar pessoas felizes, pensantes, capazes de superar obstáculos e decepções, adotaria práticas com ambas (de forma eficiente e eficaz) e se preocuparia com o todo do desenvolvimento, dando ênfase aos processos de estímulos, automotivação e da autonomia do individuo no que tange o processo de aprendizagem.

Sugiro pensarmos em um novo nome, um novo conceito. Talvez chamemos de “Estimulogogia”. Ou troquemos o nome do tudo que já existe para “Obedeçagogia”.

Referências:

MARQUES, R. Modelos Pedagógicos Actuais. Lisboa: Plátano Editora, 1999.

NOGUEIRA, S.M. A Andragogia: que contribui para a prática educativa. Linhas: Revista do Programa de Mestrado em Educação e Cultura, Florianópolis, v. 5, n2, dez. 2004.

PLATÃO. A República. Tradução de Heloisa da Graça Burati. São Paulo: Editora Riedeel, (Coleção: Biblioteca Clássica), 2005. Acessado e disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/resenha-do-livro-vii-de-a-republica-de-platao/151229#ixzz51Ebgt3ok

Imagem capa: Pexels

Reinaldo Felipe Ferreira

Graduando em Psicologia pela Universidade Dom Bosco
Gestor Administrativo, Financeiro e de Departamento Pessoal
Com experiência em gestão e liderança
Experiência em desenvolvimento de equipes corporativas
Escreve para o próprio blog

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

Transtornos da Aprendizagem


Por: Camila Martins Fernandes

No texto de hoje quero falar um pouco sobre os Transtornos da Aprendizagem.

Para começar quero dizer a diferença entre dificuldade e transtornos da aprendizagem. Muitas crianças em fase escolar podem apresentar algumas dificuldades para realizar algumas tarefas e isso pode acontecer devido a inúmeros motivos, como questões pedagógicas, problemas familiares, doenças crônicas, transtornos psiquiátricos entre outros. Podendo apresentar dificuldades em algumas matérias ou em algumas situações da vida, além de problemas psicológicos como a falta de motivação e baixa autoestima. Questões como hipotireoidismo também podem gerar dificuldades de aprendizagem. Em termos, podemos dizer que é sempre algo relacionado do interno para o externo, começa de dentro e vai para fora. A existência de uma dificuldade de aprendizagem não significa necessariamente que haja um transtorno.

Já os transtornos da aprendizagem são transtornos de neurodesenvolvimento, com origem biológica. Por ser de origem biológica inclui fatores genéticos e ambientais que podem influenciar na capacidade do indivíduo de processar algumas informações. Os transtornos da aprendizagem compreendem uma inabilidade específica como de leitura, escrita ou matemática em pessoas que apresentam resultados abaixo do esperado para o seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual.

Segundo o DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) basicamente existem três tipos de transtornos específicos: o transtorno da leitura, o transtorno da matemática e o transtorno da expressão escrita.

– Transtorno da leitura: é caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas.

– Transtorno da matemática: também conhecido como discalculia e não está relacionado a ausência de habilidades matemáticas como contagem, e sim a forma como a criança associa essas habilidades com o mundo à sua volta. A aquisição de conceitos matemáticos envolve raciocínio, e é justamente essa área que está afetada nesse Transtorno. A baixa capacidade de trabalhar com números e o conceito de matemática não tem origem por lesão ou causa orgânica.

– Transtornos da expressão escrita: refere-se a ortografia ou caligrafia. Nesse transtorno normalmente há dificuldade na capacidade de compor textos escritos, possíveis de serem vistos através de erros gramaticais e pontuação dentro de frases e má organização de parágrafos.

O tratamento dos transtornos da aprendizagem é um trabalho em conjunto. Além de acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e psicopedagogo, é essencial a colaboração de pais e educadores, pois só é possível ver evolução quando todos se juntam e se ajudam.

Referência:

– ROTTA, Newra Tellechea e colaboradores. Transtornos de Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. 2º Ed. Artmed.

