A juventude do Brasil tem diversos problemas, diversas demandas. Aqui, quero questionar como vai se construindo o plano de vida, plano de carreira de alguns desses meninos. Começo esse texto com o imperativo de “Química”, de Renato Russo, para convidá-los ao incômodo frequente na vida de alguns jovens do nosso país. Procuro traçar um caminho, mostrar a leitura que faço sobre o assunto e, percebam: há um tanto de inquietação.
O cenário que vejo é esse: os pais pagam, até se endividam, para colocar seus filhos em boas escolas, para que passem direto do Ensino Médio para a Universidade. Não que esse seja o desejo desses jovens, mas tudo bem. Talvez alguns queiram morar fora por um tempo, fazer intercâmbio – talvez para aprender inglês, morar sozinho, trabalhar, ser independente. Não que não possam o fazer aqui no Brasil, mas tudo bem também.
Do outro lado, temos uma quantidade grande de escolas que querem números de alunos saídos diretos para a universidade. A que tiver o maior número ganha… o maior número de matrículas. O que vão fazer para conseguir isso, não importa. Sei que algumas características a seguir vão ser familiares a vocês.
Vamos colocar adolescentes que deveriam dormir dez horas/dia para iniciar os estudos às sete da manhã, e os ocupamos até o final da tarde. Aulas de sábado, simulados, 23 matérias, 22 provas – ainda é obrigatório ter educação física. Horas vagas usamos para estudar “Atualidades”, porque vai cair no ENEM.
Temos como resultado adolescentes estressados, que dormem mal, se alimentam mal, muitas vezes acima do peso, que não socializam e que, estranhamente, vão mal na escola (lá vai recuperação) – temos maus alunos.
Adolescentes cansados, frustrados, que serão adultos não muito diferentes disso. Será que essa é, de fato, a melhor educação para os nossos filhos? No consultório, recebemos jovens ansiosos, impotentes e escondidos atrás de sintomas. O que fazemos? Re-medicamos! Ansiedade e depressão são os hits do momento, junto do Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Então, empurramos esses (nem formados) jovens adultos para a universidade, mas nos decepcionamos quando vemos as notas ruins, as “cabuladas” para passar o dia no bar, as tais dependências: acabamos formando maus profissionais.
Nem paramos para pensar como estão essas cabeças. O que pensam, o que querem fazer de fato, se se acham capazes de fazer o que desejam. Não há tempo para formar cidadãos e ouvir suas individualidades, porque temos que aproveitar o tempo livre para ler “A Hora da Estrela” (verificação de leitura na terça, não esquece). Não me leve a mal, adoro Clarice e jovens lendo seus textos me enchem de alegria! Mas seria ainda melhor se pudessem ler pois assim o querem, e não porque vale nota.
Queremos nos desenvolver intelectualmente, muito mais que moralmente, mas temo que isso custe caro demais.
Será que faltamos naquela aula que ensina que pensar a longo prazo funciona mais? Que um cidadão coerente é mais útil à sociedade que uma aprovação na USP? Acho que nem temos essa aula – o que aprendemos é como EU posso ganhar mais dinheiro se EU tiver uma formação melhor. Não há mais senso de comunidade, eu sei.
Caímos nele, de novo, o dinheiro. Mas não sejamos injustos: as empresas não contratam cidadãos, contratam competências! Lembro bem, ninguém faltou nessa aula.
Imagem: Pinterest
Agnes Trama
Psicóloga (CRP 06/118164)
Especialização em Psicologia Perinatal (em formação)
Contato pelo e-mail:
agnestrama@uol.com.br
Facebook: /agnestramapsicologa
Instagram: @agnes.psicologa
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Meus parabéns!
Sou professor na de ensino privado e isso é um lamentável fato.
Essa formação para o mercado esmaga a cognição dos pequenos e, cada vez mais, parece um processo irreversível, afinal, por todos os lados é dito o que deve ser feito e como ser feito.
Que mais pessoas possam ter acesso a esse texto e possam entender de fato o que a escola deve propor.
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Obrigada pelo comentário, Henrique! Seja sempre bem-vindo por aqui e fique à vontade para compartilhar o texto! Créditos à autora, psicóloga Agnes Trama.
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Disponha, Ane.
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