Por: Psicóloga Julia Bittencourt
“Gestalt-Terapia, embora formalmente apresentada como um tipo de psicoterapia, é baseada em princípios que são considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é primeiro uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras de aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se dele.” (Perls)
Há um tempo atrás, quando se falava em Psicologia ou psicoterapia, a maioria das pessoas logo pensava na Psicanálise de Freud ou comentava de um filme com um divã e um profissional atrás só ouvindo sem falar nada, ou confundia com a Psiquiatria, especialidade da Medicina… Enfim, muitas dúvidas surgiam e ainda surgem!
Mas a Gestalt-terapia veio cada vez mais conquistando seu espaço e hoje já é considerada uma das principais abordagens da Psicologia. E algumas pessoas têm me perguntado sobre ela! Por isso, vou falar um pouco sobre essa abordagem que é minha grande paixão. Nela que me baseio para formar minha visão de homem e de mundo e que utilizo como método de trabalho.
Para contextualizar, a Gestalt-Terapia surgiu em 1951, fundada por Fritz Perls, mas ganhou força na década de 60, nos Estados Unidos, em um movimento de contra-cultura, com o objetivo de ser anti-intelectualista, anti-racionalista, anti-mecanicista, anti-explicativa e anti-determinista, bem diferente das psicoterapias disponíveis, sendo revolucionária para o cenário da época. Em um momento em que se dava mais valor à razão, ao intelecto, que se entendia o funcionamento do homem com uma visão mais determinista ou biológica, em que o foco do tratamento era a doença ou o sofrimento…
Ela surgiu com uma visão mais integrada de homem e de mundo, valorizando sensações, sentimentos e emoções, focando no campo/meio/ambiente, enfatizando as relações, o contato, a conscientização organísmica e não mais a racional, com mente e corpo como uma unidade, sem cisão, e com foco na saúde e no crescimento.
Isso se deu pois a Gestalt-terapia possui uma visão holística de homem e de mundo, enxergando-os como um todo, em relação, onde um afeta o outro o tempo todo, integrados, sem essa cisão entre mente e corpo já citada, onde o sentir, o pensar e o agir precisam estar em congruência, em sintonia, sendo confirmados e respeitados pelo sujeito para que haja saúde.
Quando há um sintoma, por exemplo, como ansiedade, fobia, depressão, tique, entre outros, a Gestalt-terapia entende isso como apenas uma parte do sujeito, que tem sua totalidade, portanto o foco não fica nessa questão especificamente, mas em sua vida, seu funcionamento, seus gostos, medos, expectativas, enfim, no sujeito como um todo. E entende que essa é sua melhor forma de estar no mundo naquele momento, ou seja, foi seu ajustamento possível, mas que pode ser ressignificado e atualizado e desenvolvido e melhorado!
É que a Gestalt-terapia acredita no potencial humano, na mudança e no crescimento e enxerga a vida como um processo, em constante movimento, fluido, que se atualiza sempre… Com o homem em busca da sua melhor forma de estar no mundo no momento presente! (A palavra Gestalt é alemã e não tem tradução literal para o português, mas possui o sentido de “forma”, de “configuração”.) E cada pessoa à sua maneira, pois a Gestalt-terapia compreende cada sujeito como um ser único e singular, que se percebe e percebe o mundo do seu jeito, jeito este construído a partir das suas relações e experiências vividas ao longo de toda sua vida.
Ok, mas como isso acontece na prática? Então vamos lá… O processo terapêutico tem como objetivo principal a busca pela awareness, palavra também sem tradução, mas que quer dizer uma ampliação ou tomada de consciência ou ainda conscientização, que é baseada na experiência atual do sujeito, de uma forma integrada sobre seu próprio funcionamento: o que sente, o que pensa e como age (ou como se bloqueia) para suprir suas necessidades atuais devem ser percebidos, permitindo-o fazer escolhas que atendam a isso, em busca de sua auto-realização, equilíbrio e bem-estar.
Para que isso ocorra, o foco do processo terapêutico está na relação terapêutica, onde o terapeuta caminha junto com o cliente, a fim de que ele perceba suas necessidades genuínas, baseadas no sentir, pensar e agir congruentes, e ampliando seus recursos e seu auto-suporte, tornando-o capaz de fazer suas melhores escolhas, assumindo responsabilidade sobre as mesmas. Isso resulta em uma atitude mais autônoma e integrada no mundo, dentro de suas possibilidades naquele momento!
Diversos estudos já demonstraram que a relação terapeuta-cliente, baseada em empatia, vínculo e confiança, entre outros elementos, é o fator decisivo no sucesso de um processo psicoterapêutico. E a Gestalt-terapia é uma abordagem que considera a própria relação terapêutica como sua maior técnica e sua principal ferramenta de trabalho, que visa ao crescimento e desenvolvimento do cliente, que encontra sua melhor forma de estar no mundo no momento presente!
Imagem: Pinterest
Colunista:
Julia Bittencourt
CRP 05/49022
Psicóloga clínica com ênfase em Gestalt-terapia e em Terapia Sistêmica, com formação em Psicologia Perinatal e Parental e cursando especialização em Terapia de Casal e Família, além de ter capacitação em Psicologia Hospitalar e Luto. É uma das idealizadoras do Maternar Psi – Núcleo de Atendimento a Mães, Pais, Casais e Famílias. Atende adultos e idosos, além de gestantes, pós-parto, mães, pais, casais e famílias em seu consultório na Barra da Tijuca e em Jacarepaguá (RJ). Também realiza atendimento domiciliar a gestantes e pós-parto no Rio de Janeiro, além de oferecer atendimento em inglês para estrangeiros.
Sites: www.juliabittencourtpsi.com.br
www.maternarpsi.com.br
Para quem não tem disponibilidade de ir ao consultório ou não mora no RJ, ela faz atendimento online no Terapia de Bolso (acesse aqui).
*Ao reproduzir este conteúdo, não se esqueça de citar as fontes.
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Obrigada.
Sou estudante de psicologia e os textos são muito bons e estimulantes.
Gostaria de sugerir as outras abordagens nos próximos.
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Obrigada pelo comentário, Kelly! Sugestão aceita!
Seja sempre bem-vinda por aqui e fique à vontade para contribuir! Abraços!!
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Pingback: Gestalteando com Lulu Santos | Psicologia Acessível
Achei bem produtivo, tenho um seminário pra apresentar sobre Gestalt terapia, nisso fiquei com a parte de como esta a terapia gestalt no hoje, e seu texto achei bem interessante para me auxiliar . Se tiver mais assunto ou pdf do Gestalt deste , me envia por favor.
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