Imagem capa: Pexels

Colunista:

Camila Martins Fernandes 
CRP: 06/109118

Psicóloga Clínica. Formada pela Universidade São Judas Tadeu. 
Aprimoramento Clínico na Abordagem Cognitiva pela Universidade São Judas Tadeu.
Psicopedagoga Clínica e Institucional. Formada pela Universidade Cidade de São Paulo. Atendimento no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo-SP 
Contatos: 
E-mail: contato@psicocamilafernandes.com 
Facebook.com/psicocamilafernandes

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

O brincar e a aprendizagem


Por: Joscelaine Lima

A fase da vida em que aprendemos mais, absorvemos conhecimento com maior facilidade e captamos as novidades é a infância. Também é na infância que vivemos a brincadeira, a fantasia, a criatividade, por isto, é imprescindível que o brincar, o lúdico, esteja presente no momento da educação e aprendizagem.

A educação lúdica se dá usando brincadeiras, desenhos, jogos, despertando a atenção e percepção da criança para a aprendizagem através de ferramentas que atraiam sua atenção, que são de seu interesse e despertam prazer na criança.

O lúdico na educação é muito importante, pois é algo pelo qual a criança tem interesse, tornando a aprendizagem algo atrativo e não apenas uma obrigação ou alguma coisa chata, levando a criança a aprender com maior facilidade, pois a brincadeira é seu meio de expressão. Quando o professor consegue usar técnicas lúdicas para interagir com a criança, esta aprende com mais facilidade, principalmente se estas brincadeiras envolvem emoções, pois aquilo que é vivido com emoção é mais fácil de ser lembrado, de ser gravado na memória e a brincadeira geralmente envolve as emoções.

Através do brincar se trabalham as emoções, o respeito ao próximo, o dividir, as diferenças, o sentimento positivo de ganhar e o negativo de perder que podem e devem ser trabalhados pelo adulto que participa da brincadeira, levando a reflexões sobre as oscilações da vida, fazendo a criança aprender a lidar com as frustrações e assimilar o valor de cada momento e sentimento.

A criança desde bem cedo pode e deve aprender ludicamente, para o bebê existem brinquedos com formas geométricas que podem ser usados e já despertam a aprendizagem. O ensino de forma lúdica pode ser aplicado a todas as idades, não apenas às crianças, mas aos adolescentes, adultos e principalmente idosos que podem aprender com o lúdico.

Técnicas como o desenho, jogos e dinâmicas de grupo – que é uma forma de brincar, podem ser aplicadas tanto no ensino formal quanto no ensino na área profissional, terapêutica, entre outras. Então, não existe limite de idades, entretanto, para o público infantil, a aprendizagem lúdica deve predominar no ensino.

Não apenas professores, mas, os pais e outras pessoas que trabalham com o público infantil, devem usar o lúdico de todas as formas possíveis. Uma delas, como foi dito, é o desenho, no qual a criança revela muito de si e permite um melhor olhar e entendimento do que lhe faz bem ou angustia.

Outra atividade muito importante é a de contar histórias, onde as crianças podem entrar e se imaginar na narrativa, fazer parte, se colocar em meio aos personagens, estimulando a imaginação. Através de jogos que envolvem memória, atenção e concentração, formas geométricas, números e letras, interação entre colegas, etc.

É importante não apenas as crianças brincarem entre si, mas, o educador também deve se envolver na brincadeira, entrar no jogo, soltar a imaginação, despertar sua criança interior, para compreender o mundo da criança. Pais que brincam com seus filhos lhes proporcionam bom desenvolvimento, os ensinam de forma prática a viver bem em sociedade, evoluir como ser humano, etc.

Os benefícios são muitos quando a atividade lúdica é trabalhada de forma adequada, promovendo um bom desenvolvimento intelectual, físico, psicomotor, emocional e social. Ao entrar no mundo da criança através do lúdico, podem ser percebidas suas dificuldades, que também poderão ser trabalhadas de forma adequada. São percebidas também questões familiares e sociais que podem estar dificultando o desenvolvimento e aprendizagem, dando a oportunidade ao cuidador e educador de conhecer melhor a criança e sua situação, fazendo orientações e encaminhamentos necessários para melhorar sua vida e de e sua família.

O brincar é um símbolo (algo que significa alguma coisa) então, a criança se expressa de várias formas, mostra como é sua vida em casa, seus medos e sonhos, proporcionando à pessoa que está facilitando sua ação, seja pai ou mãe, professor, psicoterapeuta, orientador, conhecer melhor seu mundo interno e ajudá-la a se desenvolver, a crescer e evoluir de forma mais eficaz.

