Viver é experimentar muitas coisas, inclusive, o sofrer


Por: Alex Valério

Há dores que, apesar de não terem origem orgânica, doem um bocado e causam muitos desconfortos (inclusive físicos). Não aprendemos a lidar com frustrações e, ao menor sinal de que algo irá nos abalar, preferimos evitar esse acontecimento e nos privamos de uma série de coisas, a fim de garantir a nossa preservação. O esforço que fazemos com intuito de evitar o sofrimento é, por si só, um sofrimento e tanto. Paradoxalmente, isso que tanto tememos, além de inevitável é, também, necessário.

A dor é algo inerente à nossa condição de existir. Negá-la não nos ajuda a deixar de senti-la. O mais eficaz é transformar a dor em ação, ou seja, precisamos encontrar uma maneira de lidar com aquilo que machuca e que fere. É importante experimentar alguns dos nossos medos, pois nem sempre o que tememos é tão terrível quanto aquilo que imaginamos. Nossa imaginação é traiçoeira e tem a habilidade de potencializar nossas angústias, sendo capaz de nos fazer perder aquilo que talvez pudéssemos ganhar (em outras palavras, o inimigo somos nós).

Refletir sobre aquilo que machuca é importante para garantir alguma qualidade de vida, mas querer garantias de que a vida será segura e imaculada não seria possível nem se vivêssemos numa bolha. Estamos agindo para garantir a manutenção do que temos, inclusive quando o que temos não nos agrada, mas que ainda assim, é mais seguro do que correr o risco de desconstruir aquilo que somos, pois já nos habituamos com a dor que dói hoje e sabemos que a conseguimos suporta-la (diferente daquela que desconhecemos).

Encarar aquilo que tememos é muito difícil. Correr o risco de falhar pode nos imobilizar (o que infelizmente nos mantém no mesmo lugar). Às vezes não temos forças para juntar os pedacinhos de nós que se espatifaram diante de uma decepção e passamos a não querer passar por isso outras vezes, temendo ter de juntar tudo o que se estilhaçou e que, apenas nós entendemos, pois somos os únicos que sabemos o que foi necessário fazer, para juntar tudo novamente.

Hora ou outra, acabamos conseguindo encontrar todas as partes que se espatifaram e passamos a colá-las, pouco a pouco, até que estejamos prontos para nos erguer e – talvez – a fazer novas tentativas. A vida é muito incerta e isso é algo assustador. Um passo em falso pode resultar num pé torcido ou, na pior das hipóteses, num pé quebrado. Mas, veja que até nesta situação, após um período de dores e desconfortos, recupera-se a possibilidade de andar e seguir adiante (Ah, o tempo!).

O tempo costuma ser nosso melhor aliado, mas infelizmente não o valorizamos. Os efeitos colaterais de estar inserido numa cultura imediatista é este: queremos tudo para ontem. Aceite aquilo que te faz sofrer. Aceite-se como você é, incluindo aquilo que você mesmo desaprova.

Aceitar-se é, pouco a pouco, um dos passos necessários para aprender a gostar de si.

Quando quase toda nossa história é marcada por dores, frustrações e coerção fica difícil acreditar que as coisas podem dar certo e que a felicidade é uma possibilidade. Felicidade é um estado momentâneo, rápido e breve, não é uma condição permanente. O universo está cheio de momentos felizes e, muitas vezes, isso não acontece para você, porque você ainda não conseguiu arriscar fazer o que está fazendo, de um jeito diferente. Às vezes se reinventar no meio do caminho é essencial para que seja possível seguir adiante.

O fato de algo não dar certo não significa que é o fim de tudo e que você não nasceu para ser feliz. Poucas pessoas alcançam seus sonhos sem se expor e se frustrar. Não dar certo pode significar, simplesmente, que não foi dessa vez, mas que pode ser numa próxima. Lembre-se das vezes em que você viveu algo diferente e que, ao passar por isso, percebeu que não foi tão difícil quanto imaginou. Transforme a sua dor em ação, reconheça-a.

Imagem capa: Pexels

Também publicado em: Minuto Terapia

Colunista:

Alex Valério
CRP: 06/134435

Especializando em Terapia Comportamental pela 
Universidade de São Paulo. 
Psicólogo pela Universidade Nove de Julho.
Tem experiência com projetos que envolveram 
pesquisa básica em análise do comportamento 
(desamparo aprendido e comportamento supersticioso), 
ações sociais com o público LGBT e pesquisa quantitativa 
com familiares de mulheres que estavam encarceradas.
Realiza atendimento clínico de crianças, adolescentes e adultos. 
Escreve para o próprio blog e, também, para o Educa2.
Atende em São Paulo (Região Central) e no Grande ABC.
Contato: 
alex@minutoterapia.com
Facebook.com/ominutoterapia

*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.


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