Por: Psicóloga Ane Caroline Janiro
Diante de uma situação de superação como a de Rafaela Silva, judoca que ganhou a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016, temos uma ótima oportunidade para refletir sobre a influência do preparo emocional no enfrentamento de desafios.
A atleta falou em várias entrevistas que o trabalho psicológico que realizou durante quatro anos foi fundamental para que ela não desistisse da carreira, superasse a depressão e, agora, pudesse enfim atingir seu objetivo de ser medalhista. Após a desclassificação na Olimpíada de Londres em 2012 e todas as agressões racistas e cruéis que sofreu, Rafaela iniciou um acompanhamento psicológico e todos nós acompanhamos os frutos disso.
Muitas pessoas tem se questionado sobre a diferença de postura de atletas de diferentes modalidades em relação aos jogadores da Seleção Masculina de Futebol nessa Olimpíada, que realmente não parecem estar motivados tanto quanto gostaríamos e quanto estamos observando nas demais competições. É claro que todos os esportes são muito diferentes, ainda mais quando comparamos modalidades individuais com as de grupo, ainda assim, não podemos mesmo deixar de refletir sobre a falta que um acompanhamento psicológico faz na vida dos atletas, especialmente quando estes vem de um histórico de derrotas e frustrações.
Algumas tentativas já foram feitas com a Seleção Masculina de Futebol após a recente substituição da comissão técnica, porém, é preciso desfazermos um grande mito que ronda a Psicologia do Esporte (e as demais áreas de atuação da Psicologia): Psicólogo não faz milagres. Ou seja, é muito difícil que em um curto período de tempo e de contato com os atletas, seja possível recuperar um equilíbrio emocional que já está tão prejudicado. A nossa judoca Rafaela Silva é um exemplo claro disso: seu preparo emocional foi cuidadosamente trabalhado nesses quatro anos, um trabalho dedicado, constante, intenso, comprometido e, enfim, eficaz. Muitas seleções, times de futebol e também equipes de outros esportes já se convenceram dessa necessidade e o Psicólogo é parte fundamental da equipe de preparação dos jogadores, não apenas “convocado” quando se tem uma grande derrota ou quando se enxerga a necessidade de remediar às pressas o descontrole psicológico.
Outro exemplo claro é a Seleção Feminina de Futebol, que há dois anos se prepara física e psicologicamente para essa Olimpíada (leia +), enquanto que a masculina insiste em não aceitar essa necessidade e segue dispensando o apoio profissional, como em entrevistas em que a comissão técnica afirma que eles mesmos são capazes de preparar os jogadores emocionalmente (leia aqui). É muito evidente para nós, torcedores, a diferença comportamental entre as duas seleções, embora tenhamos ainda outras questões técnicas envolvidas no trabalho feito com as equipes.
Infelizmente, esse ainda é um pensamento comum entre a maioria das pessoas e o acompanhamento psicológico é visto por muitos como fútil. Nessa lógica, o Psicólogo é procurado quando já não se vê mais alternativas e a situação é tão grave que o que se espera é realmente que o profissional faça uma verdadeira mágica.
Falando de saúde mental, que o legado de nossa Rafaela, nossas jogadoras do futebol e tantos outros atletas nesses Jogos Olímpicos seja o de prevenção, preparo, investimento e comprometimento. Que tenhamos cada vez mais consciência da necessidade de cuidarmos de nossas emoções, assim como cuidamos de nossa saúde física.
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Sobre a autora:
Ane Caroline Janiro – Psicóloga clínica, idealizadora e editora do Psicologia Acessível.
CRP: 06/119556
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Ótimo texto!
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Obrigada, Andréia!! Abraços!
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EXCELENTE!
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Obrigada Adna!! Forte abraço!
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Ane, boa tarde! Sempre gostei de acompanhar seu trabalho e já comentei por aqui em outras oportunidades. Devido a outros projetos, que tem consumido meu tempo, não tenho conseguido ler todas suas postagens.
No dia da conquista da Rafaela eu assisti a luta e o equilíbrio emocional dela era nítido! Confesso que fiquei impressionada. Depois disso, vi a divulgação deste post no seu instagram, mas não consegui ler antes.
Hoje, em uma conversa com colegas de trabalho durante o almoço, comentei da minha percepção sobre a Rafaela e me lembrei do seu post e vim correndo ler!
Durante essa conversa no almoço, me despertou uma outra curiosidade que se aguçou ainda mais quando li seu post e gostaria de comentar com você.
A situação é a seguinte: agora, com as competições um pouco mais avançadas, é de se considerar que as conquistas do Brasil foram todas em esportes individuais. O que me fez questionar o trabalho em equipe, a cobrança excessiva do mundo corporativo de que as pessoas devem saber trabalhar em equipe.
Até que ponto o trabalho em equipe realmente traz resultados? Até que ponto ter toda uma equipe na linha de frente é vantajoso? Veja bem, ainda nos esportes individuais, apesar do foco ser 1 atleta, existe toda uma equipe nos bastidores, sem dúvida o atleta não conquistou sozinho. Mas no momento do combate era “só” ele!
Quando se trata de trabalho em equipe tanto nos bastidores quanto no combate, começo a me questionar se há possibilidade de sucesso!
E, trazendo para o mundo corporativo, porque as empresas não apoiam o trabalho individualizado na mesma proporção do trabalho em equipe, visto que ambos possuem abrangências e resultados diferentes?
Desculpe pelo texto longo, mas precisava expor esses questionamentos que, eventualmente, podem ser considerados um tanto polêmico para algumas pessoas!
Aguardo sua resposta!
Abraços!
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Olá Nayara, obrigada pela sua contribuição. Realmente podemos refletir bastante acerca deste tema e é bem interessante a ligação que você fez também com a área Organizacional, ou seja, do trabalho individual X trabalho em equipe nas empresas. Acredito que sim, seja possível conquistar bons resultados como equipe nos esportes e isso envolve muitos fatores que não somente o trabalho psicológico, também tem a ver bastante com entrosamento entre os competidores, o quanto eles se conhecem entre si, conhecem a forma de trabalho uns dos outros e estão mesmo realizando um trabalho conjunto ali no momento da disputa (além de outras questões técnicas envolvidas). Neste sentido, creio que o mesmo se aplique na área Organizacional, pois mesmo quando o trabalho em equipe faz parte da rotina, muitas empresas ainda preferem estimular mais a competição entre os funcionários (buscando quem se destaca mais) do que realmente manter o foco nos bons resultados do grupo. Assim, muitas pessoas encontram dificuldades para realizar bons trabalhos em equipe em seu ambiente de trabalho, pois além da pressão pelos resultados, ocorre a competição entre pares, o que não condiz com a ideia de cooperação. Muitos bons talentos são desperdiçados dentro das empresas porque muita energia é gasta com competições desnecessárias ao invés de se estimular a parceria visando melhores resultados.
Vejo que muitas pessoas trabalham melhor individualmente do que em grupo e também para isso as empresas precisam se atentar. Na verdade, o modelo empresarial como conhecemos vem sofrendo muitas transformações com essas gerações mais novas, que preferem abrir mão do excesso de pressão, cumprimento de determinadas regras, horários, de competições internas por apenas entregar bons resultados. A partir daí vemos que as empresas mais atualizadas sequer exigem que seus colaboradores estejam no escritório físico todos os dias, contanto que cumpram metas e apresentem bons projetos. Bem, acho que ainda poderíamos refletir bastante sobre esse tema rs. Estou à disposição. Abraços!!
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