Imagem capa: stocksnap.io

Colunista:

Joscelaine Lima
CRP: 12/14672

Psicóloga clínica, formada pela Universidade 
do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) em 2015.
Atende em São Miguel do Oeste-SC.
Contatos:
Facebook.com/JoscelainePsicologia
Whatsapp: (49) 992028970

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.

 

Conheça nosso E-book “80 Brincadeiras Educativas e Caseiras”CAPA E-BOOK 80 BRINCADEIRAS

Um caderno de atividades com 80 sugestões de brincadeiras para fazer com as crianças. 

 Clique aqui e adquira o seu!!

 


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

5 lições da Psicologia sobre Aprendizagem


Por: Iana Fomina

Conheça as principais características do processo de aquisição de novos saberes

Ao longo da vida somos constantemente bombardeados por informações. Nos primeiros anos, especialmente, a criança é estimulada a andar, a falar, depois a estudar e seu desenvolvimento não para por aí. Na Psicologia, no entanto, o termo aprendizagem ganha uma outra conotação. A seguir, separamos uma lista com 5 lições sobre o que é aprender na psicologia. Confira!

1 – Sempre é possível aprender

A mente humana é como uma máquina de absorção de conhecimentos, tanto que grande parte do aprendizado acontece sem nos darmos conta, inconscientemente. De uma forma geral, pode-se falar que as maneiras mais comuns de aprender são pela experiência e pelo raciocínio, ou pela união dos dois. Andar de bicicleta, por exemplo, exige muito mais da prática e da determinação do iniciante, apesar das inúmeras quedas. Logo, não é difícil perceber o que se deve fazer para adquirir habilidades motoras: praticar, pondo a mão na massa. Mas o que dizer sobre dificuldades de cognição? Não entender os conteúdos escolares, ou um novo conceito no trabalho, mostra uma dificuldade de contextualizar as informações. Isso pode provir da própria fase de desenvolvimento do cérebro – bebês de 3 meses, por exemplo, não conseguem ler; ou, nos casos mais graves, a razão pode ser um déficit de atenção, dislexia ou deformidade cerebral. Esses impedimentos precisam ser identificados para que a metodologia correta possa ser aplicada, adaptando o ensino ao aluno a partir de seus interesses. O livro “Na vida 10 na escola Zero”, datado de 1996, traz situações e mostra como temas variados podem ser aprendidos sobre diversas óticas. Uma coisa é certa, sempre é possível aumentar o grau de absorção de conhecimento através da insistência e novas alternativas metodológicas.

– À procura de professores de química? Visite a Preply.com – 

2 – A aprendizagem inclui maus hábitos

A psicologia do comportamento observa como a socialização pode influenciar na aprendizagem do indivíduo. Hábitos agressivos como xingar, julgar ou hostilidade contra si mesmo e contra as pessoas ao redor, costumam ter uma raiz no convívio. Mesmo criança que aprendem desde cedo o valor do amor e do respeito aos limites, podem testar seus pais com a rebeldia. É nessa fase que eles tentam mostrar que são indivíduos independentes. A melhor maneira de mudar os maus hábitos de um filho é dando o exemplo.

3 – Aprender é uma faculdade natural

A maioria dos psicólogos distinguem a aprendizagem em dois tipos diferentes: a aprendizagem implícita e a aprendizagem explícita. A primeira diz respeito ao aprendizado inconsciente e a segunda ao consciente, foi ensinado. A verdade é que a consciência não consegue apreender a realidade como um todo. Por isso, muito do que sabemos foi assimilado imperceptivelmente. Aqui falamos, entre outras coisas, da intuição. Algumas vezes pode parecer que não há uma razão para uma atitude ou conceito, mas a intuição formada por boas ou más experiências, às vezes reforçadas por memórias, servem de base de conhecimento para a tomada de uma escolha.

4 – Definindo aprendizagem

O ato de aprender pode ser definido como a capacidade tanto de absorver novos conhecimentos, habilidades, valores, crenças, preferências, comportamentos… como também, de modificá-los ou reforça-los. Os seres humanos se destacam nesse aspecto, mostrando uma eficiência única de fazer conexões cerebrais, retendo mais informações. Contudo, vale lembrar que outros animais e vegetais também são extremamente inteligentes e aptos a aprender e se adaptar. Além disso, graças aos avanços tecnológicos até as máquinas e robôs começam a mostrar um grande potencial de cognição.

5 – Manifestações da aprendizagem

Por fim, vale ressaltar que muitas vezes o conteúdo aprendido constrói-se paulatinamente, tanto que nem sempre o aprendiz percebe que já aprendeu. É o caso, dos códigos sociais por exemplo. Às vezes é preciso sair de seu país para perceber o quanto sua cultura havia lhe ensinado ao longo dos anos. Ou ir às compras, para ver que as aulas de matemática foram eficientes. Logo, nunca desista de seus objetivos, dedique-se e construa o aprendizado.

Para mais informações sugerimos a leitura das seguintes literaturas:
Carraher, D.; Nunes, T. & Schliemann, A. L. (1996). Na Vida Dez , Na Escola Zero. 16ª ed. São Paulo: Ed. Cortez; assim como Hill, W. F. (1981). Aprendizagem: Uma resenha das interpretações psicológicas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara dois. Ambas as fontes serviram de base para a elaboração do nosso texto.

Autora: Iana Fomina

Imagem capa: Pinterest

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

 

[Estudo] Aprender a ler tardiamente pode alterar partes do cérebro que não são associadas à linguagem


Por: Jacqueline Gonçalo

A leitura é vista pelas pessoas como um ato quase que automático, mas nosso cérebro não é naturalmente acostumado a essa atividade, para executá-la ele faz uma verdadeira revolução em nossas sinapses para que assim possamos compreender o que as palavras querem dizer. Isso deve-se ao fato de que, se considerarmos a escala de evolução humana, a escrita é algo recente, que surgiu cerca de 5 mil anos atrás. Se pararmos para recordar o nosso próprio processo de aprendizagem, podemos dizer que passamos por alguma dificuldade, por isso cada vez mais a psicologia e a neurociência têm trabalhado para desvendar o que acontece durante a aprendizagem da leitura.

O matemático e neurocientista francês, Stanislas Dehaene, afirma em seu livro “Os neurônios da leitura” que todas as crianças, seja qual for a língua, encontram dificuldades durante o processo de aprendizagem. E ainda dá uma estimativa de que cerca de 10% das pessoas quando adultas, não conseguem dominar a compreensão de texto.

Já no Brasil o índice de analfabetismo ainda é grande, são 12,9 milhões de analfabetos, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em novembro de 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2005, 11,1% das pessoas com mais de 15 anos não sabiam ler e escrever, essa proporção caiu em dez anos para 8%, segundo dados do IBGE.

O processo de alfabetização é primordial para a inserção na sociedade, e uma pesquisa recente feita por pesquisadores do Instituto Max Planck de Cognição Humana e Ciências Cerebrais da Alemanha, mostra que quando um adulto aprende a ler, são ativadas regiões do cérebro que não estão ligadas à leitura e escrita.

O tálamo e o tronco cerebral são afetados quando o adulto passa pelo aprendizado. Essas regiões são responsáveis por coordenar informações dos sentidos e movimentos do corpo. Para que o cérebro consiga processar a leitura, regiões do sistema visual interagem com o sistema linguístico, há um atrelamento de informações motoras e sensoriais, que incluem a concentração e atenção.

Os pesquisadores ainda constataram que depois da alfabetização ocorreram mudanças na atividade do córtex, região cerebral encarregada pela aprendizagem e memória. O tálamo e o tronco encefálico acabam auxiliando o córtex a selecionar informações visuais relevantes para a leitura, antes mesmo do cérebro percebe-las. Todo esse estudo explica um pouco sobre a importância da alfabetização, mesmo depois de adultos.

“É difícil para nós aprendermos um novo idioma, mas aprender a ler na nossa língua natal é muito mais fácil. Essa é uma prova de que o cérebro adulto pode ser incrivelmente flexível”, afirmou Falk Huettig, líder do estudo, ao jornal Science Advances.

Resumindo, o estudo revelou a ligação entre visão e concentração, explicando o porquê leitores ávidos conseguem navegar e filtrar informações mais rapidamente, além de mostrar um possível tratamento para a dislexia, que muitos pesquisadores associam ao mal funcionamento do tálamo. Mas para isso é necessário aprofundar os estudos e os testes devem ser aplicados em um número maior de pessoas.

Referências:

DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.

Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por sexo – Brasil – 2007/2015. (Disponível em: http://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-das-pessoas-de-15-anos-ou-mais.html)

IBGE – http://www.ibge.gov.br/home/

Mas Planck Institute for Psycholinguistics – http://www.mpi.nl/

Learning to read alters cortico-subcortical cross-talk in the visual system of illiterates (Disponível em: http://advances.sciencemag.org/content/3/5/e1602612)

Imagem capa: Pinterest

Jacqueline Gonçalo

Bacharel em Comunicação Social Hab. em Jornalismo
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Contato:
jacquelineap.goncalo@gmail.com

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

Os segredos familiares e sua relação com as dificuldades de aprendizagem


Por: Susana Joaquim Rodrigues

Em geral, grande parte das crianças que chega aos consultórios de Psicologia, Neurologia e Psiquiatria Infantil traz consigo alguma queixa relacionada à escola, sendo muitas vezes o encaminhamento realizado pela instituição escolar. Dentre as queixas apresentadas, muitas se referem às diversas “dificuldades de aprendizagem”. Cotidianamente, tenho percebido que uma parte considerável dessas queixas está relacionada aos segredos familiares. Explico por que.

Alícia Fernandez em seu livro “A Inteligência Aprisionada” (1991), traz a seguinte afirmação: “Não há segredo de um só. O segredo age tanto na mente de quem o comunica como de quem o recebe”.  A autora ainda destaca que um segredo é sempre escondido apenas parcialmente, ou seja, de alguma forma ele circula no contexto familiar, marcando presença e causando efeitos, muitas vezes negativos, especialmente vinculados às dificuldades de aprendizagem das crianças, além de transtornos emocionais associados. Alícia vai ainda explicitar que conforme a origem e a dinâmica do segredo, as suas interferências na aprendizagem podem se dar de diferentes formas, quais sejam:

a)   Quando a pessoa é incumbida de guardar um segredo, seu problema na aprendizagem pode estar centrado no “mostrar”, como no caso da criança que sabe, mas não pode registrar o que aprendeu.

b)   Quando a pessoa descobriu um segredo porque espiou alguém, costuma aparecer a inibição cognitiva, pois o desejo de conhecer fica culpabilizado.

c)   Quando uma informação falsa é dada à pessoa no lugar da informação verdadeira, o problema de aprendizagem costuma apresentar-se como uma muralha de defesa ante a uma organização psicótica.

d)   Quando a pessoa vê alguma coisa e alguém lhe diz que não viu, isso se relaciona com o desmentido, mecanismo estudado por Freud como específico da psicose. Nesse caso, além do impedimento da aprendizagem, as consequências psíquicas são extremamente graves.

Um segredo é aquilo que fica escondido, que uma ou mais pessoas da família sabem, mas que não é contado para a criança. Cito o exemplo de crianças adotadas para as quais o fato não é revelado. Os motivos para que isso se mantenha em sigilo no seio familiar são muitos: alguns pais acreditam que a revelação pode causar um trauma, ou tem receio da relação que por ventura possa se estabelecer com a família de origem, ou ainda não sabem como contar. Cada família tem os seus temores e motivações para tal, mas é importante destacar que o fato de manter em segredo uma parte tão significativa da vida de seu filho pode, muitas vezes, trazer problemas na aprendizagem.

Aprender implica conhecer, investigar, descobrir. É a curiosidade que move a aprendizagem e é a capacidade investigativa do sujeito que está em jogo no aprender. Segundo Freud (1905), seu início se dá na mais tenra idade, com a curiosidade a respeito da origem dos bebês, repleta de muitos questionamentos por parte dos pequenos, com perguntas do tipo: De onde vêm os bebês? Como eu nasci? Como o bebê foi parar na barriga da mamãe? Entre tantas outras muito conhecidas por quem tem filhos ou convive com crianças pequenas. Mas que respostas buscam as crianças com essas perguntas? Trata-se de perguntas sobre as origens e essa é a base para a construção do conhecimento. É nesse momento que, segundo Freud (1905), também se inicia na criança a atividade que se inscreve na pulsão de saber ou de investigar. A grande pergunta a ser respondida pelos seres humanos é sobre a sua própria origem, sua história, sua vida. E é aí que o segredo traz problemas para a aprendizagem. Uma criança que não pode saber sobre a sua origem, tem um impedimento que pode trazer sérias dificuldades de aprendizagem e até mesmo causar a sua impossibilidade.

Mathelin (2008) descreve as dificuldades encontradas por crianças adotadas no processo de alfabetização, quando se deparam com a exigência da escrita. No seu texto intitulado “O que eu escuto eu não posso escrever” a autora reflete sobre o não dito no ambiente familiar e sobre as informações a que inconscientemente a criança tem acesso, mesmo que não sejam ditas verbalmente. Como no caso de Marion (nome fictício) citada no texto, que fora adotada em uma instituição e que posteriormente, na idade escolar, não conseguia demonstrar sua aprendizagem através da escrita. Marion lembrava-se de canções de ninar que remetiam a sua origem, mas ela não sabia. Sem compreender sua história, não podia registrá-la através da escrita, mas mantinha a capacidade de aprendizagem e expressão oral preservada. Segundo a autora, “O que a criança adotada sabe de suas origens é difícil para ser escrito num caderno escolar. O traço se torna então, ameaçador”. Outro aspecto trazido pela autora é sobre as mentiras que se contam às crianças em relação a sua origem, o que traz um complicador, pois nesse caso, aprender significa descobrir a verdade e desmentir seus pais, o que pode deixar a criança numa posição de não desejar aprender. O medo da perda do amor também está presente.

Um segredo não revelado é uma força que age silenciosamente em todos os envolvidos e suas consequências podem ser desastrosas, principalmente, quando é negado ao sujeito saber sobre sua origem e sua história. Conhecer o que está fora e o que está dentro de si é uma dinâmica que se retroalimenta durante a vida toda e impedimentos em um dos lados, certamente tem consequências no outro lado. Dessa forma, uma pessoa que está impedida de conhecer a si, também encontrará empecilhos para conhecer o mundo. E nesse sentido, mesmo com todas as intervenções pedagógicas realizadas pode não ocorrer a aprendizagem, sendo necessária uma intervenção de outra ordem.

É muito compreensível que pais e familiares tenham muitos motivos para manter um segredo, mas sabendo que isso pode trazer prejuízos graves na aprendizagem e no desenvolvimento psíquico de uma criança, convém reconsiderar a decisão. É mais fácil para uma criança recuperar-se de um trauma do que daquilo que ela nem sabe que a faz sofrer.

Referências:

FERNÁNDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisionada. Tradução Iara Rodrigues. Porto Alegre: 1991.

FREUD, Sigmund (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das Obras Completas, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

MATHELIN, Catherine. O que eu escuto eu não posso escrever. In: BERGÈS, Jean; BERGÈS-BOUNES, Marika; CALMETTES-JEAN, Sandrine. O que aprendemos com as crianças que não aprendem. Tradução Maria Nestrovsky Folberg. Porto Alegre: CMC, 2008.

Imagem: Pinterest

Colunista:

Susana Joaquim Rodrigues
CRP 07/15823

Psicóloga com atuação clínica, especialista em Educação Especial e Inclusiva, membro da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul.
Contatos:
Telefone: (51) 95396145
Email: susipsique@yahoo.com.br
Facebook: /psicologasusanajoaquimrodrigues
Instagram: @psicologasusanarodrigues

 

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


Gostou deste conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!
Cadastre-se também na opção “Seguir Psicologia Acessível”e receba os posts em seu e-mail!


PNG - ONLINE IMAGE EDITOR - Copia.png

Sobre o Psicologia Acessível (saiba mais aqui).

Método Montessori – Outro olhar sobre ensino e aprendizagem


Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro

O Método foi fundado pela médica italiana Maria Montessori, que defendia que a criança tem por si só a capacidade de aprender, basta que lhe sejam dadas ferramentas para isso. É uma filosofia de autoeducação através da cultura, reconhecimento de responsabilidades e liberação das potencialidades do ser humano. O processo de ensino e aprendizagem abrange então da gestante ao bebê, da criança ao adolescente e também o professor.

Na verdade, este método engloba um conjunto de práticas, materiais didáticos, teorias e mais do que isso, seu principal conceito é que a educação seja desenvolvida com base na evolução da criança e não o contrário.

Existem seis pilares educacionais no Método Montessori, que devem ser incluídos no processo educacional em união:

  • Autoeducação
  • Educação cósmica
  • Educação como ciência
  • Ambiente preparado, adaptável e sensível
  • Adulto preparado
  • Criança equilibrada

E o que quer dizer cada um destes conceitos?

  • Autoeducação: Diz respeito à capacidade inata que todo ser humano tem de aprender. A criança naturalmente explora o ambiente à sua volta, porque tem curiosidade, desejo por conhecer e descobrir. Por isso é tão importante ter um ambiente preparado para essas descobertas e também apresentar materiais adequados para as crianças, de modo que elas possam desenvolver suas potencialidades, cada uma a seu ritmo.

montessoriano4

Foto: http://emmafiorezi.com.br/blog/?p=7843

  • Educação cósmica: “Cosmos” significa “ordem”. Esta é considerada a melhor forma de ajudar a criança a compreender o mundo, pois ela precisa entender que tudo tem uma função no mundo, inclusive ela, que deve entender qual é seu papel e como ela pode contribuir para melhorar o ambiente onde vive.
  • Educação como ciência: O professor, com base no Método Montessori, irá observar, analisar hipóteses e as teorias que são mais eficazes ao seu trabalho, de acordo com cada criança. Educação como ciência então é a forma de compreender o processo de ensino e aprendizagem da criança.
  • Ambiente preparado, adaptável e sensível: É o local onde a criança pode explorar, conhecer e desenvolver a sua autonomia, sendo assim, é um ambiente planejado e construído pensando na criança, atendendo às suas necessidades psicológicas e biológicas. Normalmente a mobília destes ambientes possui tamanhos e materiais adequados a elas, que proporcionem um pleno desenvolvimento, ou seja, é um local sensível às demandas da criança.

palos-verdes-montessori-preschool-1

Foto: http://galleryhip.com/montessori-materials-for-toddlers.html

  • Adulto preparado: Segundo o Método, é o profissional que atua como facilitador do desenvolvimento completo da criança, que tem conhecimento das fases do desenvolvimento infantil, domínio sobre as técnicas e ferramentas de ensino e guia este processo de aprendizado.
  • Criança equilibrada: É a criança em seu processo de desenvolvimento natural. A criança, quando dispõe de ferramentas, ambiente preparado e adulto preparado, pode apresentar o máximo de suas habilidades inatas.

“Uma das provas da correção do processo educacional é a felicidade da criança”.
Maria Montessori

O Adulto Preparado (Professor)

O perfil do professor Montessoriano é “firme nas bordas e empático no centro”, ou seja, responde de forma empática aos sentimentos da criança e estabelece de forma firme os limites para o grupo (Autoridade). Além disso, através de observações, ele é capaz de inferir a intenção e as necessidades dos alunos (Observador). Os alunos entendem que podem sempre recorrer ao professor como fonte de conhecimento e auxílio (Dispõe de recursos, é consultor). O professor não somente orienta e dá comandos, mas também incorpora comportamentos, disposições, aspirações e possibilidades do ambiente (É modelo).

Materiais de desenvolvimento

Com os materiais oferecidos, as crianças tem a possibilidade de aprender interagindo com o ambiente. Por meio da atividade espontânea desta interação, a criança se desenvolve naturalmente. Estes materiais envolvem atividades de diversas temáticas, como linguagem, matemática e geometria, sensoriais, práticas e responsabilidades da vida cotidiana.

montess 3

Foto: http://galleryhip.com/montessori-materials-for-toddlers.html

Como foi dito, existem ainda muitos outros conceitos, técnicas e teorias envolvidas no Método Montessori e voltaremos a falar dele no Psicologia Acessível. Falamos em linhas gerais de alguns pontos deste método e é importante deixar claro que é uma alternativa educacional, não sendo considerada como melhor ou pior, mais eficaz ou menos eficaz, assim como outros métodos de ensino e aprendizagem.

Referências: 

Associação Brasileira de Educação Montessoriana (ABEM)

Lar Montessori


OBS.: Todo o conteúdo desta e de outras publicações deste site tem função informativa e não terapêutica.

Gostou deste conteúdo?

Compartilhe utilizando um dos botões abaixo!
Cadastre-se também na opção à sua direita “Seguir Psicologia Acessível” e receba os posts em seu e-mail!


10516729_1448233238791949_8127215912485502492_n


Sobre a autora:

Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora deste blog.
CRP: 06/119556

 

.



publi-caderno-minha-rotina